Centro de Tratamento de Queimados realiza 600 atendimentos por mês

Unidade, que integra a estrutura do Hospital Municipal do Tatuapé, oferece tecnologias e tratamentos que permitem um alto índice de sobrevida aos pacientes

No Dia Nacional de Luta Contra Queimaduras, 6 de junho, a Prefeitura de São Paulo destaca entre os serviços de referência em saúde o Centro de Tratamento de Queimados (CTQ).

Instalado dentro do Hospital Municipal Dr. Cármino Caricchio também conhecido como Hospital do Tatuapé, administrado pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS), o CTQ foi estruturado em 1975 pelos cirurgiões plásticos, Ary do Carmo Russo e Urio Mariani, pioneiros no tratamento de queimados no país. Desde então, o serviço consolidou-se como uma referência na cidade e no estado.

Com 93 profissionais, o centro é como um “Hospital dentro do hospital”: ocupa todo 9º andar do HMCC e possui uma estrutura com emergência, ambulatório, enfermaria (22 leitos), UTI (quatro leitos) e centro cirúrgico (duas salas). Em um mês típico, são realizados ali mais de 600 atendimentos, sendo mais de 100 emergenciais. Dependendo da gravidade, como no caso dos chamados “grandes queimados”, com queimadura de 3º grau, os casos demandam internação, algumas prolongadas.

O CTQ também atende pacientes de outros municípios e estados que não possuem centros de queimados. De acordo com o Ministério da Saúde (MS), um milhão de pessoas sofrem de queimaduras todos os anos no Brasil. Destas, 200 mil procuram atendimento de emergência e 40 mil são internadas.

As queimaduras são feridas traumáticas causadas, na maioria das vezes, por agentes térmicos, químicos, elétricos ou radioativos. Atuam nos tecidos de revestimento do corpo humano, determinando destruição parcial ou total da pele e seus anexos, podendo atingir camadas mais profundas, como tecido celular subcutâneo, músculos, tendões e ossos. As queimaduras são classificadas de acordo com a sua profundidade e tamanho, sendo geralmente mensuradas pelo percentual da superfície corporal acometida.

“Atualmente, temos pacientes que queimaram 90% do corpo, tanto adultos como pediátricos, e que sobreviveram, pois estamos conseguindo combater a sepse”, explica o cirurgião André Nishimura, coordenador do CTQ. A infecção ocorre porque a pele, maior órgão do corpo humano, que cumpre várias funções, perde as barreiras de proteção. “Atribuímos essa experiência exitosa ao zelo médico e a capacidade da equipe multiprofissional especializada e, somado a isso, uma série de tecnologias de alto custo que a Prefeitura incorporou e que potencializa o tratamento de queimados”, comenta o coordenador, citando como exemplos materiais como a matriz de regeneração dérmica, que se incorpora à pele e auxilia a melhora do fechamento de feridas e queimados, além do curativo a vácuo.

Dos 93 profissionais do CTQ, 23 são médicos (intensivistas, plantonistas, diaristas, cirurgiões plásticos), 63 são enfermeiros, técnicos e auxiliares, três fisioterapeutas, um assistente social, um psicólogo, além de fonoaudiólogos e nutricionistas.

Entre os profissionais especializados da equipe, destacam-se os enfermeiros, muitos dos quais se especializaram em estomaterapia, especialistas na área de feridas. “Eles são essenciais para o processo de reabilitação”, reforça Nishimura.

Incidência dos queimados
Nos últimos anos, em função da pandemia de covid-19, o número casos atendidos no CTQ diminuiu: foram 1.800 em 2019, 1.123 em 2020, 1.085 em 2021, 1.038 em 2022, 1.199 em 2023 e, de janeiro a abril deste ano, 353 casos atendidos. Mensalmente, o centro realiza cirurgia em cerca de 40 pacientes. São geralmente desbridamentos (ato de remover tecido necrótico ou materiais biológicos, de uma lesão traumática ou crônica a fim de promover a exposição do tecido saudável) e enxertias de pele. Geralmente, um mesmo paciente com queimaduras de terceiro grau precisa de mais de um procedimento.

