I Seminário de Violência Doméstica no Itaim Paulista

13/03/2006 - Itaim Paulista

No dia 9 de março de 2006, a Casa de Isabel (centro de apoio à mulher, à criança e ao adolescente vítima de violência doméstica e em situação de risco) recebeu no CEU Curuçá no Itaim Paulista, personalidades ilustres engajadas na problemática da mulher.

A palestra teve início com um vídeo onde a Drª Sônia Regina Maurelli, presidente da Casa de Isabel e precursora do Seminário, explicava sobre os trabalhos realizados na Casa. Em seguida ela abriu o microfone, bastante emocionada e distribuindo agradecimentos a todos que direta e indiretamente ajudaram na existência e na permanência da Casa de Isabel.

Uma primeira mesa foi montada com a participação de representantes do governo local. Rogelio Nogueira Salgado, chefe de gabinete da Subprefeitura do Itaim Paulista, representando o Subprefeito Dr. Diógenes Sandim Martins, repetiu uma frase com a qual o Subprefeito havia homenageado as mulheres no dia anterior “quero saudar a melhor metade do mundo, as mulheres”, também participaram Dr. Henrique Francé, coordenador de Saúde da Região Leste, Professor Isaias Pereira Coordenador de Educação de São Miguel e Itaim Paulista e o Dr. Dirceu Ruiz Coordenador de Ação Social.

Um vídeo simulando a situação real, vivida por uma mulher que foi queimada pelo marido, mas que ainda convivia com ele, pois não tinha para onde ir e não conseguia emprego devido a deformidade que a queimadura deixou em seu corpo.

Na seqüência uma segunda mesa foi montada, dela fazendo parte a drª Roseli Oliveira, da Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo, que falou da importância da denúncia, do acolhimento e principalmente do adequado encaminhamento. Falou, do cuidado para se evitar a opressão silenciosa que destrói o homem e é passada despercebida em um simples comercial de tevê.

O secretario de Participação e Parceria, Gilberto Natalini, também compôs a mesa e falou sobre a importância da Casa de Isabel e do respeito que ela conquistou em todas as esferas de governo, falou também da Lei de sua autoria, que já foi aprovada e ainda não regulamentada, que trata da obrigatoriedade dos serviços de saúde fazerem cirurgias plásticas gratuitas em vítimas de violência. Também esclareceu que a Secretaria ainda este ano estará implantando seis casas de cidadania para mulheres, serão centros interdisciplinares de discussão e atenção ao gênero, nas mais variadas situações, e ainda, um acordo esta sendo fechado junto a OAB (ordem dos Advogados do Brasil) disponibilizando advogados gratuitos para dar assistência jurídica às vítimas. Comentou sobre a cartilha que esta sendo distribuída, com dicas muito objetivas sobre como proceder em situação de violência. E ainda, sobre o guia virtual com cinqüenta perguntas, sobre as dez principais doenças que atinge as mulheres. Ela responde no computador, imprime o resultado e leva ao posto de saúde para ser avaliado pelo médico, todos os centros de inclusão digital e no site da prefeitura ela poderá ter acesso. Disse que se encontra em fase de licitação a unificação da ficha de notificação compulsória sobre violência contra mulher.

Outra componente da mesa foi a srª Maria Elizabeth Pereira, da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, do governo federal, a qual reforçou a imagem que fora passado no vídeo e ressaltou que a realidade é ainda mais dura , pois a cada três minutos uma mulher morre por violência, porque as políticas publicas às mulheres, nunca foram encaradas com a seriedade necessária a ela, ou seja, a montagem de uma rede de atendimento em todas as esferas governamentais para resgatar a mulher por inteiro.

Em seguida o deputado João Caramez que ocupou outra cadeira na mesa de discussão, disse ser a questão da violência uma questão muito difícil e que não é para qualquer pessoa, requer muita dedicação, doação e pessoas que acreditem e apostem nos seres humanos, ressaltando a benevolência do trabalho que a drª Sônia Maurelli realiza no Itaim Paulista, disse que a legislação brasileira não prevê legalidade adequada a questão da violência doméstica e finalizou com uma frase de Madre Tereza de Calcutá “O ontem já se foi, o amanhã está por vir, então comecemos agora”.

A deputada federal Luiza Erundina, que também compôs a mesa e era bastante aguardada em seu discurso, começo parabenizando a Drª Sônia, pois ela, sem perceber naquele momento, estava criando uma nova pedagogia na forma de governo, pois ela conseguia reunir as três esferas de governo, independente de bandeira partidária, pois a questão da mulher vai além da antagonismo de partidos ou projetos.

Disse que quando conheceu a Casa de Isabel, um rapaz a marcou muito, pois ele colaborava voluntariamente, e ela o indagou sobre o porque daquele trabalho, e ele respondeu que era por vingança, para vingar com amor, com atenção tudo o que havia sofrido na infância e na adolescência.

Erundina falou que a dominação do homem sobre a mulher é reflexo da luta cultural de valores arraigados em nossa sociedade, seja a dos fortes sobre os fracos, a do opressor contra o oprimido, do jovem contra o idoso, do branco com o negro. Falou também que a realidade no Brasil ainda é muito cruel, pois de 1º de janeiro até seis de março de 2006, sessenta e nove mulheres haviam sido assassinadas só no estado de Pernambuco e que 60% delas foram mortas dentro da própria casa.

O poder deve partir de dentro de casa, pois são as mulheres que pariram estes homens, que educam estes meninos e acabam por reproduzir a dominação e a submissão pela qual ela mesma vai passar. É preciso partir para a busca do poder, pois enquanto não houver garantia do poder não haverá garantia dos direitos. E finaliza acrescentando, que saia daquele seminário satisfeita sabendo que programas como os da Casa de Isabel a levam a crer que o Brasil ainda tem jeito.