Maria Fernanda conta como superou barreiras e se encontrou no SUS

A estudante trabalha com a equipe de saúde mental na Coordenadoria Regional de Saúde Norte

O estágio é a forma de aplicar na prática o que se aprende na universidade e conhecer realmente o que é o mercado de trabalho, ampliando os conhecimentos para além da profissão escolhida. Nesta última quarta-feira (18), Dia Nacional do Estagiário, a história da aluna do terceiro ano da graduação de saúde pública, da Universidade de São Paulo (USP), Maria Fernanda Paiva, 24 anos, é permeada de resistência e superação. A estudante trabalha com a equipe de saúde mental na Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) Norte, e demonstra orgulho em percorrer no Sistema Único de Saúde (SUS) da capital o caminho para a profissionalização.

Em 2017, aos 20 anos, Maria Fernanda saiu da casa dos pais para morar em uma república, na cidade de Santos, e cursar fisioterapia na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A rotina de estudos em tempo integral, a saudade da família e todas as outras dificuldades que uma jovem pode encontrar nesse momento da vida para ela tiveram um componente a mais: o preconceito sofrido por ser negra a abalou emocionalmente. “Pela primeira vez na vida, tive que dividir um apartamento com pessoas que não eram os meus pais e assumir tarefas com as quais não estava acostumada. Isso, além do racismo sentido na cidade me levou ao desinteresse pela graduação em fisioterapia”, conta a estagiária que decidiu prestar um novo vestibular, abandonando não somente a faculdade, como uma iniciação científica em bioquímica.

Dois anos depois, Maria Fernanda era a mais nova aluna da Faculdade de Saúde Pública da USP. Os mesmos obstáculos enfrentados anteriormente estavam lá, mas dessa vez ela os encarou com a certeza de que tinha feito a escolha certa. E os novos colegas de classe contribuíram para que isso acontecesse, inclusive indicando para a estudante uma oportunidade de estágio na Secretaria Municipal da Saúde (SMS), onde está desde maio último. “Minha colega já era estagiária lá e perguntou se eu e outras duas amigas estávamos interessadas. Como ela sempre falou muito bem desse estágio, enviei o currículo.”

Uma jovem negra com máscara de proteção branca e uma jaqueta de couro está sentada em frente a um computador. Ela usa óculos de grau e está olhando fixamente para a tela. Atrás dela, há uma parede com duas janelas, uma impressora branca apoiada em uma mesa amarela e itens de decoração.

Maria Fernanda se encontrou em um estágio na Secretaria Municipal da Saúde (Foto: Arquivo Pessoal)

Na CRS Norte, Maria Fernanda ocupa uma vaga administrativa que vai exatamente ao encontro do que estuda atualmente. “Neste ano eu tenho muitas matérias de gestão. Praticamente tudo que aprendi na teoria, vi na prática dentro do SUS. Termos que são utilizados na rede, processos de trabalho, relação sobre o que é privado e o que é público na saúde fará toda a diferença, quando eu sair daqui para o mercado de trabalho”, avalia a jovem. Além de tudo, ela se sente acolhida no ambiente de estágio. “Todo mundo aqui me recebeu muito bem e eu não fico só na saúde mental, posso acompanhar outras atividades, tirar dúvidas com todas as áreas, tenho autonomia para circular e aprender com todos os interlocutores e isso é muito bom.”

E não é que no fim das contas Maria Fernanda acredita que ter desistido daquela graduação, da iniciação científica e de uma suposta independência por viver em outra cidade foi o melhor que ela poderia ter feito pela sua saúde mental? Graças a essa atitude diante da vida, se sente feliz por onde está hoje. “Recomeçar é sempre possível”, conclui a futura sanitarista.

No coletivo negro, Carolina Maria de Jesus, na USP, Maria Fernanda participa de reuniões e debates sobre igualdade racial. A iniciativa promove o acolhimento dos estudantes negros da Faculdade de Saúde Pública e o orgulho de serem universitários e um dia se tornarem profissionais de saúde.