Coordenadoria Regional de Saúde Centro promove aula aberta sobre o enfrentamento ao racismo

O evento reforçou a importância da coleta do quesito raça cor nos serviços municipais e apresentou projetos desenvolvidos nos equipamentos

Na última sexta (14), a interlocução da Saúde da População Negra da Coordenadoria Regional de Saúde Centro, da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), promoveu o evento “Aula aberta sobre o enfrentamento ao racismo nas unidades de saúde”. O encontro teve como objetivo discutir as diversas ações realizadas no combate ao racismo dentro dos equipamentos de saúde da região central da capital.

O evento contou com a presença de representantes da sociedade civil organizada, bem como os colaboradores de diversas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), Centros de Atenção Psicossocial (Caps), divisão epidemiológica e da interlocutora da Rede Nossa São Paulo, Paloma Lima, que trouxe indicadores sobre a população negra na capital.

Marcos Moreira da Costa, interlocutor da área de Saúde da População Negra na CRS Centro, diz que a ação nas unidades de saúde é um convite à reflexão, mas lembra também da importância de uma interlocução intersecretarial eficiente para sensibilizar a todos de que esta é uma pauta de interesse coletivo. Além disso, reforçou a importância de discutir as questões raciais também fora dos serviços de saúde.

“Estar aqui no auditório desta biblioteca pública, com um banner indicando nossa posição de afirmação racial dentro do nosso território, é um movimento que transcende as discussões para além dos equipamentos de saúde. O racismo adoece e, por isso, precisamos sensibilizar as pessoas de que não vamos compactuar com atitudes racistas dentro ou fora dos estabelecimentos de saúde”, disse Moreira.

O interlocutor ainda lembrou que as ações da área estão ancoradas em quatro eixos norteadores: combate ao racismo institucional, coleta correta de quesito raça/cor, promoção da equidade nas doenças/agravos de maior prevalência e a participação popular.

Ações de enfrentamento em equipamentos de saúde

Como exemplo de ação que auxilia o enfrentamento do racismo institucional, ganharam destaque iniciativas como o projeto Café Preto, da UBS Bom Retiro, e o Núcleo Sankofa de Estudos, do Caps Infanto Juvenil III Sé Amorzeira.

O Café Preto, que recebe o apoio do Núcleo de Prevenção à Violência (NPV) da UBS Bom Retiro, foi apresentado pela assistente social Adriana Domingos Ferreira. De acordo com a Adriana, a iniciativa é um encontro mensal de acolhimento. O formato é uma roda de conversa com um espaço para ouvir, entender e tratar as consequências do racismo.

“Os momentos em que estamos juntos no Café Preto têm sido de troca, acolhimento e reflexão. A proposta inicial era gerar uma discussão sobre a mudança de vocabulário e, consequentemente, fazer as pessoas entenderem o porquê a sociedade reproduz o racismo e como podemos dialogar com essas violências assertivamente”, contou Adriana.

Ainda na linha do combate ao racismo, incluindo as crianças nesta perspectiva de promoção da equidade, o Núcleo de Estudos Sankofa também teve destaque. De acordo com Cláudia Cristiana de Oliveira Andrade, uma das psicólogas do Caps Infanto Juvenil III Sé Amorzeira, o grupo trabalha questões raciais que atravessam diariamente a vida das crianças e, por isso, é preciso reconstruir a identidade racial destas crianças e adolescentes.

“O Sankofa é um coletivo em construção que se debruça em discussões relacionadas à questão racial e ao cuidado ofertado às crianças e adolescentes, tanto no Caps quanto em outros serviços da rede. O cuidado que nós ofertamos vai no sentido de atribuir identificação, um lugar de pertencimento, um brincar racializado por meio de elementos que, talvez, em outros espaços eles não tenham acesso”, ressaltou Cláudia.

Autodeclaração racial

Outro ponto de destaque do evento foi a ênfase na importância da coleta do quesito raça cor pelos agentes de saúde do município, trazida pela enfermeira da Supervisão Técnica Sé, Maria Sueny Borges de Souza Silva. Trata-se do preenchimento correto de como a população se autodeclara, no que diz respeito à sua raça e cor. A partir desses indicadores, as unidades desenvolvem programas de inclusão integral da população negra nos serviços de saúde da capital.

“Muitos pacientes que chegam às unidades de saúde já foram vítimas de racismo pela sociedade. Por isso, trabalhamos com os nossos agentes comunitários de saúde (ACSs) no sentido de identificar o quesito raça cor corretamente para que eles sintam-se seguros quanto o atendimento”, destacou a enfermeira.

A aula aberta proporcionada pela SMS, além de conectar pessoas no enfrentamento ao racismo, também trouxe ao centro de uma discussão tão necessária o agente mais importante: o ser humano, alcançando tanto os colaboradores dos equipamentos de saúde como os usuários da rede municipal.

“Hoje quando a Área Técnica da Saúde da População Negra trata a questão da saúde, estamos falando do não apagamento de histórias de negros e negras e, para além disso, estamos falando de sobrevivência” finalizou o interlocutor da área na CRS Centro.