Seminário do Plano Juventude Viva debateu propostas de melhorias para Saúde

Debate pensou formas de atrair a juventude para os equipamentos de Saúde

Jovens puderam participar da discussão expondo suas demandas e realidades

Por Tatiana Ferreira

Escolhida para implantar o Plano Juventude Viva em São Paulo por apresentar dois dos maiores índices de violência contra os jovens negros, a região Sul resolveu dar início ao processo de enfrentamento às situações de violência física e moral pela área da Saúde.

No último dia 6 de agosto, a Secretaria Municipal da Saúde, por meio da Coordenadoria Regional de Saúde Sul e em parceria com as Secretarias Municipais de Promoção da Igualdade Racial e Direitos Humanos e Cidadania/Coordenação da Juventude realizou o Seminário “Saúde Ampliada e suas diversas linguagens com a Juventude e trabalhadores da Saúde”.

Um dos objetivos foi aproximar os profissionais da saúde das demandas e questões trazidas pela população jovem da região. Assim, pretende-se criar um campo favorável para formular um conjunto de iniciativas e projetos para esta população que supere a visão tradicional, que promova práticas inovadoras, contribuindo para a desconstrução dos preconceitos, colocando o jovem como coparticipante desse processo.

Na ocasião, cerca de 200 pessoas, entre gestores e profissionais da saúde, além da comunidade, representada por coletivos e grupos juvenis do território de Campo Limpo e M’Boi Mirim, compareceram ao CEU Casa Blanca, no Campo Limpo. Eles apresentaram e debateram propostas para o Plano Juventude Viva.

Na abertura do evento, a mesa inicial contou com a presença de Tania Zogbi Sahyoun, Coordenadora Regional de Saúde Sul; Valdete Ferreira dos Santos, representando a Secretaria Municipal de Saúde/Área Técnica de Saúde da População Negra; Simone Nascimento, Secretaria Municipal da Promoção da Igualdade Racial; Gabriel Medina de Toledo, Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania/Coordenação da Juventude e Uvanderson Vitor da Silva, pelo Comitê Plano Juventude Viva.

Segundo a coordenadora Tania Zogbi, o seminário é uma oportunidade importante de ficar mais perto do público-alvo. Além disso, ela espera que a experiência possa servir de referência para outros territórios do município. “Temos que nos envolvermos, ouvir mais os jovens, criar propostas de melhorias e de ações em conjunto com ele, para construir sim, uma agenda que possa interessar a esses jovens. Este seminário é o momento inicial de aproximação deste processo. Espero que consigamos dar continuidade de uma forma interessante e, quem sabe, por sermos os primeiros territórios a implantar o plano possamos servir de modelo e que outras regiões possam aproveitar nossas ideias”, afirmou.

‘UBS não é só para cuidar’

Juventude subiu ao palco para relatar experiências com a área da Saúde

 

Após as falas iniciais, a comunidade foi chamada ao palco para relatar experiências com a Saúde. Entre os que subiram ao palco estavam Karina Ivo (Moradora do Jardim Ângela), Marcos Vinicius Martins Nascimento (Grupo de Skatista e usuário da UBS Cidade Ipava), Gilson Alves Garcia (Comitê da Sociedade Civil do Plano Juventude Viva) e Hayara Alves (Grupo Metamorfose do Rap).

Karina Ivo, de 21 anos, relatou experiência de atendimento no Hospital de M’Boi Mirim e como foi ficar longe da filha durante um período no qual ficou internada por conta de uma cirurgia de apêndice.

Já Marcos Vinicius falou da experiência de ouvir uma palestra sobre saúde. “Normalmente, o jovem não quer ouvir palestras de profissionais da saúde porque eles usam muita linguagem técnica. A gente não entende o que eles querem dizer. Mas, recentemente, vi uma palestra diferente, que a pessoa falou de uma forma mais simples. Foi legal porque a gente aprendeu a importância dos exames e que a UBS não é só para cuidar, que ela realiza um trabalho de prevenção muito importante”.

Os demais oradores cobraram melhorias no SUS e deram dicas por onde começar os investimentos: trabalhar para cada vez mais ter uma escuta mais qualificada nas unidades, aproximar mais com o jovem, pois ele também quer fazer parte do processo; pensar na prevenção ao consumo de drogas, pois há muitos jovens que ainda morrem de overdose nas periferias e realizar uma aproximação ainda maior com a Educação.

Para encerrar a primeira parte dos trabalhos, o grupo de teatro “Quereres” fez a apresentação da peça “Mas....ele me ama”. A obra apresenta, de forma bem humorada e com uma linguagem jovial, temas como gravidez na adolescência, relação homossexual, prevenção às Doenças Sexualmente Transmissíveis e sexo seguro, entre outros assuntos.

Na sequencia, os participantes do evento foram divididos em seis grupos de trabalho. Em seguida, seguiram para outras salas onde debateram estratégias para aproximar o jovem das Unidades Básicas de Saúde e sobre como ampliar a comunicação com os jovens usando a linguagem deles.

