Eunice encontrou na função de agente comunitária o caminho para exercer a vocação de cuidar das pessoas

Há 19 anos na UBS Jardim Sapopemba, ela conta mais sobre o seu trabalho e a atuação do SUS na capital paulista

Desde o início da pandemia de Covid-19, os agentes comunitários de saúde (ACSs) têm tido uma importância ainda maior na vida das pessoas atendidas em cada região da cidade. Seja nas ações educativas nos bairros, que já abordaram mais de sete milhões de moradores na capital para falar de cuidados que ajudam a evitar o contágio pelo coronavírus, com a distribuição de máscaras e álcool em gel, ou nas ações de voluntariado, como as do Cidade Solidária, da prefeitura, esses profissionais têm feito a diferença no combate à pandemia.

Agente há 19 anos na Unidade Básica de Saúde (UBS) Jardim Sapopemba, Eunice Aparecida Carvalho dos Santos, 56 anos, integra esse time com orgulho. O trabalho na UBS foi uma oportunidade única, segundo Eunice, que até hoje agradece uma vizinha por tê-la convencido a prestarem juntas o processo seletivo para a saúde municipal. “No fim, me encontrei na profissão. Era para ser mesmo porque a minha vizinha acabou nem se apresentando para a vaga que conquistou”, constata.

Para ela, o SUS ofereceu a chance de exercer a generosidade e a vocação para cuidar das pessoas. Como todo ACS, ela faz visitas domiciliares aos munícipes que moram perto da UBS para cadastrá-los para o atendimento na unidade. Dessa forma, as equipes podem atuar com a promoção da saúde e a prevenção de doenças conhecendo o histórico de todos que vivem naquela residência e que subsidia a Estratégia de Saúde da Família (ESF), do Sistema Único de Saúde (SUS). Com esse cadastro, a agente prepara o cartão da família e passa a visitá-la mensalmente ou conforme a necessidade. “Falamos das doenças como a dengue e a Covid-19, sobre a importância de exames preventivos como o papanicolau e explicamos para as pessoas o funcionamento dos serviços na UBS”, relata.

Na imagem, estão seis mulheres em pé vestindo aventais azuis, uniforme de agentes comunitários da saúde. Em frente, estão duas mulheres sentadas e uma abaixada, todas usando jalecos brancos. Elas estão atrás de uma mesa cinza que tem um monitor de computador preto apoiado.

Com parte da equipe da UBS Jardim Sapopemba. Da esquerda para a direita: Eunice, Ana Carolina, Liamar, Kailaine, Andrea, Elaine, Vanessa, Patrícia e Claudenice (Foto: Arquivo Pessoal)

A rotina de visitas às casas segue o protocolo de segurança: distanciamento, uso de máscaras e de álcool em gel. “Eu tenho ficado mais na UBS, ajudo lá, mas quando vou até uma casa, falamos do portão, da garagem, para não entrar nas casas das pessoas nesse momento em que estamos”, diz. No auge da pandemia, ela encontrou uma forma de continuar ajudando a comunidade e chegou a arrecadar doações de alimentos para quem precisava no auge da pandemia. Por essa e outras ações, foi um dos funcionários da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) homenageados no Prêmio Cidade de São Paulo, em abril deste ano.

Campanha de vacinação antiCovid

Os agentes comunitários de saúde também têm tido papel crucial na campanha de vacinação antiCovid na capital. Eles reforçam à população a importância de todos se imunizarem e atuam na busca ativa dos faltosos para receber a segunda dose e completar o esquema vacinal, além de esclarecerem dúvidas sobre o assunto com base nas orientações que recebem das chefias nas Coordenadorias Regionais de Saúde (CRSs).

Um caso que marcou a agente nesse período de pandemia foi o de uma mulher que, infectada pelo coronavírus, passou a ser monitorada pela UBS Sapopemba. Como a doença na paciente evoluiu para a internação, o filho dela, de cinco anos de idade, com quem morava, não teria como ficar sozinho. A agente logo quis se prontificar a cuidar do menino, mas como a sua função não permitiria tal gesto, ajudou a família fazendo a interlocução com uma vizinha, que acolheu o garoto até a alta da mãe. Deu tudo certo, a paciente voltou para casa e para o filho após 20 dias, curada da Covid-19.

Eunice aprendeu a importância da empatia e da solidariedade na prática, com as adversidades que ela e os familiares enfrentaram. Nascida na cidade de Três Fronteiras, no interior de São Paulo, ela se mudou para a capital com a família aos seis anos de idade. Quando chegaram, só dois dos cinco irmãos dela trabalhavam. O pai tinha problemas no coração e não estava conseguindo um emprego, então passou a vender materiais recicláveis que coletava na rua. A situação financeira difícil fez com que a menina fosse logo ajudar o pai, puxando o carrinho e catando papelão aos oito anos. “Meus irmãos se casaram e foram embora, a minha mãe ajudava meu pai também. Com dez anos, comecei a trabalhar em casa de família”, conta.

Casada há 35 anos com Alcebíades, que conheceu já trabalhando em um mercado, Eunice é mãe de quatro mulheres. Michelle e Kelly são filhas biológicas do casal. Denise e Daniela foram adotadas por eles após perderem precocemente a mãe e terem passado por uma situação de violência quando estiveram sob os cuidados de uma tia, que Eunice conhecia. Até os cinco anos, as meninas ficaram com o pai que voltou pra Bahia e faleceu algum tempo depois. “Foi muito difícil para elas passarem por tudo isso. Eu não tinha escolha, tinha que cuidar delas. Minha vida sempre foi muito difícil, mas eu recebi amor. O meu sofrimento me fez querer ajudar as pessoas e eu dedico meu trabalho como agente de saúde a isso.”