Mulheres têm maior propensão a distúrbios na tireoide

Frequência do hipotireoidismo aumenta com idade e predomina no sexo feminino, principalmente depois ou durante o climatério

Por Keyla Santos

O corpo humano é uma máquina fantástica, composta por engrenagens que permitem a locomoção, despertam emoções e são responsáveis pelo desenvolvimento. Entre os órgãos vitais há a glândula tireoide, situada na parte da frente e inferior do pescoço. De acordo com Anete Hannud Abdo, endocrinologista e assistente da Área Técnica de Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas Não Transmissíveis e Saúde do Homem, da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), essa glândula produz e lança no sangue os hormônios triiodotironina (T3) e tiroxina (T4). Eles são um tipo de pedal do acelerador de um carro: seu excesso (hipertireoidismo) ou sua falta (hipotireoidismo), respectivamente, aceleram ou desaceleram o metabolismo e as reações químicas que acontecem no interior das células para gerar energia.

De acordo Stella Vecchiatti, endocrinologista e coordenadora da Clínica de Endocrinologia do Hospital do Servidor Público Municipal (HSPM), as doenças tireoidianas afetam cerca de 12% da população. A prevalência é maior no sexo feminino e aumenta a frequência com o passar dos anos, assim como a presença dos anticorpos antitireoidianos. “Nos Estados Unidos, a prevalência de hipotireoidismo primário (causado pela falência da glândula) é de 4,6%, do hipertireoidismo de 1,3% e a de anticorpos anti-tireoperoxidase (ATPO) é de 13%”, disse Stella.

No município de São Paulo, os atendimentos com Classificação Internacional de Doenças (CID) para transtornos da glândula tireoide em estabelecimentos da SMS totalizaram 39.249 entre outubro de 2012 a setembro de 2013. Já as autorizações de internação hospitalar com CID de transtornos da glândula tireoide (nos casos mais graves) nos mesmos estabelecimentos alcançaram o número de 65 em 2013 e, de janeiro a agosto deste ano, contabilizam 65 internações.

Alterações da tireoide

Stella alerta que a frequência do hipotireoidismo aumenta com a idade e predomina no sexo feminino, principalmente depois ou durante o climatério (período onde ocorrem as alterações hormonais da mulher). “O hipertireoidismo pode se apresentar em qualquer idade, mas também predomina nas mulheres ao redor dos 30 anos”, disse.

Entre as causas que podem desencadear alterações na tireoide estão as ambientais. “Vários fatores ambientais como tiocianatos (substância presente no tabaco), iodo em doses acima da necessidade diária ou sua suplementação para o tratamento do bócio endêmico, estresse e alguns fármacos como amiodarona 22 e lítio têm sido implicados como fatores de risco no desenvolvimento de autoimunidade da tireoide e desenvolvimento de hipotireoidismo”, explicou Stella.

A endocrinologista do HSPM explica que os hormônios tireoidianos agem nas funções do coração, cérebro, fígado e rine e têm ação no ciclo menstrual, na fertilidade, no crescimento e desenvolvimento das crianças e adolescentes, na memória e concentração, no humor e controle emocional, no trofismo da pele, cabelos e unhas dentre outras funções. “Essa pequena glândula tem ações em praticamente todo nosso organismo”, afirmou.

Nódulos na tireoide

Segundo Anete, ao realizar o exame de ultrassom, metade da população maior de 40 anos apresenta nódulos. “Estima-se que 5% a 10% da população desenvolvam um nódulo palpável ao longo da vida. As mulheres são campeãs: os nódulos são quatro a oito vezes mais frequentes no sexo feminino.

No entanto, mais de 90% dos nódulos de tireoide são benignos. “Em alguns casos é necessário fazer uma punção para analisar as suas células para esclarecer o diagnóstico”, afirmou Anete.

Além de certas características dos nódulos no ultrassom, alguns dados de história e exame físico podem ser úteis para esclarecer esta dúvida. Assim, existe uma chance maior de um nódulo ser canceroso nas seguintes situações:

- História de câncer de tireoide em familiares;
- Exposição à radiação;
- Rouquidão;
- Falta de ar;
- Nódulo que aparece antes dos 20 ou após os 60 anos;
- Nódulo grande, de crescimento progressivo, de consistência muito dura à palpação;
- Presença de gânglios aumentados no pescoço.

“Em geral, o câncer de tireoide tem um ‘comportamento benigno’ e pode ser tratado com sucesso pela cirurgia, sem necessidade de quimioterapia ou radioterapia. Mas uma recomendação deve ser seguida: nunca abandonar a medicação prescrita e fazer sempre o acompanhamento médico periódico”, finalizou Anete.