A bióloga Caroline conta como a ciência a colocou em duas frentes de combate na pandemia: do coronavírus e das fake news

Ela atuou em diferentes áreas da saúde pública e, durante a pandemia, teve papel importante na detecção do vírus em profissionais de saúde

A pesquisa científica é um dos principais pilares do combate à Covid-19 desde o início da pandemia. Os imunizantes, que estão sendo aplicados na população com resultados eficazes contra o novo coronavírus chegaram ao braço das pessoas graças à ciência. O Laboratório de Zoonoses e Doenças Transmitidas por Vetores (Labzoo), da Divisão de Vigilância de Zoonoses (DVZ), que integra a Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa), é uma dessas frentes de pesquisa e diagnóstico, na capital, contribuiu para o retorno ou isolamento dos profissionais de saúde para a linha de frente ao aplicar testes rápidos (RT-qPCR). Nessa equipe está a bióloga Caroline Cotrim Aires, coordenadora do laboratório desde 2018. A experiência de trabalhar na saúde pública com vigilância em saúde e pesquisa científica aplicada em um momento tão crucial como esse de crise sanitária, segundo ela, é imensurável.

Já na graduação Caroline fez o primeiro estágio no Labzoo, em 1997. Depois de 21 anos, retornou para assumir a atual função. Na pandemia, ela acompanhou os estudos do vírus desde o início e colaborou na implantação dos exames por RT-qPCR para detecção do vírus por Sars-Cov-2, responsável pela Covid-19 no município. “Quando a primeira pessoa foi infectada pela doença, houve muitas opiniões sobre como ocorreu a transmissão, principalmente envolvendo os morcegos”, lembra a bióloga, que é uma estudiosa do animal e, nessa fase, começou a rebater notícias falsas que relacionavam os morcegos à disseminação do novo coronavírus. “Como os morcegos são animais muito temidos pela população e relacionados a doenças e até ao misticismo, sempre fazemos campanhas de conscientização e cuidado. Desde o início da minha carreira como bióloga o estudo deles me atraía, tanto pelo impacto ambiental positivo desses animais quanto pelo risco de transmitir doenças, isso é importante saber e esclarecer”, explica.

Imagem de uma profissional de saúde vestindo jaleco de proteção branco e máscara azul. Ela está em frente a uma máquina, com as mãos apoiadas em cima de uma estrutura.
A bióloga em ação na área restrita para a manipulação de amostras coletadas em teste RT-qPCR (Foto: Arquivo Pessoal)

A defesa da pesquisa científica é parte da rotina no Labzoo, segundo a profissional, que participou da elaboração dos inquéritos sorológicos (levantamentos para acompanhar a evolução da Covid-19 na cidade e nortear as ações de enfrentamento da pandemia pela prefeitura). “Esses estudos foram essenciais para manter a população e a mídia cientes da situação pandêmica na capital, com precisão”, defende a coordenadora do laboratório municipal. Casada com o policial, Marcos, com quem tem o filho Bruno, Caroline conta que a pandemia foi um desafio para a família, visto que a saúde e a segurança são áreas bastante demandas em situações de crise como essa.

Hoje a atuação da bióloga está focada no diagnóstico das zoonoses para a população e no estreitamento dos laços com a comunidade científica para que os avanços das pesquisas cheguem o mais rápido possível ao serviço público, mas Caroline já trabalhou em outras áreas na prefeitura e lembra com muita gratidão dessas etapas da carreira no setor público. Em 2012, entrou para a Unidade de Vigilância em Saúde (Uvis) Jaçanã/Tremembé, onde era responsável pelo controle de roedores e acompanhamento de casos de pessoas em situação de acúmulo. “Um dos casos que mais ficaram marcados na minha memória dessa época foi o de um senhor no Parque Edu Chaves. Era uma pessoa muito inteligente, comunicativa e atenciosa. Ele tinha passado por um divórcio muito difícil e o uso de drogas acabou desestabilizando toda sua vida, deixando-o em uma condição extremamente vulnerável e em situação de acúmulo. Conviver com a história dele me ensinou muito a trabalhar com a equipe multidisciplinar”, lembra a bióloga.

O paciente atendido por Caroline juntava materiais de construção em casa e, após três anos de visitas a ele com psicólogos e a equipe da Uvis, o caso foi revertido. “Esses momentos a gente nunca esquece.”

Foto de uma mulher, um homem e um menino jovem. Eles estão atrás de uma imagem com suporte para que coloquem suas cabeças, de modo que pareça que eles fazem parte de uma família de morcegos.
Caroline com o marido Marcos e o filho Bruno em passeio no Dia do Morcego, em 2018 (Foto: Arquivo Pessoal)

A mestre em zoologia com doutorado em genética celebra as conquistas de uma vocação que vem lá da infância. Nascida em São Paulo, Caroline sempre foi uma criança muito estudiosa e aficionada por animais, “meio naturalista na vida.” O irmão gêmeo quase seguiu os passos de Caroline na profissão. “Ele diz que, se não fosse ator, seria biólogo. E eu digo que, se não fosse bióloga, seria atriz. Nós estamos sempre muito conectados, inclusive por causa do trabalho”, revela. A outra irmã da bióloga, de 57 anos de idade, é massagista e trabalha com cristais.

Apaixonada pelo fundo do mar e as espécies que o habitam, Caroline não dispensava uma aventura submersa até o nascimento do filho Bruno, de 14 anos. pandemia de Covid-19 a motivou a investir o tempo livre no combate às notícias falsas nas redes sociais. A bióloga criou um perfil no TikTok só para estar por dentro dos debates lá e desmentir com conhecimento científico as fake news que “pesca”.