Dia dos namorados: o amor em língua de sinais

Como o amor e a comunicação transformaram a vida e a carreira de uma agente comunitária de saúde

Um dos pilares do amor é a compreensão, e essa não foi uma tarefa fácil para a agente comunitária de saúde (ACS) Amanda Souza Romão, 35, e seu marido, Robson Santos Romão, 35, que é uma pessoa surda. Mas nenhum dos dois permitiu que isso os impedisse de viver um grande amor.
 
Amanda e Robson se conheceram por uma rede social: “Eu o achei muito bonito. Vi que tínhamos alguns amigos em comum e resolvi adicionar”, revelou Amanda. Robson, por sua vez, logo foi no aplicativo de mensagem da rede puxar conversa com Amanda, que no começo não entendeu muito bem o que ele estava falando. 
 
Isso acontece porque a Língua Brasileira de Sinais (Libras), que as pessoas surdas utilizam para se comunicarem, tem diferenças em relação à Língua Portuguesa. Na hora de escrever, essas diferenças também estão presentes e a construção de frases ocorre de outra forma. Normalmente, faltam artigos, preposições, conjunções, verbos no infinitivo, além do raro emprego de verbos de ligação (ser, estar, ficar), o que pode dificultar a compreensão.
 
A foto mostra Amanda e Robson fazendo um coração com as mãos. Ela é uma mulher negra com cabelos pretos e lisos. Ele é um homem negro com cabelos curtos e pretos.
Amanda e Robson no dia do casamento. (Foto: Acervo pessoal) 
 
“Eu achei estranha a maneira como ele escrevia, até que comentei com um amigo em comum, e ele falou que Robson era uma pessoa com deficiência auditiva”, relata a ACS, que, um dia recebeu de Robson um convite para sair. “Descobri que ele era vizinho da Unidade Básica de Saúde (UBS) Prefeito Celso Augusto Daniel, onde eu trabalho”
 
Na época, Amanda sabia apenas o básico de Libras e por isso ficou com receio de aceitar, mas decidiu ir. No encontro, aconteceu uma ligação entre os dois que foi maior do que qualquer barreira de linguagem. Então, ali mesmo eles começaram a namorar.
 
Assim, Amanda foi aumentando o seu conhecimento em Libras, e o aprendizado na língua de sinais acabou impactando diretamente na sua profissão. Com o tempo, ela se tornou referência no atendimento de munícipes com deficiência auditiva na região da UBS. “Tinha por exemplo uma paciente que buscava atendimento ginecológico, mas achavam que ela queria apenas realizar teste de gravidez, e quando a acompanhei em uma consulta ela conseguiu transmitir o que precisava”, recorda. 
 
Casada há quatro anos com Robson, Amanda começou a estudar para aperfeiçoar seu domínio de Libras. “Quando eu brigo com ele, ele diz que não entende”, diverte-se a ACS, que pretende expandir ainda mais seus conhecimentos para ajudar na comunicação com outros pacientes da região.
 
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