Polos de Economia Solidária geram renda e reabilitam usuários de saúde mental

Capital retoma atividades presenciais após 16 meses de suspensão devido à pandemia

Após 11 internações em hospitais psiquiátricos, tentativas de suicídio e o diagnóstico de depressão, Risonete Fernandes da Costa, 49 anos, conheceu o Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Butantã em 2004 e, com o auxílio dos profissionais de lá, passou a participar do serviço Economia Solidária, que recentemente retomou as atividades presenciais, motivo de alegria para ela. “Não via a hora, apesar de o trabalho não parar por completo, é bom ver a carinha dos nossos clientes novamente. Faz diferença para nós”, conta.

Com administração da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo (SMS), os Pontos de Economia Solidária do Butantã e da praça Benedito Calixto reabriram suas portas ao público recentemente, após 16 meses fechados e em trabalho remoto por causa da pandemia de Covid-19.

Implantado em março de 2016, o serviço integra o sétimo eixo da Rede de Atenção Psicossocial (Raps) com objetivo de apoiar o desenvolvimento de projetos de geração de trabalho e renda e formação de empreendimentos econômicos solidários, seguindo a missão de fortalecer a autonomia econômica e social de pessoas em desvantagem.

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Risonete foi inserida no projeto Economia Solidária gradualmente. Participou de palestras e eventos, foi apresentada às formas de trabalho, até efetivamente colocar a mão na massa e fazer um curso de agroecologia. Passou então de paciente a auxiliar da gerência do empreendimento Orgânicos no Ponto. “Foi onde consegui um tratamento realmente humanizado e, conforme fui melhorando, comecei a participar de atividades sociais, conhecer o trabalho e me envolver nesse movimento. É um espaço comunitário de transformação e reabilitação psicossocial. No começo, montávamos dez cestas por semana e entregávamos pela internet até que chegamos a 120 semanalmente. Hoje, além das cestas, vendemos uma variedade de hortifruti, ovos, pães, sucos, entre outros itens, tudo em parceria com pequenos produtores. O paciente de saúde mental é estigmatizado pelo uso de remédio. Antes eu era uma pessoa que dependia de ansiolítico, foi uma batalha, não é fácil, e começar a produzir o alimento do outro quebra com esse estigma”, relata.

Esse é o mesmo sentimento de Luciana Pereira Dias, 45, integrante do Ponto da Economia Solidária do Butantã que, após o primeiro surto e internação, conheceu o Caps no mesmo bairro, em 2013. “Após esse episódio, no meu antigo emprego, tive que tirar muitas licenças para me cuidar e, quando voltei, a dona da empresa me chamou de funcionária fantasma. Chorei muito, me senti mal e fui embora. A gente não vale nada sem saúde”, diz.

Após um ano de tratamento, foi chamada para trabalhar no restaurante do Ponto Butantã como garçonete. “Eu tinha que atender aos clientes e foi uma luta pessoal para interagir com todos, voltar a ter contato com pessoas. Eu os via felizes, gargalhando e pensava que também queria ser assim. Fui me acostumando, me recuperando aos poucos. A gente não precisa ficar trancada em um manicômio, mas, sim, de confiança para recomeçar.”

Hoje, a rede conta com dois espaços no município, ambos na região oeste: o Ponto Butantã e o Ponto Benedito Calixto. Eles abrigam empreendimentos de economia solidária que, em sua maioria, se iniciaram dentro de serviços de saúde mental, como os Caps e Centros de Convivência e Cooperativa (Ceccos), e atingiram um grau maior de profissionalização e alcance, ficando pequenos demais para continuar dentro desses serviços.

Para Paula Pavan Antonio, terapeuta ocupacional e assessora técnica na Divisão de Saúde Mental da SMS, o interessante desses pontos é que os profissionais de saúde mental atuam apenas como articuladores do espaço. “Os grandes protagonistas são os próprios usuários que trabalham nos empreendimentos. Sabemos que para os pacientes de saúde mental o emprego formal pode ser um grande impeditivo e os empreendimentos de economia solidária permitem resgatar essa dimensão do trabalho, com maior respeito à adaptação dessas pessoas. Por isso, dizemos que é uma estratégia importante de reabilitação”, explica.

No período de cinco anos de existência, o Ponto Butantã atendeu a 54 trabalhadores e, atualmente, conta com 25 nos empreendimentos Comedoria Quiririm, Orgânicos no Ponto, Livraria Louca Sabedoria, Loja Pé à Biru, Horta Quintal do Teiú e Ateliê de Costura. No Ponto Benedito Calixto, gerido por 11 pessoas, desde 2016, está a Tendarte, loja social com produtos de cerca de 45 projetos, e Oficina dos Anjos, que cria oportunidades e condições para que usuários do programa desenvolvam habilidades em produtos artesanais.

SERVIÇO

Ponto de Economia Solidária e Cultura do Butantã

De segunda a sexta-feira, das 8h às 17h
Aos sábados e domingos, aberto quando houver eventos
Av. Corifeu de Azevedo Marques, 250, Butantã, São Paulo - SP

Ponto Benedito Economia Solidária e Cultura

De quarta a sexta-feira, das 11h às 18h
Sábado, das 11h às 19h
Ponto também segue agenda da feira e da praça.
A partir de março de 2022, sextas e sábados das 11h às 18h
Praça Benedito Calixto, 112, Pinheiros, São Paulo – SP