Aline Pilon se orgulha do trabalho em defesa da população transexual no SUS

Enfermeira na rede municipal de saúde, Aline sempre quis cuidar das pessoas

Segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), 90% da população formada por pessoas que não se identificam com o gênero atribuído ao nascer têm a prostituição como fonte de renda e única possibilidade de subsistência. Diversos fatores influenciam essa realidade, sobretudo a dificuldade de inserção no mercado formal de trabalho. A deficiência na formação e qualificação profissional imposta pela exclusão social, familiar e escolar cria barreiras para essas pessoas e exige muito mais do que dedicação para realizar sonhos. Aline Pilon, 27 anos de idade, enfrentou e venceu os desafios até tornar-se enfermeira na rede municipal de saúde.

Nascida na cidade de Pirassununga, interior paulista, quando criança queria ser atriz, mas foi na adolescência que a verdadeira vocação dela se revelou: queria cuidar das pessoas. Então, tentou a faculdade de psicologia. Mesmo não tendo sido aprovada no vestibular, Aline persistiu e, no ano seguinte, entrou para o curso de enfermagem na Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto. Nessa mesma época, sem saber ser possível fazer o processo de transição, a jovem encontrou na terapia as respostas sobre o fato de não se sentir em conformidade com o gênero designado ao nascer e começou uma outra jornada.

A então estudante de enfermagem decidiu pela transição em 2014, quando estava no primeiro ano de faculdade. “Eu fui a primeira mulher transexual na USP de Ribeirão Preto, então foi um pouco complicado porque a solicitação do nome social foi difícil. Mas eu fui muito acolhida, principalmente pelas minhas amigas. Quando eu comecei a trocar meu guarda-roupa, ganhei muitas coisas só das meninas que estudavam comigo, no final foi um período bom”, relembra.

Foto de uma profissional de saúde vestindo um jaleco branco e calça branco. Ela está com uma das mãos na cintura. A enfermeira está em frente a um balaústre laranja e branco. Atrás, está uma paisagem, com um lago e árvores em volta.

Na faculdade, em 2018, Aline foi a primeira mulher transexual no campus da USP de Ribeirão Preto (Foto: Arquivo Pessoal)

Já formada, em 2018, saiu em busca de emprego na região onde morava. Mandou apenas um currículo para a capital paulista, a vaga era para trabalhar na implantação do projeto Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) 1519, uma pesquisa financiada pela agência internacional Unitaid, que investe em inovações na prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças no mundo, com apoio do Ministério da Saúde, do Sistema Único de Saúde (SUS) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Aline se mudou para a capital para fazer parte da equipe com a missão de avaliar a efetividade da PrEP na população que se identifica como mulher transexual ou travesti ou como homens cisgêneros gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH). Quatro meses depois, veio a oportunidade para trabalhar na Coordenadoria de IST/Aids, da Secretaria Municipal da Saúde (SMS).

Na SMS, a enfermeira ajuda a criar e a colocar em prática projetos de prevenção voltados à população com vulnerabilidade acrescida ao HIV. No CTA da Cidade, uma unidade itinerante de Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA), ela oferece apoio para quem recebe testes positivos para HIV durante os atendimentos em regiões estratégicas da cidade. “O primeiro resultado de HIV que eu entreguei foi para um menino de 17 anos e ele tinha transado apenas uma vez na vida. Foi um dos casos mais marcantes para mim, precisei ser forte para ter aquela conversa. Foi transformador ver como ele ficou abalado com o resultado do exame e, depois, como entendeu que na verdade a vida não terminava ali, que começava de uma outra maneira e com qualidade”, conta a enfermeira. Para Aline, o maior desafio que o trabalho coloca todos os dias para quem atua na saúde é o acolhimento aos pacientes e que isso a faz muito orgulhosa por trabalhar no SUS e defender os direitos das mulheres transexuais e travestis.

Foto de uma família. Uma mulher usando um vestido de festa rosa longo está de mãos dadas com um homem e uma mulher. A mulher ao lado direito usa um vestido preto. O homem do outro lado está de terno. Atrás deles, está uma festa com muitos convidados.

A enfermeira com os pais, Adenicio e Tereza, os maiores incentivadores dela na formatura de Aline, em 2018 (Foto: Arquivo Pessoal)

Q+

Aline é apaixonada por arte e por algum tempo conciliou o sonho de ser atriz com o trabalho na saúde. Cursou teatro durante cinco anos e acredita que trouxe dos palcos para a vida a boa dicção e a maneira de se expressar. Música e dança estão nos momentos preferidos da enfermeira fora do expediente. “Eu danço todo o tipo de música: forró, axé, funk, sertanejo, valsa. Adoro dançar e acho que a música facilita a expressão e a empatia porque une as pessoas.”

Uma mulher está sentada com as pernas cruzadas e as mãos apoiadas no joelho. Ela veste uma roupa preta, com tom de transparência nos braços e no decote, além de uma máscara também preta. Atrás, está um ambiente aberto, com grama e árvores.

Aline em gravação para o canal do YouTube da SMS defende os direitos da população trans e travesti no SUS (Foto: Divulgação)

Saiba mais sobre a história de Aline Pilon, assista ao vídeo completo no canal do Youtube da SMS: