Grupos de Apoio a Aleitamento da Zona Leste captam doações para Bancos de Leite Humano

Baseados em UBSs da região, centros de apoio à lactação aproveitam rodas de conversa com puérperas para receber leite humano congelado, que é repassado às centrais

Neste 19 de maio, considerado o Dia Mundial de Doação de Leite Humano, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) traz o relato de uma iniciativa inspiradora, realizada há seis anos na zona leste da capital.

Em 2018, um grupo de profissionais de saúde e puérperas de São Mateus, na zona leste da capital, deu início a uma pequena revolução que mudou o panorama da doação de leite humano na região. Para facilitar o processo de coleta pelo banco de leite local, as mães criaram o primeiro Centro de Apoio à Lactação (Cenalac), uma iniciativa nascida da união entre vontade, necessidade e solidariedade.

A ideia é simples: aproveitar a ida das puérperas às reuniões semanais do Grupo de Apoio ao Aleitamento Materno Exclusivo (Gaame) na Unidade Básica de Saúde (UBS) não apenas para as conversas e orientações, mas também para receber doações de leite previamente retirado e congelado pelas mães. Acondicionado em um freezer localizado na própria UBS, depois basta ao Banco de Leite Humano (BLH) de referência na região retirá-lo.

A cidade de São Paulo possui diversos BLHs; desses, três são municipais, localizados nos hospitais Dr. Alípio Corrêa Netto (Ermelino Matarazzo, na zona leste), Hospital Municipal Maternidade-Escola Vila Nova Cachoeirinha (zona norte) e Hospital Municipal Fernando Mauro Pires da Rocha (Campo Limpo, zona sul), que colaboram para abastecer as unidades neonatais em toda a cidade.

O leite humano doado aos bancos de leite atende bebês com os mais diversos perfis, internados em unidades neonatais, em sua maioria prematuros ou com alguma patologia (respiratória, cirúrgica, neurológica, infecciosa). Cerca de 95% dos que se beneficiam do leite doado são recém-nascidos com baixo peso ou prematuros que tenham prescrição médica de leite humano. O material colhido passa por um processo rigoroso que envolve análise, pasteurização e controle de qualidade antes de ser fornecido aos bebês internados.

Aquisição de freezer viabilizou projeto

Envolvida com o projeto do Cenalac desde o seu nascimento, Edjane Mércia Ribeiro Bittencourt de Araújo, assessora técnica em saúde materno-infantil e aleitamento da Coordenadoria Regional de Saúde Leste, explica que o centro está fundamentado na existência do Gaame na UBS, por um lado, e vinculado tecnicamente a um banco de leite humano, por outro. “O Cenalac é responsável por ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno e estocagem da produção láctea trazida de casa pelas nutrizes, por parentes ou mesmo pela equipe da UBS em visita domiciliar”.

Ela conta que, na época, o que permitiu que uma ideia (levar o leite congelado para a UBS, para que fosse coletado pelo banco de leite) se transformasse em ação concreta foi uma medida aparentemente prosaica: a mobilização para a compra de um freezer, que foi instalado na UBS CDHU Palanque. “A chegada deste primeiro freezer, comprado com o apoio dos próprios profissionais e entidades parceiras, foi um acontecimento para as mães do Gaame, que se apropriaram da iniciativa e desde então sucessivos grupos de mulheres têm doado leite, e Cenalacs se multiplicaram na região”, orgulha-se Edjane.

“Mais do que amamentação e de doação de leite, quando falamos de Gaame e Cenalac, falamos de autonomia, pois a extração do leite permite que a mulher não apenas tenha este importante gesto de solidariedade, mas que também volte à sua rotina sem prejuízo da nutrição do seu bebê”, afirma Edjane. A assessora técnica lembra que os projetos envolvendo amamentação na zona leste começaram ainda no início dos anos 2000, com as primeiras rodas de conversa reunindo profissionais de saúde e puérperas e familiares.

Hoje existem 10 centros ativos na zona leste, que reúnem em média 100 doadoras, que normalmente contribuem com a doação de leite humano ao longo do período de licença-maternidade. Em 2023, as participantes doaram 126 litros de leite, que contribuíram para abastecer os bancos de leite de dois hospitais da zona leste, o Hospital Municipal Professor Doutor Alípio Corrêa Netto, em Ermelino Matarazzo, e o Hospital Maternidade Leonor Mendes de Barros, vinculado à Secretaria de Estado da Saúde, no Belenzinho.