Na volta ao auditório, um representante de cada grupo expôs o resultado do debate com cada grupo. André Luiz, da TV Web Capão, apresentou o resultado da discussão de um dos grupos. Segundo eles, é preciso identificar entre os profissionais da unidade, qual tem mais afinidade com a linguagem do jovem, pois este profissional poderá ser elo entre a Saúde e os jovens.

Na fala de encerramento, Vera Maria da Silva Ribeiro, da Assessoria Técnica do Gabinete da CRS Sul, deu os parabéns a todos os presentes. “A Coordenadoria Regional de Saúde Sul, através das Supervisões de Campo Limpo e M’Boi Mirim, saiu na frente para implantar o Plano Juventude Viva visando melhorar cada vez mais a assistência prestada aos jovens. Trabalhar este tema, que envolve o jovem excluído e vulnerável, é difícil e se constitui em um grande desafio a ser trabalhado e estamos juntos buscando formas de superá-los. Por isso, quero agradecer a todos que estão aqui hoje, pois estamos fazendo uma construção conjunta, valorizando a participação popular e o saber técnico. Somos vitoriosos”.

A apresentação musical do “Pancadão de ideias” e “Sarau Preto no Branco” fechou o evento com música de qualidade feita pelos jovens do território.

Experiências exitosas

Há mais de cinco anos a UBS Cidade Ipava, localizada em M’Boi Mirim, realiza um trabalho na região junto à população adolescente. Intitulado “Projeto Perspectivas”, o trabalho surgiu durante o desenvolvimento das ações das equipes de Estratégia de Saúde da Família da UBS, que constatou a existência de grande quantidade de adolescentes grávidas no território.

No início, a estratégia adotada para reverter este cenário foi a implantação de Grupos Educativos. Ao longo do tempo eles foram sendo percebidos como pouco atrativos aos jovens, apesar de todos os esforços dos multiprofissionais envolvidos.

“O formato tradicional dos Grupos Educativos, realizados na própria UBS Cidade Ipava, não apresenta os resultados esperados. Um resultado semelhante se repetiu quando foram experimentados em outros locais. Mesmo durante a realização de Visitas Domiciliares, foi constatado que o adolescente demonstrava não estar à vontade para discutir suas duvidas e dificuldades o ambiente familiar de sua casa. Os melhores e mais surpreendentes resultados foram obtidos quando esses encontros passaram a acontecer no ambiente escolar”, conta o gerente da Unidade, Sidney Rodrigo Balada Galarce.

A partir desta constatação, a gerência da UBS Cidade Ipava e a diretoria da Escola Municipal de Ensino Fundamental Teresa Margarida da Silva e Orta envolveram suas forças de trabalho para desenvolver ações conjuntas. Desde o início de 2009, essa integração intersetorial, unindo a educação e a saúde da região, tem dado certo.

Os números mostram uma redução significativa no percentual anual de gestantes menores de 20 anos. Em 2009, quando o trabalho teve início, 20,12% das jovens ficavam grávidas. Em 2013, o número caiu para 19,79%. Em 2014, até o final de julho, o número está ainda menor: em 15, 96%.

Para Sidney, a equipe de profissionais da UBS Cidade Ipava não se acomodou dentro dos limites de suas rotinas de trabalho. “Procurou por estratégias inovadoras, a fim de encontrar os meios necessários para assistir todas as pessoas da população. Atualmente, consegue aproximar-se dos adolescentes, após ter desbravado caminhos diversos e diferentes na procura de novos resultados”, afirmou.

Outro resultado, fruto direto do Seminário, é após o encerramento do evento, a gerente da AMA Capão Redondo, Nadja França, conversando com um grupo de jovens, descobriu que eles desconheciam a existência da unidade.

A gerente, então, convidou o grupo para seguir diretamente para unidade, onde o equipamento seria apresentado a eles e os jovens recebessem explicações sobre os tipos de serviços oferecidos pela AMA.

Plano Juventude Viva

O Juventude Viva é um plano de prevenção à violência contra a juventude negra. Sua missão é reduzir a vulnerabilidade dos jovens negros da periferia às situações de violência física e moral.

O plano foi elaborado pela Secretaria Nacional de Juventude da Secretaria-Geral da Presidência da República e pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República. O documento integra o Programa de Metas da Prefeitura de São Paulo.

No Município de São Paulo, o plano está sob a responsabilidade da Coordenação de Políticas para a Juventude da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), em parceria com a Secretaria Municipal da Igualdade Racial (SMPIR).

Para substituir a cultura de violência por uma cultura de promoção de direitos aos jovens do Município, o Plano Juventude Viva se propõe a levar aos territórios mais vulneráveis um conjunto integrado de Políticas Públicas Municipais e Federais que promovam a inclusão social e a garantia de direitos.

São previstas ações que envolvem a oferta de equipamentos e serviços públicos, a criação e a valorização dos espaços de convivência em regiões com altos índices de homicídios, o enfrentamento do racismo institucional e a sensibilização dos agentes públicos perante a questão.

As ações serão implementadas prioritariamente nos territórios mais vulneráveis, selecionados com base nos índices de concentração de jovens, mortalidade de jovens negros, óbitos por intervenção legal e índice de Desenvolvimento Humano.