Foi ainda na adolescência que Semírames Fernandes da Costa, 43, viu despertar o desejo de trabalhar na área da saúde. O pai, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), ficou acamado e coube a ela cuidar dele, enquanto a mãe trabalhava. No entanto, a trajetória da farmacêutica do Hospital Dia Vila Prudente e da Unidade Básica de Saúde (UBS) Dr. Manoel Joaquim Pera por pouco não foi interrompida pela gravidez precoce.

Ao descobrir a gestação aos 17 anos de idade, ela pensou que teria de adiar os estudos. Mas, graças a ajuda da avó paterna do bebê e ao incentivo da mãe dela, que com muito esforço pagou o início de um curso de auxiliar de enfermagem, a história da jovem moradora da Brasilândia, bairro da periferia da zona norte de São Paulo, foi outra. Depois de concluir o curso, a profissional foi trabalhar em laboratórios e clínicas de saúde. O gosto pelo conhecimento, a vontade de prosperar e a afinidade em lidar com medicamentos resultaram na escolha pela na graduação em farmácia, na Universidade Paulista (UNIP). Em 2008, com a faculdade concluída, começou a trabalhar em farmácias particulares e, apesar da ascensão na carreira, ainda não se sentia completa. Ela sonhava mesmo era trabalhar no Sistema Único de Saúde (SUS).

Nesse meio tempo, a farmacêutica passou a enfrentar a mais difícil luta da vida, a mãe descobriu um câncer de mama, que se espalhou pelo corpo e já não tinha mais chances de cura, cabiam apenas os cuidados paliativos. Dois dias antes de Semírames iniciar o trabalho no Hospital Dia Vila Prudente, em novembro de 2017, veio o baque: a morte da mãe. “Minha mãe acompanhou toda entrega de documentos, minha realização, viu a minha felicidade pelo emprego conquistado. Só que ela faleceu no dia 19 de novembro, às 23h, enterrei ela dia 20 e, no dia 21, comecei a trabalhar aqui”, conta emocionada.

Para Sami, o apoio da nova equipe foi fundamental para atravessar o momento. “Tenho absoluta certeza de que eu não tive depressão por conta do meu trabalho, fui extremamente acolhida pela minha equipe, que me ensinou tudo e me abraçou no momento que mais precisei”, relembra.

Quatro anos depois, a profissional assumiu sozinha a gestão da farmácia da unidade. As duas colegas engravidaram e tiveram de deixar o trabalho presencial durante a pandemia de Covid-19. O trabalho aumentou consideravelmente, mas Semírames faz questão de olhar com cuidado único cada paciente, principalmente os que vivem com HIV. Para ela, a responsabilidade é redobrada e a sensibilidade faz a diferença na rotina de cuidados dessas pessoas. “Eu tenho casos de pacientes que não seguiam à risca o tratamento e, como eu costumo brincar com eles, mostrar que podemos levar com leveza um assunto sério como esse, o resultado é positivo. Muitos aderiram ao tratamento assim e essa com certeza é a maior gratificação que eu poderia receber pelo trabalho que faço.”

A farmacêutica se diz realizada por servir à população no SUS, o que proporcionou a ela uma vida tranquila, bem ao contrário do que imaginou quando engravidou e achou que teria de abrir mão do sonho. A filha Carolina, de 24 anos de idade, estuda medicina veterinária, é apaixonada pela vida animal. “Essa é a maior prova de que os investimentos de minha mãe foram certos, agora eu vejo minha filha se tornar uma mulher forte e independente. Vencemos”, comemora.

Sami é apaixonada por animais desde criança. Atualmente, ela e a filha dividem a casa com 11 pets, todos resgatados da rua. As duas ainda cuidam de uma colônia de felinos que fica na rua da casa delas e dão abrigo temporário para gatinhos recém-nascidos, no período entre a recuperação da castração e a adoção responsável.

Para conhecer mais sobre os protagonistas dessas histórias inspiradoras no SUS da cidade de São Paulo, assista a versão em vídeo publicada no canal da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), no YouTube e saiba um pouco mais sobre a Semírames.