Silvia Sargiani trabalha pela qualidade de vida e cidadania de moradoras de residência terapêutica

Como gerente da RT Mandaqui II, a assistente social trabalha para garantir acolhimento e dignidade a pacientes egressas de hospitais psiquiátricos

Janeiro é o mês nacional de conscientização sobre a saúde mental. Simbolizada pela cor branca, a campanha reforça questões e necessidades relacionadas ao tema para mudar paradigmas, desmistificar tabus e promover qualidade de vida às pessoas que possuem transtornos mentais. O trabalho desenvolvido diariamente pela gerente da Residência Terapêutica (RT) Mandaqui II, Silvia Kelly Sargiani, de 49 anos, tem a ver com um legado familiar.

O avô dela foi cozinheiro do Hospital Psiquiátrico Juquery, em Franco da Rocha, São Paulo, e a mãe trabalhava na ala psiquiátrica do Hospital do Servidor Público Estadual. “Eu tinha uns seis anos de idade. Minha família tinha o costume de buscar meu avô aos finais de semana e, como chegávamos cedo, eu ficava brincando no jardim. Foi ali que tive meu primeiro contato com essa realidade”, relembra.

A foto mostra Silvia Sargiani, uma mulher branca de cabelos castanhos e mechas loiras, sentada em uma poltrona laranja com as mãos sobre o colo

Silvia na residência terapêutica durante a gravação do Gente.doc

Aos doze anos de idade, após uma situação familiar, conheceu a assistência social e se apaixonou de imediato pela profissão. “Naquela ocasião, que foi um momento marcante, eu tive a certeza de que queria me tornar uma assistente social.” O sonho foi realizado em 2009, quando Silvia se formou pelo Centro Universitário Assunção (Unifai). No ano seguinte, iniciou a trajetória profissional na Unidade Básica de Saúde (UBS) Jardim Joamar. Mas o laço com a saúde mental voltaria a se fortificar em 2011, quando foi convidada a gerir o Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Jaçanã.

Lá, a profissional desenvolveu ações e projetos de humanização para pacientes e os familiares deles. “O Caps foi uma grande escola para mim”, afirma. Em 2016, saiu da unidade no Jaçanã e ingressou no Caps Mandaqui III, onde ficou até 2018, quando foi convidada a coordenar a Residência Terapêutica (RT), moradia do serviço de saúde mental do município que acolhe mulheres com idades entre 36 e 67 anos. Para ela, um dos momentos mais importantes dessa nova fase da carreira foi a viagem à praia, realizada em 2019 com o grupo de moradoras da unidade. “Era o sonho de uma paciente que foi institucionalizada muito jovem e nunca teve a oportunidade de ver o mar. Foi muito emocionante para todos nós.” A assistente social revela ainda que a residência localizada na zona norte da cidade foi a primeira a ter um cachorro de estimação. “São elas que cuidam de tudo, desde a alimentação dele até a ida ao veterinário”, conta.

A foto mostra um cachorro com pelagem mesclada em preto e marrom; ele está deitado encostado em um portão

O cachorro Pingo foi adotado pelas moradoras da RT

Humanização e reinserção social
Esse modelo de acolhimento e tratamento é fruto da luta que deu origem à reforma psiquiátrica brasileira, 22 anos atrás. A moradia é destinada a pacientes egressos de hospitais psiquiátricos que não tenham vínculo familiar ou que esse vínculo esteja prejudicado. “Muitas pessoas não conhecem o trabalho desenvolvido pelas RTs. Aqui devolvemos a cidadania desses moradores, que muitas vezes é tirada deles pelo preconceito”, explica Silvia. Para a assistente social, não há emoção maior do que receber uma pessoa que saiu de um hospital psiquiátrico, sem vínculo familiar, e devolver a ela dignidade e qualidade de vida. “Ver a alegria delas não tem preço. É um privilégio poder vivenciar um serviço como esse dentro de um sistema público de saúde.”

A foto mostra as moradoras da Residência Terapêutica Mandaqui II sentadas sob guarda-sóis em cadeiras de praia, com os pés na areia

Passeio na praia com as moradoras da RT Mandaqui II

Q+
O que a assistente social mais gosta de fazer no tempo livre é ir para a praia. “Tenho uma ligação muito forte com o mar. É um final de semana na capital e outro na Praia Grande, onde tenho um imóvel”, conta. Para ela, a praia mais bonita que já visitou é a de Cananéia, no litoral sul de São Paulo.