Data reforça ações de combate à mortalidade materna

Na rede municipal, mulheres têm acompanhamento desde o início da gravidez, com monitoramento de fatores de risco como pré-eclâmpsia e adoção de medidas profiláticas

No calendário da saúde, o dia 28 de maio é dedicado à luta pela redução da mortalidade materna, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) define como a morte de uma mulher durante a gravidez ou até 42 dias após o fim da gestação, por causas relacionadas ou agravadas pela gravidez ou ainda por medidas em relação a ela.

No mundo, ainda de acordo com a OMS, a taxa média de mortalidade materna é superior a 220 mulheres por 100 mil nascidos vivos, consideradas nesta estatística imensas variações regionais; no Brasil, a razão de mortalidade no Brasil no ano de 2021 foi 107.3, enquanto na cidade de São Paulo a razão de mortalidade no triênio de 2020-22 foi da ordem de 52,7.

“Tivemos um impacto da pandemia de Covid-19 na mortalidade materna no ano de 2020 e principalmente em 2021. As gestantes mais acometidas eram aquelas portadoras de comorbidades, sendo a hipertensão responsável por 25% dos casos; no pós-pandemia os números caíram, mas as síndromes hipertensivas passaram a ocupar a dianteira dos óbitos”, relata a coordenadora da Área Técnica de Saúde da Mulher da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), Ligia Santos Mascarenhas, acrescentando que a partir das estatísticas, foram deflagradas ações para o enfrentamento das síndromes hipertensivas na gravidez.

Dentro desse quadro, a pré-eclâmpsia é um dos maiores desafios à saúde das gestantes. Ela consiste em uma síndrome multifatorial, que compromete múltiplos sistemas, classicamente diagnosticada pela presença de hipertensão arterial associada à proteinúria (presença de uma grande quantidade de proteínas na urina), entre outros fatores, e que se manifesta em gestantes após a 20ª semana de gestação, afetando até 16,7% das gestações. De acordo com a Rede Brasileira de Estudos sobre Hipertensão na Gestação (RBEHG), além do risco de morte materna, a pré-eclâmpsia resulta muitas vezes em nascimentos prematuros.

Doença pode ter múltiplas causas
“Além de se desenvolver de forma silenciosa, não existe uma causa específica para a pré-eclâmpsia”, explica a ginecologista e obstetra Patrícia dos Santos Lourenço Bragaglia, que há mais de 20 anos trabalha com saúde da mulher na rede municipal, primeiro em Unidades Básicas de Saúde (UBSs) da zona leste, e atualmente como assessora técnica da Supervisão Técnica de Saúde (STS) de Ermelino Matarazzo. “O que temos são fatores de risco já estabelecidos, por isso nosso objetivo é sempre identificá-los o mais cedo possível durante o pré-natal”, prossegue Patrícia.

Entre estes fatores de risco estão: obesidade, hipertensão crônica (estima-se que cerca de 25% das mulheres hipertensas têm pré-eclâmpsia), pré-eclâmpsia em uma gestação anterior, doenças autoinumes como lúpus e artrite reumatoide, problemas de coagulação do sangue, primeira gestação especialmente acima dos 35 anos, histórico familiar.

Justamente pela condição ser multifatorial, existe por parte das equipes de saúde uma preocupação constante com a identificação de marcadores de risco que permitam a atuação no sentido de impedir a manifestação clínica doença (prevenção secundária), além do controle clínico e laboratorial para se evitar a manifestação de suas formas graves (prevenção terciária).

“Quando a gestante procura sua UBS para dar início ao pré-natal, numa primeira consulta já conseguimos identificar os riscos e aplicar medidas profiláticas que são simples e reduzem de maneira significativa a evolução para um quadro de pré-eclâmpsia”, ressalta a ginecologista. Entre estas medidas profiláticas estão a prescrição de ácido acetilsalicílico, além de suplementação com carbonato cálcio. A SMS também foi pioneira no estabelecimento de um protocolo para utilização, ainda na UBS, de sulfato de magnésio em pacientes com pré-eclâmpsia ou mesmo tendo evoluído para um quadro de eclâmpsia.

Pré-natal é essencial para a saúde da mãe e do bebê
Os fatores decisivos para que esses cuidados sejam estabelecidos, lembra Patrícia, é que o acompanhamento pré-natal seja feito corretamente pela gestante. “Caso percebamos uma tendência de aumento da pressão arterial, por exemplo, provavelmente as consultas serão feitas com prazos menores entre si”, destaca Patrícia, lembrando também que além da atenção de uma equipe multidisciplinar com médico, enfermeiro, nutricionista e assistente social, entre outros profissionais, as mulheres são convidadas a participar dos grupos de gestantes das UBSs, onde podem tirar dúvidas e compartilhar experiências.

Uma das orientações recorrentes, seja nas consultas ou nos grupos, é sempre o da adoção de hábitos de vida saudáveis, que incluem alimentação equilibrada e livre de produtos ultraprocessados e a prática de atividade física regular.

Outra informação importante sobre a qual as equipes buscam conscientizar as gestantes é o fato de que a pré-eclâmpsia não é uma condição cujas consequências ficam circunscritas à gravidez. “Pelo contrário”, alerta Patrícia. “Além do risco de vida, uma vez que ela desenvolve a pré-eclâmpsia é possível que venha a ter outros problemas de saúde com impacto para o futuro, relacionados aos rins ou ao sistema cardiovascular, além da probabilidade de ter que fazer uso contínuo de medicamentos anti-hipertensivos”, pontua a médica. “Por isso, prevenir é o melhor caminho, e as UBSs estão sempre de portas abertas para que as mães paulistanas tenham um acompanhamento gestacional adequado”.

Vale lembrar que a SMS possui uma rede de referência para pré-natal de alto risco, responsável pelo acompanhamento especializado dos casos detectados pelas UBSs. Presente em todas as regiões da cidade, esta rede de referência inclui equipamentos como ambulatórios de especialidades e hospitais.