Hospital Municipal Guarapiranga completa quatro anos como instituição de retaguarda

Criado pela Prefeitura de São Paulo como parte da estrutura de atendimento na pandemia de covid-19, desde 2022 o equipamento recebe pacientes que precisam de cuidados prolongados

Com quatro anos completados em junho, o Hospital Municipal Guarapiranga é um dos serviços hospitalares mais novos da rede municipal de saúde, e também possui várias peculiaridades no atendimento aos pacientes. Uma delas é que foi criado como um serviço de retaguarda para pacientes com covid-19; hoje, desempenha o papel de hospital de retaguarda para as outras instituições da rede, o que significa que os pacientes, em sua maioria com doenças crônicas, podem ficar por mais tempo internados no local.

Depois de dois anos atendendo pacientes com Covid-19, período durante o qual atendeu mais de 6.300 pessoas e comemorou muitas altas, o Hospital Guarapiranga, que é administrado pelo Instituto Nacional de Tecnologia e Saúde (INTS) adotou o novo perfil, com 186 leitos. Destes, 106 são voltados a cuidados prolongados (100 adultos e seis de pediatria) e outros 80 são de retaguarda de clínica médica, para pacientes que aguardam procedimentos nos outros hospitais da rede.

No período da pandemia, quando chegou a ter 259 leitos, a própria capela do hospital foi transformada em UTI; as instalações, aliás, lembram outra peculiaridade do local: em décadas anteriores, ali funcionou um hospital psiquiátrico administrado pela ordem religiosa da Irmãs Hospitaleiras. Uma das suas alas ainda exibe vitrais coloridos que lembram esse passado.

Todas as alas têm nomes de pássaros: Arara, Canário, João de Barro, Andorinha, Sanhaçu, Sabiá, Bem-te-vi, Colibri, Beija-flor. De acordo com a diretora geral do hospital, Simone da Silva de Araújo, “A escolha destes nomes, em um hospital de retaguarda, pode ser justificada pela ideia de que, assim como os pássaros, os pacientes estão em processo de recuperação e busca de liberdade e autonomia, num voo de esperança e de otimismo”.

Natureza e humanização
Os nomes ligados à natureza também combinam com o fato de que o hospital está localizado ao lado da represa Guarapiranga, na zona sul da capital, em uma extensa área verde, repleta de jardins e de pássaros. Neste espaço, os pacientes que podem se locomover, seja caminhando ou em cadeiras de rodas, realizam passeios e tomam sol cercados de verde. Além disso, a instituição inaugurou uma academia ao ar livre, e mantém uma rotina de atividades conduzidas por fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais.

“Um paciente de cuidados prolongados, que sofreu sequelas de um acidente vascular cerebral, (AVC), por exemplo, passa em média 300 dias internado aqui; por isso, a atuação da equipe de enfermagem e multidisciplinar é essencial”, comenta o médico intensivista e diretor técnico do hospital, Victor Hugo Parrilha Panont, acrescentando que, dos cerca de 700 trabalhadores que compõem a equipe do hospital, mais de 400 são profissionais de enfermagem e 72 são fisioterapeutas.

Para acolher os pacientes de longa permanência que mantém vínculos com suas famílias, o Hospital Guarapiranga permite a presença livre de acompanhantes durante o dia. É o caso de Maria das Graças Libarino de Lima, 54, que mora nas proximidades e todos os dias das 9h às 15h permanece ao lado da prima, Maria Aparecida Afonso, de 62 anos, que há três sofreu um AVC hemorrágico, com sequelas que incluem comprometimento motor e da fala. Há um ano, Maria Aparecida foi transferida do Hospital Municipal do Campo Limpo para o Guarapiranga. “Aqui ela tem fisioterapia todos os dias”, pontua a acompanhante, lembrando que a prima chegou ao hospital traqueostomizada e usando sonda, mas o trabalho realizado pela equipe permitiu a sua retirada.

Na ala pediátrica, a João de Barro, o pequeno Pedro, de 3 anos, é outro caso que espanta a própria equipe do hospital. O menino, que possui danos neurológicos decorrentes do nascimento, chegou ao local subnutrido e em ventilação mecânica. Agora, um ano depois, já se alimenta normalmente, ganhou peso e, com o auxílio de um andador, movimenta-se pela ala, que reúne ao todo seis crianças, todas dependentes de cuidados prolongados, várias delas sem vínculo familiar, como o próprio Pedro.

Na ala de cuidados prolongados para adultos, um dos pacientes é Eduardo Souza de Fonseca, 56 anos, é um paciente que há 10 anos convive com problemas cardiológicos e já completou 11 meses de sua terceira internação no Hospital Guarapiranga. “Tenho só 26% da capacidade do coração, mas aqui me sinto disposto e não fico só na cama, faço fisioterapia, saio para caminhar, pegar sol, este lugar é muito especial”, elogia.

Simone ressalta que o hospital busca criar um ambiente humanizado não apenas para os pacientes, mas também para os colaboradores, que, além do verde e da vista do lago da represa, contam com uma área de convivência que dispõe até de quadra esportiva. A calma dos dias atuais contrasta com o frenesi do período da pandemia de Covid-19, que exigiu muito de todos os profissionais.

A fisioterapeuta Alexia Veloso, que está no Hospital Guarapiranga há quatro anos e passou por todas as suas fases, reitera a vocação de unir cuidados, acolhimento e espaço aberto para os pacientes. “Mesmo os que estão em cadeira de rodas sentem-se melhor ao passar um tempo aqui admirando a natureza”.

A foto mostra uma enfermaria de hospital com destaque para duas camas; naquele que aparece em primeiro plano, uma mulher idosa recostada na cama e com um cobertor sobre seu corpo é alimentada na boca por uma profissional de enfermagem; em segundo plano aparece outra mulher, recostada na cama. A parede ao fundo é adornada com vitrais coloridos

Idosas na ala Arara, que exibe vitrais nas paredes (Acervo/SMS)

A foto mostra uma criança de costas; ela está em um andador em uma sala repleta de brinquedos e com as paredes decoradas com motivos infantis

O pequeno Pedro, um dos pacientes da ala pediátrica, anda pela brinquedoteca do espaço (Acervo/SMS)

A foto mostra um homem e uma mulher lado a lado, de pé; eles estão sorrindo e posando em frente a uma parede azul decorada com balões azuis, verdes e amarelos e na qual se lê “HMG 4 anos” em letras douradas

 Os gestores Simone e Victor Hugo: ambiente humanizado para pacientes e trabalhadores (Acervo/SMS)