Yandara nasceu pelas mãos da parteira que deu nome à Casa Angela, onde hoje trabalha

Casa de parto promove nascimentos humanizados naturais pelo Sistema Único de Saúde (SUS)

Aos 27 anos, Yandara Arruda Botelho já atuou em 394 nascimentos desde que se formou obstetriz pela Universidade de São Paulo (USP). Hoje trabalha na Casa Angela, parceira da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) para nascimentos humanizados naturais pelo Sistema Único de Saúde (SUS), na capital.

Crescer ouvindo a história do seu nascimento a encantava. Yandara nasceu pelas mãos da alemã Angela Gehrke da Silva (1955-2000), uma das mais importantes parteiras do Brasil, que deu nome à Casa Angela - Centro de Parto Humanizado.

Um homem está sentado atrás de uma mulher vestida de branco, que está segurando um recém-nascido no colo. Em frente a ela, está uma mulher virada de costas, olhando para o bebê.

O nascimento de Yandara, em 1994, com o apoio da parteira Angela Gehrke (Foto: Arquivo Pessoal)

Nas décadas de 80 e 90, Angela já oferecia assistência para mulheres da comunidade Jardim Monte Azul e região, e no Ambulatório Médico Terapêutico da associação local, onde hoje funciona a casa de nascimentos humanizados na capital, parceira do SUS.

Quando ainda cursava o ensino médio, Yandara enxergou ali um caminho. “Um dia, lendo uma revista sobre cursos de graduação, descobri a faculdade de obstetrícia, e que não precisaria cursar enfermagem ou medicina para ser parteira”, conta. Na mesma época, ela e a mãe souberam da criação do centro de parto humanizado na capital. “Uma amiga nossa trabalhava lá e encontrou as fotos do meu nascimento, então fomos conhecer a Casa Angela. Naquele dia, pensei: “Ainda vou trabalhar aqui nesse lugar”, revela.

Logo que entrou na faculdade, a jovem teve a certeza de ter feito a escolha certa. O estágio em regiões periféricas, lidando com pessoas mais vulneráveis, a fez para o trabalho pelo SUS. “Sempre foi algo que eu tinha como uma missão na vida, estudei em escola pública, em universidade pública, então poder proporcionar isso para mulheres que realmente precisam foi a forma que encontrei de retribuir.”

Uma mulher vestindo uma blusa de mangas longas branca com estampa de bolinhas pretas está tecendo cordas, que estão penduradas em um suporte no alto.

A obstetriz fazendo Macramê, arte que exercita a habilidade de tecer sem agulhas (Foto: Arquivo Pessoal)

No ano seguinte à formatura, em 2017, Yandara começou a trabalhar em uma maternidade particular, em Bebedouro, interior de São Paulo. Lá percebeu uma outra realidade, as taxas de cesariana eram muito altas. Foi aí que passou a integrar o projeto “Parto Adequado”, de incentivo ao aumento de partos normais na unidade de saúde. “A cesariana é um procedimento necessário, quando realmente tem alguma indicação clínica. O corpo, assim como foi capaz de gestar, pode parir”, explica a obstetriz.

Foi nesta maternidade que um dos mais emocionantes partos da trajetória de Yandara foi realizado. Uma gestante que tinha muito medo de parto natural e, ao mesmo tempo, desejava essa experiência por já ter passado por uma cesariana, chamou a atenção da obstetriz. Desde que se conheceram nas rodas de conversa do projeto, a conexão entre as duas aconteceu, Yandara queria muito estar ao lado dela no nascimento do bebê. Porém, como plantonista a distância, não havia como planejar isso. “Quando cheguei ao hospital, depois de me ligarem, ela já estava na sala de parto, concentrada, fiquei muito feliz ao ver que era aquela gestante do grupo.” Foi o tempo de se juntar à equipe, ajudar nos preparos da grávida e, em questão de minutos, o bebê nasceu. A mãe, emocionada, agradeceu assim que tudo terminou: “Que bom que era você que estava aqui comigo.”

Uma profissional de saúde vestindo uniforme azul está usando máscara branca de proteção. Ela posa ao lado de um casal. A mulher tem cabelos rosas, está usando máscara de proteção preta e segura um recém-nascido no colo. Ao lado dela, está um homem de máscara de proteção listrada e camisa preta.

 

Yandara com os pais de uma das bebês nascidas com o auxílio dela, na Casa Angela (Foto: Arquivo Pessoal)

Com a experiência adquirida nessa maternidade, em junho de 2018, Yandara foi trabalhar no Hospital Regional de Itanhaém, litoral sul de São Paulo, onde atuou na maioria dos partos da sua carreira. Nesse meio tempo, participou de dois processos seletivos para a Casa Angela. “Mesmo passando na primeira fase da seleção, pela pouca experiência que tinha, a vaga ainda não estava ao meu alcance”, conta. Em dezembro de 2020 veio a surpresa. “Fui convidada para uma entrevista lá e, dois dias depois, ligaram para contar que o emprego era meu, não acreditei, foi muita emoção.”

Realizada na Casa Angela, Yandara encontrou propósito na profissão. Durante a pandemia, ela tem feito o primeiro atendimento às gestantes na casa de parto. Mas, ao saber que será mãe da primeira filha, o trabalho remoto teve de substituir o presencial. “Estou na torcida para que tudo se encaminhe para um parto natural e em casa”, planeja.