A médica neonatologista Telma Aparecida Farahte Giangiardi era coordenadora do banco de leite do Hospital Municipal Dr. Alípio Corrêa Netto em 2018, época da criação do primeiro Cenalac. Para ela, que permaneceu no cargo até 2021, a tempo de ver o crescimento da iniciativa, a chegada do leite doado aos bancos é a ponta de uma cadeia virtuosa de extrema importância para a saúde na primeira infância, que se inicia nos Gaames, com o estímulo a que as mães amamentem seus filhos.

“O banco de leite humano é um polo de incentivo ao aleitamento materno exclusivo; nosso objetivo primeiro é que as mães amamentem seus filhos, pois quanto mais elas amamentam, mais elas produzem leite, que então pode ser doado aos bancos, ajudando os bebês internados nas unidades neonatais, lembrando que muitas vezes as mães dessas crianças estão impossibilitadas de amamentar”, explica. Telma avalia que o impacto da doação dos Cenelacs aos bancos de leite da região é significativo.

A foto mostra um grupo de cerca de 12 mulheres jovens, todas segurando bebês no colo; elas bem juntas, em um cômodo pequeno; no meio, está uma profissional de saúde, e em um dos cantos da sala vê-se um freezer de pequeno porte

Momento histórico: mães recebem o primeiro freezer na UBS CDHU Palanque, em 2018 (Foto: Acervo SMS)

Mães solidárias

Em 2023 a operária Suzana dos Reis Lima, 30, doou leite ao longo de seis meses para o Cenalac da UBS Paraguaçu, no bairro de Jardim Itápolis. Ela, que já havia participado do grupo de gestantes, sensibilizou-se com a situação dos bebês internados em UTIs neonatais por conhecer a situação daquelas crianças: seu filho, Griezmann, hoje com 10 meses, passou uma semana na UTI logo após o nascimento, em decorrência de um problema cardíaco.

“Eu comecei a participar do Gaame para ter apoio na amamentação e passei a produzir tanto leite que sobrava para doar”, conta Suzana, que, toda semana, ao ir para a reunião na UBS, levava no mínimo quatro potinhos de leite congelado em casa. “Eu fazia questão de me alimentar bem, para ter bastante leite e poder doar, ajudar outros bebês”, diz a trabalhadora, que só deixou o Cenalac quando o filho passou a consumir toda a sua produção. “Na mesma época tive que voltar ao trabalho, mas fui demitida um mês depois, e acredito que foi porque eu precisava sair para tirar leite para o meu filho”, relata ela, que planeja voltar a trabalhar quando Griezmann completar um ano e for para a creche.

Ingrid Evelyn da Silva, 28, frequentava o Gaame da UBS Palanque em 2018, quando o primeiro Cenalac foi criado; ao longo de vários meses, o leite que produziu alimentou não apenas a pequena Anny, mas também outros bebês. Mãe de três filhos – além de Anny, tem também Anthony, de 10 anos, e Ana Chloe, de 11 meses -, Ingrid conta que desde o primeiro puerpério o Gaame foi essencial para que entendesse a importância da amamentação e deixasse de lado receios como o de que seu leite não fosse suficiente para nutrir os filhos. Anthony, por exemplo, mamou até os três anos de idade.

“Frequentei o Gaame quando tive o Anthony, quando tive a Anny e agora, com a Ana, e o grupo continua a ser importante, não apenas porque existem orientações que mudam com o tempo, mas porque ali nós trocamos experiências e temos suporte”, comenta ela, que afirma que também já levou várias amigas e parentes a participar do grupo.

Veja quais são os bancos de leite humano da rede municipal:

Hospital Municipal Maternidade-Escola Vila Nova Cachoeirinha
Telefone: (11) 3986-1011

Hospital Municipal Fernando Mauro Pires da Rocha (Campo Limpo)
Telefone: (11) 3394-7678

Hospital Municipal Prof. Dr. Alípio Corrêa Netto (Ermelino Matarazzo)
Telefone: (11) 3394-8046/8153

Você também pode encontrar o banco de leite humano mais próximo de sua localidade pelo telefone 136.

Clique aqui para ver as orientações da Área Técnica da Saúde da Criança sobre a coleta de leite para doação.

https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/anexo2banco_leite2023.pdf