PAI leva suporte domiciliar a idosos em situação de vulnerabilidade

Programa Acompanhante de Idosos auxilia com acompanhamento em saúde e também nas atividades cotidianas; conheça a história de uma acompanhante e de duas idosas assistidas

Na cidade de São Paulo, estima-se que a população com mais de 60 anos já supere 1,8 milhão de habitantes ou 15% dos moradores. Muitos, principalmente em idades mais avançadas, vivem sozinhos, com familiares que também são idosos ou que mantêm suas rotinas profissionais fora de casa. Uma parcela desses idosos está em situação de fragilidade física e emocional, além de vulnerabilidade social. É para esses cidadãos que existe o Programa Acompanhante de Idosos (PAI), que integra as iniciativas da Área Técnica de Saúde da Pessoa Idosa da Secretaria Municipal da Saúde (SMS).

Dentro de uma cidade que envelhece, a Mooca, bairro da zona leste da capital, é um dos que possui maior presença de idosos na cidade. Ali, funciona o PAI Mooca, um dos 50 PAI da capital, que dá suporte a 144 idosos por meio de uma equipe formada por 12 acompanhantes, um coordenador (assistente social), uma enfermeira, duas auxiliares de enfermagem, uma médica, um auxiliar administrativo e um motorista, que atende às demandas por deslocamentos.

Gizelly Maria Costa da Silva, 30, é uma das acompanhantes de idosos do PAI Mooca, função que desempenha há um ano, depois de atuar por outros três anos como agente de saúde indígena na aldeia do povo Xucuru Do Ororubá, em Pernambuco, onde nasceu. Ela é responsável pelo acompanhamento de 12 idosos, em sua maioria mulheres na faixa etária de 70/80 anos.

Sua rotina de trabalho é visitar essas pessoas pelo menos uma vez por semana e auxiliá-las em rotinas relacionadas à saúde, como acompanhá-las à Unidade Básica de Saúde (UBS) para exames, consultas ou encontros de grupos, e ainda outras, como idas à feira, à farmácia e deslocamentos para atividades cotidianas que se tornaram custosas em decorrência de limitações físicas. Sua agenda diária de trabalho inclui quatro visitas em vários pontos do território de cobertura da equipe.

Dona Miriam abriu mão de morar com o filho
Em uma manhã do mês de março, Gizelly ou Gi, como é conhecida, sai para visitar duas pacientes das UBSs que integram o PAI Mooca, dona Miriam, 83, e dona Lucília, 79. Dona Miriam é uma senhora falante e bem disposta. Ela mora em um pequeno apartamento com o neto Vítor, de 22 anos, a quem criou, e dois gatos, que lhe fazem companhia durante o dia. Tem excelente memória e, para exercitá-la, lê e faz muitas palavras cruzadas. Seu problema é principalmente de mobilidade: sente dores nas costas e já sofreu queda, por isso não se arrisca a sair sozinha.

A idosa está recompondo a casa, pois chegou a se desfazer dos móveis e eletrodomésticos quando um dos filhos, que mora no Paraná, insistiu para que vivesse com ele e a família. “Fiquei seis meses, mas não me adaptei, todos têm sua rotina e eu me sentia muito sozinha em uma cidade que eu não conheço, sem disposição para começar tudo de novo”, conta dona Miriam. “Aqui eu tenho minhas amigas de bairro, de vida inteira, tenho as atividades na UBS, tenho a acompanhante”, resume, explicando porque voltou, apesar das dificuldades em manter-se com o neto, que ajuda como pode com as despesas.

A foto mostra Gizelly, uma mulher jovem com uniforme da Secretaria Municipal da Saúde, interagindo com dona Miriam, uma mulher idosa; ambas estão de máscara e parecem conversar

Gizelly durante a visita semanal a dona Miriam (Foto: Acervo SMS)

Durante a visita, Gizelly bate papo, confere a caixa de medicamentos de dona Miriam (para os rins, a tireoide e arritmia, além de uma vitamina, todos retirados na UBS e levados pela acompanhante). Também desenvolve as atividades do Ressignificando, um desafio mensal elaborado pela equipe do PAI e que trabalha memória, habilidade cognitiva e leitura, além de propor temas para conversas e reflexões. O assunto de março é o papel da mulher na sociedade. Durante a conversa com sua acompanhante, Miriam conta que parou de trabalhar quando teve os filhos, mas sempre buscou desenvolver alguma atividade, e ainda hoje, viúva, faz consertos de roupa para incrementar a renda.

Pouco mais de uma hora depois de chegar, Gizelly se despede lembrando o próximo compromisso com Miriam, o grupo de dança sênior, que acontece toda segunda-feira.

Dona Lucília teve depressão e síndrome de pânico
A segunda visita da manhã é a uma casa geminada recoberta de pastilhas que têm a mesma cor do Juventus, time de futebol tradicional da Mooca, cujo estádio fica a poucos metros de distância. Ali mora dona Lucília, que em dois dias completará 80 anos. Ela entrou no PAI há cerca de um ano, já acompanhada por Gizelly, depois de sofrer os efeitos da pandemia de Covid-19: teve depressão profunda e desenvolveu síndrome do pânico. “Passei dois anos trancada em casa sem ver ninguém”, diz Lucília, que tem uma irmã, Luzinete, de 73 anos, morando na casa ao lado.

Hoje, passada a crise, a dificuldade maior é por conta da artrose, que limita seus movimentos e causa muita dor. Por isso, o máximo de deslocamento que consegue empreender, e mesmo assim com auxílio, é ir até a igreja que frequenta, um templo Batista localizado na mesma rua.

Gizelly posa com dona Lucília, uma mulher idosa que veste uma blusa com estampa de flores, em frente a uma parede revestida com pastilhas cor de vinho; ambas usam máscara

Com dona Lucília, que está no PAI há um ano (Foto: Acervo SMS)

Gizelly confere os remédios prescritos para dona Lucília (para artrose, ansiedade, dor e pressão, além de cálcio), lê uma mensagem de fé (“É baseada no salmo 121”, reconhece a paciente, que se formou em teologia depois de aposentar-se do trabalho de décadas na área de marketing), propõe as atividades do Ressignificando e estende a conversa para as memórias e experiências da idosa.

Lucília conta da infância de mudanças com a família do Nordeste até chegar na Mooca, do trabalho no passado, dos irmãos e dos sobrinhos. Tem medo de tornar-se um peso para eles. Conta que também foi cuidadora por um período, do próprio pai, o que fez com que tivesse que abandonar o emprego às vésperas de se aposentar. Diz que nesta fase em que ela própria precisa de cuidados, o PAI mudou sua vida, na medida em que leva o atendimento médico até sua casa e, sempre que é necessário, a conduz aos compromissos, como uma consulta que já está marcada com o oftalmologista para avaliar a catarata que toma um dos olhos. As duas se despedem com um “Até semana que vem, fique com saúde”, e Gizelly segue para seu próximo compromisso.

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