Enfermeira da rede municipal de saúde, Aline Pilon se orgulha do trabalho em defesa da população transexual e travesti em São Paulo

Aline fala sobre a importância da representatividade no sistema público de saúde para o atendimento da população trans e travesti

Ela tem formação e atuação na área de prevenção às infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e trabalha na Secretaria Municipal de Saúde (SMS), na Coordenadoria de ISTs/Aids, onde pode colocar em prática projetos de prevenção voltados à população com vulnerabilidade acrescida ao HIV. Aline Pilon, 28 anos, nasceu em Pirassununga, interior paulista, e sempre soube que seu objetivo de trabalhar cuidando das pessoas começaria com a passagem por uma faculdade pública.

Primeiramente, prestou vestibular para psicologia, mas mudou os planos no ano seguinte e entrou para o curso de enfermagem na Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto, onde cursou o bacharelado e a licenciatura. E foi neste período que sua vida mudou. Graças ao acompanhamento psicológico, a jovem estudante entendeu que não se sentia em conformidade com o gênero designado ao nascer e começou uma outra jornada: a de transição de gênero.

O processo de transição começou em 2014, ainda no primeiro ano da faculdade. “Eu fui a primeira mulher transexual na USP de Ribeirão Preto. Fui muito acolhida, principalmente pelas minhas amigas, que me ajudaram a equipar o meu guarda-roupa novo, ganhei muitas coisas das meninas que estudaram comigo”. Na faculdade, Aline foi uma das criadoras da Liga de Estudos em Gênero e Sexualidade (Legs), cujo objetivo era preparar os futuros profissionais para fazerem o atendimento em enfermagem consciente da temática de gênero.

Já formada, em 2019, começou a trabalhar na implantação do projeto Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) 1519, uma pesquisa financiada pela agência internacional Unitaid, que investe em inovações na prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças no mundo, com apoio do Ministério da Saúde (MS), do Sistema Único de Saúde (SUS) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Aline se mudou para a capital para fazer parte da equipe com a missão de avaliar a efetividade da PrEP na população que se identifica como mulher transexual ou travesti ou como homens cisgêneros gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH). Quatro meses depois, veio a oportunidade para trabalhar na Coordenadoria de ISTs/Aids, da Secretaria Municipal da Saúde da capital.

Na SMS, a enfermeira ajuda a colocar em prática projetos de prevenção voltados à população com vulnerabilidade acrescida ao HIV. Nas ações extramuros ela prescreve a PrEP e a profilaxia pós-exposição (PEP), além de oferecer apoio para quem recebe o diagnóstico positivo para HIV durante os atendimentos em regiões estratégicas da cidade. “O primeiro resultado de HIV que eu entreguei foi para um menino de 17 anos e ele tinha transado apenas uma vez na vida. Foi um dos casos mais marcantes para mim, porque foi transformador ver como ele ficou abalado com o resultado do exame e, depois, entendeu que a vida não terminava ali, que poderia fazer o tratamento e ter qualidade de vida”, conta a enfermeira. Para Aline, um desafio para quem atua na saúde é o acolhimento à população LGBT+, e a possibilidade de defender os direitos das mulheres transexuais e travestis é o que a deixa mais orgulhosa de trabalhar no SUS da capital.

Junto com a Coordenadoria de ISTs/Aids, ela realiza um Comitê Consultivo de Mulheres Trans e Travestis para discutir como diminuir as barreiras desse público ao SUS e, a partir disso, desenvolver ações para facilitar e ampliar o acesso desse público a PrEP e PEP e aos demais serviços de saúde em ISTs/Aids.