A Subprefeitura Itaim Paulista/Curuçá abrange os dois distritos que lhe conferem o nome, os quais ocupam respectivamente o segundo e o sétimo lugares no ranking da exclusão paulistana (Sposatti et. al, Mapa da Exclusão, 2000). O censo IBGE (2000) apontou que 15% dos chefes de família não tinham rendimentos e 45% recebiam menos de três salários mínimos mensais. A média de anos de estudos era dois anos inferior à média do município. À época, a RAIS indicava que o território contava com apenas 0,39% dos postos de trabalho do município, o que significava 1 emprego para cada 35 habitantes da população economicamente ativa. Do ano 2000 para cá não houve indicadores que revertessem este quadro, ao contrário, exceto a crescente organização social e a abertura de canais de participação civil com a consolidação das subprefeituras. Produto disto, o Plano Regional Estratégico (Lei Municipal 13.885/04) expressou as diretrizes para a animação econômica.
A gestão em curso deu um grande salto com a Câmara de Animação Econômica, criada nos moldes das agências de desenvolvimento local (ADL), com base no empreendedorismo e no associativismo, a fim de fomentar os arranjos produtivos locais (APL), em resposta ao novo paradigma econômico num mundo sem emprego (Rifkin, J.). De propositura feita pelo subprefeito Diógenes Sandim Martins, jutamente com um pequeno grupo de funcionários e empreendedores sociais voluntários, este projeto extraordinário às competências orgânicas da subprefeitura atraiu parceiros tais como a USP-Leste, a Fatec-Leste, o Banco do Povo, o SEBRAE, a Caixa Econômica Federal, o São Paulo Confia (microcrédito) e empresários locais.
O projeto estabeleceu como público-alvo os empreendedores emergentes e latentes, que sobrevivem da economia informal, com renda em torno da linha de pobreza. Por meio das bases de dados e da investigação em campo foram detectados cinco APL em potencial: reciclagem de resíduos sólidos, confecção, alimentação, artesanato (e a cultura e a informação nele coladas), e os micros prestadores de serviços. Em torno destes APL iniciaram-se as câmaras temáticas da reciclagem e da confecção, reunindo técnicos, empreendedores sociais e atores das respectivas cadeias produtivas. No ano de 2005 foram realizadas 80 reuniões, foram mobilizados 500 participantes e emergiram três cooperativas formais. O empresário Idi Sonda cedeu gratuitamente um galpão do Shopping Itaim para a economia solidária e, da mesma forma, o empreendedor imobiliário Geraldo Senal cedeu um salão para sediar a Câmara de Animação Econômica, num local privilegiado do centro comercial.
Trata-se de um programa desenvolvimentista de última geração, que se orienta pela metodologia sistêmica dos 6 Cs: conscientização, caça-talentos, capacitação, crédito, cooperação e comercialização. Os técnicos e os empreendedores sociais das câmaras temáticas exercem o papel de "coaching" - traduzindo, "treinador de time". Preliminarmente, a câmara temática identifica os talentos e o potencial dos APL em campo, com o auxílio das agentes comunitárias de saúde, as quais detêm profundo conhecimento e capilaridade no território. A câmara é o fórum em que os "empreendedores dos pés descalços" interagem e se consorciam. A câmara faz os encaminhamentos necessários aos canais de capacitação técnica e administrativa disponíveis, sobretudo do Sistema "S" - SEBRAE, SENAC, SENAI. Colabora na elaboração do plano de negócios e do estatuto de cooperativa dos pequenos empreendedores, caso optem por esta modalidade organizativa. Oferece orientação personalizada para agregar valor aos produtos, p. ex., de moda, artesanato e reciclagem. Orienta aos canais de microcrédito ou, quando este for inacessível - que é o caso dos mais carentes, pode lhes assistir na elaboração de projetos de captação de recursos junto aos patrocinadores. Por fim, a câmara temática encoraja e dá suporte técnico para o APL colocar os produtos no mercado.
(Texto: Rosane Segantin Keppke, gerente geral da Câmara de Animação Econômica)