UBS desenvolve programa voltado à saúde de catadores

Por meio da iniciativa, 55 profissionais que trabalham com reciclagem na região de Sapopemba são acolhidos e recebem atendimento integral em saúde, além de orientações sobre o armazenamento correto dos resíduos coletados

Cuidar da saúde dos cidadãos do território que não costumam procurar a Unidade Básica de Saúde (UBS) é um dos desafios das equipes de saúde da capital. Entre esses públicos, um dos mais vulneráveis, e que ao mesmo tempo possui demandas específicas em saúde, é o dos catadores de recicláveis, que por isso mesmo é objeto de programas em várias regiões da cidade.

A UBS Iguaçu Maria José Mariano da Silva, que atende à região de Sapopemba, próximo à divisa com o município de Santo André, iniciou o atendimento específico a este público em 2015, com o agendamento e realização de consultas. Em 2017, a partir de um levantamento detalhado do perfil dos catadores do território e suas necessidades, a iniciativa foi incorporada à unidade com o nome Catadores Saudáveis do Iguaçu.

A construção de um vínculo com essas pessoas que percorrem a cidade, muitas vezes andando dezenas de quilômetros por dia, puxando carroças carregadas com grandes quantidades de resíduos e vivendo de forma precária, foi um desafio abraçado integralmente. Hoje, essa prática está dentro das ações regulares da UBS Iguaçu e mobiliza agentes comunitários de saúde (ACSs), agentes de promoção ambiental (APAs), médicos, auxiliares de enfermagem, enfermeiras, psicólogas, técnicas e auxiliares em odontologia e dentistas.

Maioria dos catadores de recicláveis não frequentava a UBS
“A pesquisa que fizemos com esse público mostrou que ele é diverso, com homens, mulheres, jovens, idosos, famílias inteiras que tiram sustento da coleta e venda de resíduos recicláveis, e que a maioria dessas pessoas não procurava a UBS porque não se sentia à vontade, via-se como inadequada para frequentar aquele ambiente”, conta Cristiane Caramelo de Oliveira, gestora regional do Programa Ambientes Verdes e Saudáveis (Pavs) na Coordenadoria Regional de Saúde Sudeste. Segundo ela, entre outras questões de saúde, como problemas de pele, nos pés e na coluna, decorrentes das características de seu trabalho, a maioria dos catadores não tinha a cobertura vacinal adequada.

As ações executadas pela equipe de saúde da UBS englobam os agentes de promoção ambiental (APA) do Pavs, que trabalham com educação em saúde, ações de combate à dengue e orientações sobre armazenamento correto dos resíduos coletados, enquanto não são vendidos. Esta é uma questão importante, uma vez que a maioria dos catadores não tem espaço em casa, e os resíduos ficam expostos, por isso é importante evitar que acumulem água e possam virar criadouros de mosquitos e outros animais sinantrópicos. Por meio das equipes das Unidades de Vigilância em Saúde (Uvis), os catadores também têm acesso a campanhas de castração de animais e obtenção do RGA Animal.

Encontros mensais colocam público na linha de atendimento
Hoje o programa Catadores Saudáveis do Iguaçu, que iniciou com 12 pessoas, atende 55 catadores. Ele está estruturado não apenas a partir das visitas dos agentes às casas dos cidadãos cadastrados, mas também de eventos periódicos para atendimento deste público. “Com a pandemia, as reuniões que eram na UBS passaram a ser realizadas em uma praça do bairro, abordando vários temas de saúde, além de agendar consultas e exames, atualizar a vacinação e realizar atendimentos em saúde bucal”, diz a enfermeira Érica Kolososki Anazario, responsável pela coordenação da iniciativa dentro da UBS.

A unidade promove ainda um evento anual, que agrega serviços de parceiros conquistados ao longo dos anos, como o programa Alcoólatras Anônimos (AA), que acolhe indivíduos com dependência alcoólica, a Pimp My Carroça, organização que reforma e personaliza as carroças dos catadores, entre outros parceiros.

Além dos catadores autônomos da região de Sapopemba, a regional sudeste trabalha também com as cooperativas Recifavela, na Vila Prudente, e Reciclázaro, na Mooca, que recebem visitas regulares dos ACSs. Segundo gestora local do Pavs, Naysla Pimentel, a situação econômica e decorrente da pandemia de Covid-19 afetou profundamente esse público, que tem crescido nos últimos anos.

“Antes essa era uma atividade vista como um ‘bico’, em caráter provisório, que mobilizava principalmente pessoas com mais de 40 anos, mas é cada vez mais comum ver catadores jovens, e inclusive uma segunda geração de catadores”, comenta Naysla. “O que buscamos, como unidade de saúde, é colaborar de forma ativa para que essas pessoas vivam com o máximo de dignidade”.