“Agora faz dois golpes de rodado com descida rápida rasteira”, diz Henrique, o professor de capoeira, e Paulinho, 15, executa o movimento de forma concentrada, correta, e até mesmo com algo da ginga característica desta arte marcial que também é dança. O desempenho do menino na aula talvez não fosse tão surpreendente se ele não estivesse dentro do transtorno do espectro do autismo (TEA). Para chegar ao atual estágio de concentração e disciplina, Paulinho percorreu um longo caminho, no qual vem sendo apoiado pela estratégia Acompanhante da Pessoa com Deficiência (APD) da Secretaria Municipal da Saúde (SMS).
Paulinho treina os movimentos na aula de capoeira (Foto: Acervo SMS)
A APD, dedicada a pessoas com deficiência intelectual, funciona por meio de equipes multiprofissionais, nas quais o contato do dia a dia é atribuição dos acompanhantes, profissionais que atuam junto às famílias. No caso de Paulinho, este cuidado é personificado pela acompanhante Erika Gouveia Melo Lima, com quem ele e sua mãe possuem um vínculo de anos e continuam se encontrando uma vez por semana.
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Erika, juntamente com a equipe APD Tucuruvi, que atua na zona norte, foi responsável pelo encaminhamento do menino para a capoeira, a primeira atividade física com a qual ele se identificou, e que vem contribuindo para que tenha um melhor equilíbrio e coordenação motora. Da mesma forma, a APD auxiliou em sua inserção no ambiente escolar. Este ano Paulinho entrou no Ensino Médio; ele diz que gosta da escola, especialmente das aulas de matemática. Em casa, adora jogos e animes (animações japonesas), e é capaz de passar horas falando sobre personagens e enredos.
Se hoje o adolescente, que é o mais novo de três filhos, possui um nível mediano de autonomia – prepara o próprio café da manhã quando se levanta, vai e volta sozinho da escola, que é próxima, toma banho e escova os dentes sem ajuda -, a situação nem sempre foi esta. A mãe, Maria Gomes da Silva, 50, conta que na infância era difícil lidar com as crises que ocorriam sempre que era contrariado. “Por muito tempo a minha vida quase parou”, diz ela, que saiu do emprego para cuidar do filho (Paulinho recebe benefício pela Lei Orgânica da Assistência Social, Loas) e atualmente faz alguns “bicos” para aumentar o rendimento.
Na avaliação da mãe, para conquistar maior autonomia falta principalmente Paulinho melhorar sua habilidade de leitura. Para Erika e a equipe APD, ele avançou tanto que já pode receber alta do programa. “A APD atingiu seus objetivos, nossa última tarefa será justamente prepará-lo para a saída”, diz a coordenadora da equipe APD Tucuruvi, Lindinalva de Castro. Ela ressalta que a equipe APD concilia as expectativas da família com as possibilidades de desenvolvimento de habilidades, conquista de autonomia e participação das pessoas assistidas. “A participação dos familiares e cuidadores é parte fundamental do projeto terapêutico singular, que é construído sempre de modo conjunto.”
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