Farmacêutico Antônio torna acessível uso de medicamentos em UBS da zona sul

Profissional desenvolveu projeto que auxilia pacientes analfabetos e com deficiência visual na identificação correta de medicações

Na busca por garantir a autonomia dos pacientes no uso correto de seus medicamentos, o farmacêutico Antônio Marcos Dugulin, de 48 anos, da Unidade Básica de Saúde (UBS) Jardim Novo Pantanal, se tornou um agente de transformação. Com 19 anos de experiência na área e uma pós-graduação em saúde pública, com ênfase em estratégia saúde da família, dedica-se há 15 anos ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Em 2020, Antônio lançou um projeto revolucionário, inicialmente voltado para pacientes não alfabetizados. Ele identificou um desafio recorrente: os pacientes reconheciam seus medicamentos pelas embalagens de blister, que são as cartelas de comprimidos. Porém, essas embalagens variavam de acordo com o fabricante e, com alterações nas cores e no design, os pacientes que não sabiam ler frequentemente confundiam os remédios e acabavam tomando as doses incorretamente.

Na imagem, aparece Antônio e, ao fundo, uma parede com medicamentos. Ele é um homem pardo, de 48 anos, careca, com barba e usa óculos de grau, e jaleco branco.

Para o farmacêutico, proporcionar acessibilidade aos pacientes é torná-los independentes (Foto: divulgação/SMS)

“Determinado a resolver esse problema, desenvolvi uma planilha com colunas ilustradas, facilitando a identificação dos horários, e inseri etiquetas coloridas, cada uma representando um medicamento. Essas cores tornaram-se referências visuais para os pacientes”, contou o farmacêutico. A iniciativa beneficiou tanto essas pessoas quanto estrangeiros que não entendem o português.

Essa abordagem inovadora logo rendeu resultados. Uma paciente estrangeira, que falava francês e tinha dificuldade em compreender as embalagens em português, conseguiu reduzir consideravelmente suas visitas à UBS. Anteriormente, ela chegava a interromper o tratamento por esse motivo.

Ao conhecer Marilda, de 47 anos de idade, uma paciente que havia desenvolvido deficiência visual durante a pandemia e não podia aprender o sistema de escrita tátil, como o braille, ele teve uma ideia que permitiu à unidade de saúde estender a solução a pessoas com deficiência. Com adesivos em relevo, conhecidos como meia pérola e que normalmente são utilizados em decorações, a paciente conseguia identificar as medicações pelo tato. Cada medicamento dispensado a ela passou a ser identificado pela quantidade de adesivos meia pérola, enquanto as colunas com as fases do dia receberam linhas de divisão em relevo, feitas de papel do tipo EVA, para melhorar a percepção tátil.

O impacto dessa iniciativa se estendeu para muito além das fronteiras da UBS Jardim Novo Pantanal. Em 2023, o projeto de Antônio foi selecionado pela Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) Sul para representar a região no 36º Congresso de Secretarias Municipais de Saúde do Estado de São Paulo. O trabalho, intitulado “Orientação no uso seguro e racional de medicamentos para pessoas com deficiência visual”, destacou-se pelo quesito inovação. Ao auxiliar pacientes analfabetos e com deficiência visual na identificação correta dos medicamentos, o farmacêutico proporcionou um aumento significativo na qualidade de vida dessas pessoas, promoveu a inclusão e garantiu o acesso adequado aos cuidados de saúde.

Na imagem, Antônio está ao lado de um painel que traz informações sobre o uso racional de medicamentos. Ele usa óculos, camiseta azul, crachá e mochila.

Antônio durante o 36º Congresso de Secretarias Municipais de Saúde do Estado de São Paulo (Foto: arquivo pessoal)

Q+

O fascínio pela área farmacêutica levou Antônio a batizar seu único filho de Raphael, 16 anos, com "ph", em uma homenagem à origem grega da palavra "pharmácia". Ao lado de sua esposa Lucimar, eles desfrutam de momentos de lazer, viajando, assistindo a jogos de futebol e, principalmente, frequentando juntos a academia.