Caps Mooca acolhe famílias bolivianas e oferece assistência integral a crianças autistas

Semanalmente, o equipamento de saúde localizado em uma região com grande quantidade de imigrantes atende 12 famílias vindas da Bolívia com filhos diagnosticados com transtorno do espectro autista

“Muitas vezes eu venho para o Caps só para receber um abraço e esse apoio tem sido fundamental para eu cuidar do meu filho.” É assim que Maria Eujenia Brónez, 35 anos, mãe de Erizzon Jhonatan, de 7 anos, resume a importância do atendimento que recebe, junto com outras mães bolivianas, todas as quintas-feiras no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Infantojuvenil Mooca. “Eu não conhecia a palavra autismo. Eu percebia que meu filho era diferente, mas quando falava com minhas conterrâneas, elas diziam que era natural que crianças do sexo masculino demorassem a falar. Só aqui no Caps é que fui entender realmente que o meu filho tinha o transtorno do espectro autista [TEA] e receber as orientações de como tratá-lo”, acrescenta.

Maria está entre as 12 famílias bolivianas acompanhadas semanalmente pelo equipamento de saúde que atende a população dos distritos Mooca, Pari e Belém, onde a concentração de imigrantes, em especial bolivianos, é muito alta. “Nós separamos um dia só para atendimento das famílias bolivianas porque entendemos que isso fortalece o vínculo entre eles e cria uma rede de apoio importante para enfrentar os desafios do espectro autista ainda mais em um contexto de imigração”, afirma a assistente social Stella Geraldo.

Nos últimos anos, o Caps Mooca vem sendo procurado pelas famílias da região em busca de atendimento para filhos com dificuldade de fala e interação social, a maior parte encaminhada pelas escolas em que as crianças estudam. O diagnóstico do autismo é clínico e multiprofissional, pois necessita também da avaliação de fonoaudiólogos, psicopedagogos, terapeutas ocupacionais e psicólogos. Não existem exames laboratoriais ou de imagem que confirmem o transtorno. Segundo a assistente social Maria Juliana da Silva, “o diagnóstico do autismo é muito difícil, pois os sintomas podem se confundir com as condições de vida causada pela vulnerabilidade social, mas, independentemente do diagnóstico, toda criança com sofrimento psíquico deve receber os cuidados que necessita na esfera da saúde e da rede de apoio psicossocial”.

Na cidade de São Paulo, as 470 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) possuem médicos da família, clínicos e pediatras capacitados para identificar os sinais de algum transtorno do neurodesenvolvimento. Além disso, a rede municipal de saúde conta com 102 Caps, distribuídos em todas as regiões do município, que contam com equipes multiprofissionais especializadas no cuidado, não somente para os casos de autismo, mas também para todas as condições de sofrimento psíquico.

Esses equipamentos podem ser procurados para uma avaliação da criança, que será avaliada individualmente, de acordo com as suas especificidades. A partir daí, será determinado o melhor local para o tratamento. Nos casos de intenso sofrimento psíquico, a criança é atendida pelo próprio Caps, onde será definido um projeto terapêutico singular (PTS) para auxiliá-la a ter comportamentos mais adaptativos e funcionais e, consequentemente, melhor qualidade de vida.

No Caps Mooca, as famílias são acompanhadas paralelamente ao tratamento direcionado às crianças, “pois o cuidado com a criança precisa ser feito em conjunto com o cuidado com a família”, explica Juliana. Nos encontros com as famílias são realizadas rodas de conversas, com temas propostos pelos participantes, onde são abordadas as principais dificuldades, medos e a situação em que se encontram.

“Aqui nós somos tratados com muito carinho e respeito. O Caps me ajudou a lidar melhor com meu filho”, afirma Percy Torres, 34, pai de Hector, 7. Enquanto as famílias são ouvidas, as crianças são acompanhadas em outro ambiente por uma equipe multiprofissional que oferece oficinas terapêuticas, medicação assistida, atividades para estimular a socialização e a inserção social.

Vale ressaltar que quanto mais cedo for identificado o transtorno, melhor para a prevenção aos agravos e promoção da atenção integral ao paciente. Além das UBSs e dos Caps, a rede municipal de saúde oferece o cuidado aos pacientes com autismo também nos Centros Especializados em Reabilitação (CERs).