Waldecio conta como ser médico de família no SUS transformou seu sonho em realidade

O profissional acolhe a população em diferentes ciclos de vida, proporcionando um atendimento individual e humanizado para cada um

O atendimento humanizado no Sistema Único de Saúde (SUS) tem sido uma meta perseguida em todos os serviços, a começar pelas Unidades Básicas de Saúde (UBSs). Quem chega a uma unidade, independentemente do motivo, recebe o acolhimento que vai além das queixas que traz. Essa é a rotina do médico de família Waldecio Roque Xavier, 42 anos, na UBS Vargem Grande, zona sul da cidade. Ele acolhe, orienta, trata e acompanha as pessoas em diferentes fases da vida, e bem do jeito que sonhou.

Natural de Agrestina, Pernambuco, veio para São Paulo aos 2 meses de idade. Ainda menino, já pensava em se tornar médico, porém pela origem humilde, acreditava que a profissão seria inacessível a ele, um aluno do ensino público. Sua primeira formação foi em psicologia, e aí se especializou em atendimento hospitalar e hipnoterapia. Por esse caminho, foi se aproximando da medicina. Durante os anos de trabalho como psicólogo, conheceu um médico que havia feito faculdade na Bolívia que o incentivou a não desistir do sonho e começar a nova graduação. Mudou-se para a Bolívia, onde estudou medicina. Retornou ao Brasil em 2016, durante o período de residência, e ficou de vez. Na UBS Vargem Grande, zona sul da cidade, ele trabalha pelo Programa Mais Médicos para o Brasil (PMMB), que tem como um dos seus objetivos diminuir a carência de médicos nas regiões prioritárias para o SUS, a fim de reduzir as desigualdades regionais na área da saúde.

Na imagem, Waldecio está posando para foto. Ele tem pele clara, cabelo escuro arrepiado, barba e usa uma camisa branca com uma gravata verde.

Waldecio, psicólogo e médico de família na zona sul da capital (Foto: Arquivo Pessoal)

O médico de família, função que exerce na unidade, é um generalista que atende toda a população, fazendo consultas e acompanhamento de todos os ciclos de vida, ou seja crianças, adolescentes, adultos, gestante e idosos. Esses profissionais são parte da estratégia do SUS para a prevenção e controle de doenças crônicas, o que evita os agravos e internações. Waldecio se orgulha do trabalho com as gestantes na região. “A gestação é uma fase muito importante para a mulher na qual ela se encontra mais sensível. E aí eu procuro criar nas consultas um vínculo com a paciente, para que ela se sinta acolhida até a hora do parto.” E no caso dele, o atendimento integral inclui a psicologia, sua formação anterior, que o permite enxergar as questões emocionais que impactam a saúde dos pacientes.

Uma história para emocionar

O médico conta que logo no início de sua carreira na rede municipal de saúde, havia uma paciente já bem idosa que cuidava dos netos porque a filha era dependente química. A neta mais velha, de 12 anos de idade realizava acompanhamento na unidade, e o neto, de 11 anos, que havia sofrido um acidente durante as primeiras horas de nascido e desenvolvido uma paralisia cerebral, também passava por lá. Waldecio acolheu a família inteira e os acompanhou periodicamente. Nesse caso, a convivência foi tamanha que, mesmo quando essas consultas se tornaram mais espaçadas, eles viam até a Unidade em datas especiais para visitar o profissional, com quem mantêm contato até hoje. Um fato que o emocionou foi a conquista da fala pelo menino com paralisia cerebral. Tão logo conseguiu, ele aprendeu a chamar por Waldecio sempre que chega à unidade de saúde.

Waldecio está dando uma palestra para aproximadamente oito pessoas em uma sala. As pessoas estão sentadas e de costas para a foto observendo a apresentação do médico.

Em palestra a pessoas da comunidade, onde as acolhe, atende e acompanha (Foto: Arquivo Pessoal)

Q+

Nas horas livres, a grande paixão do médico é viajar e conhecer novas pessoas. Ele acha que isso tem a ver com a psicologia, que não abandona, pois gosta muito de conversar e ouvir as histórias de vida.