Entre os adultos, a faixa etária mais acometida por queimaduras está entre 21 a 30 anos, que representam 15,9% das emergências, em acidentes acontecem devido principalmente à utilização inadequada do álcool. Crianças com menos de 10 anos representam quase o mesmo percentual: 15,8%, e neste caso um dos principais motivos das queimaduras é o escaldo por alimentos como sopa e café.

Em grandes queimados (adultos que queimaram mais de 20% da superfície corpórea ou crianças que queimaram mais de 10% do corpo) é comum o paciente ficar internado uma média de 40 dias. Mas, segundo o coordenador do CTQ, há casos em que a internação dura até seis meses.

“O paciente vítima de queimadura fica traumatizado, por isso oferecemos apoio psicológico a estas pessoas, muitas das quais vivem em situação de vulnerabilidade social, e que, dependendo de quanto a pele foi atingida, precisam reaprender a andar, se relacionar com isso e conviver com a nova aparência. Precisam de ajuda para serem reinseridos na sociedade”, reforça o coordenador do CTQ.

De paciente ao voluntariado
Fernanda Silva Nogueira, 42, era assistente administrativa de uma instituição de saúde quando, em novembro de 2021, teve 35% do corpo queimado devido a uma explosão ocorrida pela utilização do álcool em uma churrasqueira que estava, aparentemente, sem chamas.

“Como estava de cabeça baixa, a primeira sensação foi que eu sofri um soco e apenas momentos depois dos primeiros socorros comecei a ter consciência do que estava acontecendo”, conta Fernanda, que passou por vários hospitais particulares e recebeu apoio de uma organização formada por vítimas de queimaduras, familiares, amigos e profissionais de saúde, onde foi aconselhada a buscar atendimento especializado.

“Apenas sete meses depois do acidente que eu procurei o CTQ, em junho de 2022. Se eu soubesse que esse serviço de referência existisse, teria acelerado o tratamento e aliviado o sofrimento, pois cheguei ainda com muitas sequelas. Minha vida teria sido outra”.

No CTQ, Fernanda fez procedimentos e cirurgias tais como: zetaplastia (incisão cicatricional para ganhar mobilidade nas axilas, pois o braço estava colado), dois microagulhamentos (processo cirúrgico para melhorar o aspecto da pele queimada) e degola – cirurgia para enxerto de pele no pescoço para melhorar a mobilidade.

Ela ainda não recebeu alta. Permanece em acompanhamento no ambulatório devido sequelas de mobilidade, cicatrizes e utilização da malha sobre a pele. “Não tenho previsão de alta. Vou ter que operar o braço, novamente, para melhorar a mobilidade. A pele queimada é extremamente ressecada e limita os movimentos”.

Devido ao trauma, ela conta que sua vida mudou completamente. Passou por uma forte depressão, mas conseguiu superar e agora pensa em ajudar outras vítimas de acidentes com queimadura do CTQ, por meio de um projeto. “É um projeto de sobrevivente para sobrevivente, no qual uma vítima de queimadura realiza visitas para motivar os pacientes hospitalizados”, conta a paciente, que encontrou no vínculo com o espaço que a acolheu um propósito.

Rede municipal também conta com 27 Polos de Curativos
Além do Centro de Tratamento de Queimados, desde 2021 a rede municipal possui 27 Polos de Curativos e tratamento de feridas, que são centros especializados no tratamento de lesões de maior complexidade, como feridas crônicas de difícil cicatrização, a exemplo do pé diabético, e queimaduras.

Os polos de Curativos contam com enfermeiros especialistas em estomaterapia e/ou dermatologia e possuem materiais de ponta com tecnologias que aceleram o processo de regeneração da pele. Esses equipamentos estão distribuídos em todas as regiões da capital instalados em: 13 Hospitais Dia (HDs); três Assistências Médicas Ambulatoriais (AMAs); quatro AMAs Especialidades; seis Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e um Ambulatórios de Especialidades (AE).

De outubro de 2021 a abril de 2024 os Polos de Curativos já atenderam 105.506 consultas e realizaram 109.798 curativos e procedimentos. Os enfermeiros especialistas dos polos realizam também o matriciamento, apoio técnico e treinamento para as equipes de enfermagem das UBSs e do Programa Melhor em Casa, evitando, sempre que possível, o deslocamento dos pacientes com feridas até o polo.