Saúde define medidas para evitar volta da poliomielite

A cidade de São Paulo possui uma linha de estratégias de vigilância e imunização, além de ações em caso de uma eventual detecção de casos da doença

A poliomielite, também chamada de pólio ou paralisia infantil, é uma doença contagiosa aguda causada por um enterovírus (gênero de vírus que tem como principal meio de replicação o trato gastrointestinal) chamado poliovírus. As sequelas dessa condição, relacionadas com a infecção da medula e do cérebro pela poliomielite, normalmente são motoras e não têm cura, podendo afetar tanto crianças quanto adultos e levar à paralisia total ou parcial dos membros inferiores.

Mesmo considerando que desde 1988 o Estado de São Paulo não tem a confirmação de casos de poliomielite, e que em 1994 o Brasil recebeu a certificação de eliminação para poliomielite, sabe-se que esta não é a realidade de outros países, que apresentam situação endêmica ou epidêmica para poliomielite, seja de vírus selvagem ou de derivados vacinais.

Além dos casos registrados em outros países, atualmente, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil apresenta um alto risco para reintrodução do poliovírus selvagem (PVS, o vírus original da doença), e surgimento do poliovírus derivado vacinal (PVDV, vírus derivado da vacina oral que circula entre crianças imunizadas e que, em regiões de baixa cobertura vacinal, pode sofrer mutações), de acordo com avaliação realizada nos 5.570 municípios brasileiros. Esta avaliação leva em conta aspectos como cobertura vacinal contra poliomielite, vigilância epidemiológica das paralisias flácidas agudas (PFA, um grupo de doenças que atinge crianças, entre as quais encontra-se a paralisia infantil), acesso da população a saneamento e ocorrência de casos de outras doenças imunopreveníveis nos últimos cinco anos.

Saúde elaborou planos de mitigação de riscos e de enfrentamento
Frente ao risco de reintrodução do poliovírus no Brasil e diante do cenário epidemiológico internacional, a cidade de São Paulo elaborou dois planos para fortalecer a vigilância laboratorial e epidemiológica, e responder de forma rápida e eficaz a um eventual risco da doença, com base nas recomendações da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas).

O “Plano Municipal de Mitigação de Risco de Reintrodução do Poliovírus Selvagem (PVS) e Surgimento do Poliovírus Derivado Vacinal (PVDV): Estratégia do Município de São Paulo” define as ações a serem realizadas em 2023 para diminuir o risco de reintrodução da poliomielite na capital. As estratégias para mitigação de risco preveem o monitoramento mensal dos indicadores de vigilância, treinamento para busca ativa de casos suspeitos de paralisias flácidas agudas em hospitais, capacitação de profissionais de saúde, monitoramento ambiental (de água e esgoto) e também de refugiados de países com registro do vírus, além do acompanhamento de casos notificados por 60 dias, entre outras medidas.

Presença do vírus é detectada em exame de fezes
Durante o processo de investigação de casos de paralisia, deve ser realizada a coleta de fezes para avaliar a presença do poliovírus em até 14 dias após o início do déficit motor, idealmente. O descarte da poliomielite é feito a partir do resultado negativo desses exames, ou de avaliação clínica e evolução do quadro do paciente, com restabelecimento da força motora.

A meta anual de notificação para paralisias flácidas agudas é de um caso para 100 mil crianças menores de 15 anos. Em 2022, a cidade de São Paulo registrou 44 casos de crianças com qualquer tipo de paralisia. Após investigação, mais de 90% dos diagnósticos finais referiram-se à síndrome de Guillain Barré, doença em que o sistema imunológico ataca os nervos.

De acordo com Juliana Monti Maifrino Dias, da Divisão de Vigilância Epidemiológica (DVE), da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), toda paralisia é notificada para comprovar para a Organização Mundial da Saúde (OMS) que o país continua livre da pólio. “A partir da notificação, espera-se que a investigação desse caso seja deflagrada em até 48 horas, tendo como meta a investigação oportuna de pelo menos 80% dos casos notificados”, explica a Dra. Juliana.

Refugiados/repatriados
O município de São Paulo também tem realizado acolhimento de pessoas que tiveram visto humanitário concedido. Muitos desses refugiados/repatriados que estão entrando na capital são provenientes de países com circulação de poliovírus, seja selvagem ou derivado vacinal, como Afeganistão e Paquistão.

Para possível detecção de importação do vírus, com postos de monitoramento em aeroporto e centros de acolhidas, são realizadas ações de coleta e análise de fezes em menores de 21 anos desta população. No ano de 2022, todas as 65 amostras coletadas tiveram resultado negativo.

Monitoramento Ambiental
A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), também realiza o monitoramento de esgoto para o poliovírus em oito pontos na capital, em locais como as proximidades do aeroporto internacional e de centros de acolhida.

O “Plano Municipal de Resposta a um Evento de Detecção de Poliovírus e um Surto de Poliomielite”, por sua vez, antecipa diretrizes para a tomada de decisão na hipótese de ressurgimento da doença. Bloqueio vacinal, busca ativa de casos na comunidade e também em hospitais, por meio dos prontuários, são algumas das ações previstas se, porventura, algum caso de pólio seja diagnosticado na cidade.

Veja aqui os planos municipais de 2023 para a poliomielite.

Vacinação
A vacina contra a poliomielite, lançada em 1953, é a única forma de prevenção da doença. Todas as crianças menores de cinco anos de idade devem ser vacinadas conforme esquema de vacinação de rotina e na campanha nacional anual.

O esquema é de três doses da vacina injetável (VIP), aos 2, 4 e 6 meses, além de duas doses de reforço com a vacina oral bivalente (VOP, gotinha), aos 15 meses e aos 4 anos de idade. Em 2022, a cobertura vacinal contra a pólio no município de São Paulo atingiu 81,12%. Mesmo com a meta do Ministério da Saúde sendo de pelo menos 95% do público-alvo, os resultados da capital estão entre os melhores do país.

De acordo com Mariana de Souza Araújo, coordenadora do Programa Municipal de Imunização da SMS, a campanha de vacinação na capital atua com várias frentes, como a busca ativa de crianças com dose faltante, vacinação em escolas e parceria com a Secretaria Municipal da Educação (SME).

“Com o objetivo de ampliar o número de imunizados, por exemplo, os pais ou responsáveis devem apresentar a declaração de vacinação atualizada (DVA) da criança ao matriculá-la na escola”, reforça Mariana. “É importante manter a cobertura vacinal alta para evitar a reintrodução do vírus no país. A vacina não provoca reação, é segura, faz parte do calendário e está disponível o ano todo na rede municipal”, conclui.

Os imunizantes estão disponíveis nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e Assistências Médicas Ambulatoriais (AMAs)/UBSs Integradas. Na cidade de São Paulo, acompanhe a vacinação acessando o Vacina Sampa.