Quando começou a trabalhar na rede municipal, o agente comunitário de saúde (ACS) Edson do Nascimento Gomes, de 45 anos de idade, questionou: “Como a arte se relaciona com a saúde?”.
A resposta que ele buscava veio ao longo desses 11 anos de atuação na Estratégia de Saúde da Família (ESF), na Unidade Básica de Saúde (UBS) República. Como ator e palhaço, descobriu na oportunidade de trabalho uma realização constante. “Exploro diariamente as potencialidades da Saúde para fazer a diferença na vida dos cidadãos e me realizo, os meus caminhos profissionais se conectam o tempo todo”, afirma.
Nascido no centro de São Paulo, desde pequeno Edson soube que gostaria de trabalhar com arte, coleciona peças encenadas ainda na escola, mais tarde fez cinema, novelas e campanhas publicitárias. Já contratado pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS), fazia apresentações como palhaço em hospitais para entreter pacientes internados, uma espécie de terapia do riso feita de forma voluntária.
Edson como o palhaço “Mindoim”, seu personagem no trabalho voluntário (Foto: Acervo Pessoal)
Porém, quando foi trabalhar na Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) Centro, criou projetos para propor melhorias na escuta qualificada das famílias que acompanhava. “O que me marcou bastante foi abordar a memória numa dessas iniciativas, depois de muito observar os idosos que acompanhávamos. Percebi que eles tinham uma dificuldade relevante a esse respeito, e foi aí que montamos um grupo com esses pacientes e as equipes para falar sobre o assunto”, conta.
O agente comemorando o Dia Mundial do Idoso: orgulho de trabalhar no SUS (Foto: Acervo Pessoal)
Assim como essa roda de conversa, o agente elaborou uma pesquisa sobre saúde do homem para mapear a ausência deles nas consultas de rotina das UBSs. A ideia era garantir a atenção integral deles, conhecendo melhor esse deficit de adesão do público à proposta do Sistema Único de Saúde (SUS). Com essas informações em mãos, a equipe intensificou a busca ativa por homens para realizar exames preventivos de rotina e criou grupos para discutir a vulnerabilidade masculina.
Edson, que continua com o trabalho voluntário como palhaço em hospitais, diz que aposta no lúdico e na escuta curiosa dos relatos de cada pessoa para fazer o melhor possível. “A arte tem uma potência muito grande na construção de um SUS ainda mais humanizado. Me sinto realizado em poder trazer isso para a minha região, usar a palhaçaria nas atividades, obter uma maior interação com as pessoas em rodas de conversa”, diz ele, que ainda pretende realizar uma pesquisa sobre “a utilização da arte como remédio”, levando em conta a saúde mental e a construção de vínculos entre pacientes e profissionais de saúde.
Em 2021, juntamente com os conselheiros da CRS Centro, na oficina preparatória para a Conferência Municipal de Saúde (Foto: Acervo Pessoal)
Essas iniciativas e os resultados delas o motivaram a estudar terapia ocupacional. Está no segundo ano do curso, de onde pretende extrair mais conhecimentos para avançar no trabalho. Integrante do conselho gestor da Saúde da região centro, o ACS enxerga aí uma outra forma de aproximar os cidadãos do SUS. “A ideia é que mais pessoas participem das reuniões e das decisões sobre a rede municipal de saúde, em favor do aprimoramento do sistema público de saúde”, argumenta.