No Outubro Rosa, auxiliar de enfermagem compartilha seu relato como paciente

Marta Alexandra Vasconcelos Nunes conta sua experiência com o câncer de mama e sobre o atendimento recebido na rede municipal

A campanha Outubro Rosa é realizada com o objetivo de conscientizar a população sobre prevenção e diagnóstico do câncer de mama, o tumor que mais mata mulheres no país, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA). O instituto estima em 66.280 o número de novos casos de câncer de mama somente este ano.

Além da genética, esta neoplasia possui muitos outros fatores de risco, como a idade da menarca, da primeira gravidez e da menopausa, por exemplo, a obesidade e hábitos de vida pouco saudáveis. Desta forma, é importante que a mulher faça seus exames de rotina periodicamente para que, se houver suspeita, o diagnóstico seja realizado precocemente e o tratamento iniciado o quanto antes.

Na rede municipal de saúde, a prevenção da doença se inicia nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), onde a mulher encontra acolhimento e, se necessário, encaminhamento para outros equipamentos de saúde.

Veja a seguir o depoimento da auxiliar de enfermagem Marta Alexandra Vasconcelos Nunes, uma trabalhadora da saúde que teve seu diagnóstico dentro da rede municipal, realizou um longo e complexo tratamento e hoje diz viver um sonho: compartilhar sua experiência com outras pacientes que passam pela mesma situação, fortalecendo-as, e também a si mesma.

A foto, em preto e branco, mostra uma mulher de meia-idade e cabelos crespos; ela está sorrindo

(Foto: Acervo Pessoal)

“Descobri o câncer de mama há dez anos, quando tinha 38 anos; fiz um ultrassom pela UBS do meu bairro, Mascarenhas de Moraes, e em seguida já fui encaminhada para a área de mastologia do Hospital São Paulo, onde em maio de 2012 fizeram uma biópsia que confirmou o câncer.

A partir do diagnóstico deram início ao tratamento com quimioterapia, começando pela quimioterapia vermelha, a mais forte, e depois passando para a chamada quimioterapia branca. Ao todo, foram 20 sessões, lembro que em uma semana eu já havia perdido todo os pelos e cabelos. No início de 2013 eu fiz a mastectomia, com esvaziamento axilar total da mama esquerda, e logo em seguida iniciei a radioterapia, com 42 sessões diárias. Fiquei muito mal fisicamente com a radioterapia, eram oito minutos de sessão, mas eu me sentia exausta depois de cada uma.

Em seguida comecei a hormonioterapia, e em 2017 fiz a minha primeira tentativa de reconstrução da mama, mas, como eu pesava mais de 120 quilos, e mesmo emagrecendo 31 quilos tive várias complicações, passei oito dias na Unidade de Terapia Intensiva, três deles intubada. Só em 2019 conseguimos colocar um implante de silicone.

Em 2020, no entanto, ao fazer o acompanhamento no hospital, descobriram uma metástase do câncer, o que me levou a uma nova cirurgia para a retirada dos ovários e de uma parte do peritônio e do intestino.

Foi uma experiência muito dolorosa, mas hoje eu me sinto bem, livre da doença. E, embora não goste que me chamem de guerreira, me sinto forte. Três coisas me dão força: minha espiritualidade, meu trabalho e a família, principalmente minhas duas filhas, que na época em que fui diagnosticada tinham 19 e 12 anos. A mais velha estava fazendo faculdade em outro estado, eu vivia sozinha com a mais nova, e o que mais me marcou foi o dia em que ela me pediu para não morrer, pois ficaria sozinha. Eu chorei muito, nesse período, até porque acredito que em parte a doença tenha se originado no tanto de mágoa que eu carregava comigo.

Já o trabalho é uma benção. Atualmente eu sou auxiliar de enfermagem na UBS Juta I, mas antes foi agente comunitária de saúde (ACS) durante 11 anos, e acompanho pacientes que também têm ou tiveram câncer de mama; pude auxiliá-las com minha própria experiência, elas dizem que se fortalecem comigo, e eu certamente também me fortaleço com essa troca. Sinto que vivo um sonho todos os dias, por estar aqui e poder realizar o meu trabalho.

Para todas as mulheres, eu digo para não terem vergonha ou medo de se olharem no espelho, de se tocarem, esse autocuidado pode salvar as nossas vidas. E não deixem que as mágoas do coração machuquem seu corpo.

Marta Alexandra Vasconcelos Nunes, 48 anos, auxiliar de enfermagem na UBS Juta I, na zona leste de São Paulo