'Temos muito que avançar em relação à divulgação e a ampliação da cobertura dos nossos serviços', afirmou Eliana Gutierrez, coordenadora do Programa 

 

Por Keyla Santos

De cada 100 paulistanos,  46 não utilizaram preservativos no último ano. É o que revelou, na última sexta-feira (27/06), a Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas na População do Município de São Paulo (PCAP-MSP), realizada pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), por meio do Programa Municipal de DST e Aids. Os dados apontam que 97% das 4.318 pessoas entrevistadas concordam que o preservativo é a melhor maneira de evitar a transmissão do HIV, mas 46% do total não utilizaram preservativos no último ano. O trabalho visa orientar e melhor direcionar para o enfrentamento dessas epidemias.

O estudo traçou um perfil do grau de conhecimento da população em relação à infecção pelo HIV, outras doenças sexualmente transmissíveis e hepatites B e C. Também procurou conhecer aspectos relativos à saúde sexual e reprodutiva, sobre a cobertura de testagem para HIV, Sífilis, Hepatites B e C e as situações de vulnerabilidade enfrentadas pela população nas diferentes regiões de São Paulo.
Foram entrevistadas pessoas de ambos os sexos, de 15 a 64 anos, moradores das cinco regiões do Município (Norte, Sul, Leste, Oeste e Centro-Oeste). A amostra foi selecionada com base no Censo 2010 e respeitou o preenchimento das cotas, compostas pelas variáveis: sexo, faixa etária e situação conjugal. A testagem para o HIV é um potente instrumento de prevenção, no entanto, apenas 35% dos participantes fizeram o teste alguma vez na vida e 46% não sabem onde fazer um exame gratuito.

‘Temos uma epidemia que continua avançando’

Para a coordenadora do Programa Municipal de DST/Aids, Eliana Battaggia Gutierrez, esses números revelam uma oportunidade de melhoria. “Temos uma epidemia que continua avançando, principalmente entre jovens gays, e observamos que o número de pessoas testadas é realmente muito pequeno. Gostaríamos de ter 100%, esperamos alcançar 90% e para isso teremos que trabalhar muito e arduamente”, disse a coordenadora.

Segundo Boletim Epidemiológico, São Paulo possui mais de 11 milhões de habitantes, concentra 12,3% dos casos de Aids no Brasil e vive uma epidemia de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST). No Brasil, estima-se que aproximadamente 718 mil pessoas vivam com HIV/Aids - taxa de prevalência de 0,4% na população em geral sendo que os diagnosticados estão em torno de 80% (574 mil).

Para Eliana, o que chama a atenção é o desconhecimento das pessoas sobre a disponibilidade do teste gratuito nas unidades públicas de saúde. “Temos muito que avançar em relação à divulgação e a ampliação da cobertura dos nossos serviços”, afirmou.

Entre os entrevistados, dos 94% que declararam já ter iniciado a vida sexual, apenas 39% usaram o preservativo na primeira relação. Em relação às DST, 4% das mulheres e 8% dos homens tiveram pelo menos uma doença sexualmente transmissível na vida.

Para o especialista em DST e assessor técnico do Programa Municipal DST/Aids, Valdir Monteiro Pinto, o trabalho é importante para apontar os pontos fracos e fortes do Programa, para fazer ações programáticas e melhorar a saúde da população como um todo. “Os dados que me chamaram mais atenção nesta pesquisa foram os relacionados às mulheres mais maduras, que nunca passaram num ginecologista, sendo que temos uma rede”, disse.
 

 

Números divulgados

 

Conhecimento sobre HIV e Aids

- 97% dos entrevistados concordam que o preservativo é a melhor maneira de evitar a transmissão do HIV
- 30% concordam que o tratamento antirretroviral reduz este risco

Preservativo

- 46% não tiveram acesso ao preservativo no último ano
- 37% dos que tiveram acesso compraram em farmácia e 21% receberam gratuitamente
- 90% conhecem o preservativo feminino, mas apenas 12% das mulheres tiveram acesso gratuito a ele no último ano
- 94% declararam ter iniciado a vida sexual no período da pesquisa. Desse total, 39% usaram preservativo na primeira relação
- 86% relataram relação sexual no último ano. Desse total, 46% usaram preservativo na última relação, 44% usaram preservativo com parceiro fixo e 87% com parceiros casuais

Uso de drogas

- 93% dos entrevistados acreditam que álcool e outras drogas podem fazer com que a pessoa transe sem preservativo
- 23% informaram que isso já aconteceu com eles
- 82% responderam que já fizeram uso de drogas alguma vez na vida. Desse total, 81% usaram álcool, 20% maconha, 9% cocaína e 2% crack

Relações com pessoas do mesmo sexo

- 9% dos homens e 4% das mulheres já tiveram relação com pessoas do mesmo sexo alguma vez na vida

Testagem para o HIV

- 35% fizeram o teste de HIV alguma vez na vida
- 46% não sabem onde fazer um teste de HIV gratuito
- 89% classificam seu risco de contrair HIV como baixo ou inexistente

Estigma e discriminação

- 75% dos entrevistados acreditam que um casal gay tem o direito de adotar uma criança
- 90% concordam que uma pessoa com Aids dê aulas
- 29% não comprariam legumes ou verduras de uma pessoa com Aids
DST
- 4% das mulheres e 8% dos homens tiveram pelo menos uma DST na vida
- 80% dos que tiveram DST fizeram algum tipo de tratamento
- 84% das mulheres e 61% dos homens procuraram um médico
- 2% das mulheres e 23% dos homens procuraram um farmacêutico

  Foto: Edson Hatakeyama