Lapa de Baixo ganha a Rua das Cem Minas

Evento de grafite reuniu 126 mulheres na Lapa de Baixo

126 artistas enfrentaram o frio do último domingo, 26 de agosto, para participar do evento Cem Minas na Rua. Eram mulheres das mais variadas idades, de 16 até 78 anos, unidas no objetivo de realizar o maior evento de grafite feminino da cidade de São Paulo. Elas levaram cor, vida e muitas mensagens de empoderamento feminino aos muros da rua recém-nomeada Antônio Brito Marques, na Lapa de Baixo.

A via, que anteriormente era considerada uma continuação da Rua Heliodoro Ébano Pereira, ganhou agora mais um nome simbólico, que está estampado bem na esquina com a William Speers: Rua das Cem Minas.

O encontro de grafiteiras foi organizado pela Prefeitura Regional da Lapa, em parceria com a Virada Sustentável São Paulo e o apoio da Liberty Seguros. Além da pintura dos muros foram realizadas também apresentações artísticas totalmente femininas, que incluíram um show de MPB com o Obinrin Trio, uma intervenção artística de mulheres palhaças, chamada Casada Consigo Mesma, interpretada pela Companhia Asfalto de Poesia, e um show do grupo Baque Bolado, que tocou afoxé em cima de pernas de pau, em uma formação apenas com mulheres, fato inédito para o grupo que já tem mais de 20 anos de história.

Enquanto as artistas pintavam, cantavam e dançavam outras mulheres também conversavam. Em uma tenda apelidada de Espaço do Papo, aconteceram quatro rodas de conversa.

A primeira delas chamou-se Oficina de Conforto e foi uma troca de dicas e informações para mulheres que se interessam por pedalar. O grupo de ciclistas Bike Anjas quem guiou a conversa. Em seguida foi a vez da representatividade trans. A psiquiatra Ariadne Ribeiro e a atriz Wallace Ruy, ou Wallie, falaram dos desafios da inserção social e profissional das mulheres trans. Empoderamento e empreendedorismo feminino foram as pautas da roda de conversa do projeto Mulheres Seguras, da Liberty Seguros. Foram apresentados cases de empreendedoras, que trocaram experiências com a plateia sobre o caminho que já desbravaram. Fechando o dia, a vereadora Soninha Francine e a jornalista Ana Carolina Amaral comentaram como veem a importância de presença feminina em lugares de fala relevantes como os que ocupam.

O evento contou ainda com uma feira de artesanato e comida, organizada pela Associação de Amigos da Lapa de Baixo – AALB.

Durante todo o dia mais de mil pessoas circularam pela rua, parando, observando e muitas vezes elogiando a iniciativa. “Estamos muito felizes em receber uma ação tão linda, tão expressiva”, comentou Adriana Silva, membro da AALB.

Para as artistas a intervenção foi muito significativa por reunir tantas mulheres. “Sou artista de tela e estou aqui pela primeira vez pintando na parede. Tenho cinquenta e poucos anos e estou reinventando a minha vida”, comentou a artista plástica Katia Flora.

Outras artistas, como Jéssica Oliveira, também estavam no muro pela primeira vez. “Foi minha primeira experiência realizando um trabalho em muro, fui super bem recepcionada pela equipe do evento e literalmente abraçada por cada artista. Foi um dia de aprendizagem e novas experiências”, elogiou.


As idealizadoras


As donas da ideia de organizar um evento reunindo o maior número de artistas mulheres possível são Mariana Jorge, a Majo, e Madô Lopez. Para as duas o Cem Minas na Rua foi uma data marcante. “Foi como uma grande festa de irmãs. Foi mágico, foi muito forte e acredito que esse dia vai ficar no coração das minas pra sempre. Como legado para cidade creio que conseguimos mostrar a nossa potência e impor nossa presença que tantas vezes tentam apagar. Duvido que vamos seguir ouvindo que quase não tem mulher no grafite”, disse Majo.

Para ela, um ponto muito relevante foi a diversidade entre as artistas presentes. "Alguns pequenos detalhes que fizeram muito a diferença: a grande diversidade de manas, desde minas que estavam pintando na rua pela primeira vez até as artistas que são nossas referências, que têm mais de 20 anos de caminhada”, complementou.

Madô divide com ela a sensação de que a data foi especial. “Foi um encontrão muito lindo de mulheres maravilhosas, fortes, determinadas e perseverantes. Foi um role de fortalecimento acima de tudo, penso. Chega que me faltam palavras pra descrever com precisão alegria de ter vivenciado esse evento”, comemorou.


Prefeitura Regional da Lapa


O Cem Minas na Rua foi o quarto evento de arte de rua realizado pela Prefeitura Regional da Lapa no ano de 2018. Antes da Rua das Cem Minas foram revitalizadas a Viela Ema Ângelo Murari, no Centro da Lapa, a passagem sob os trilhos da CPTM (Companhia Paulista de Trans Metropolitanos) conhecida como Toca da Onça e os muros à beira do Córrego da Água Branca, ao lado da Comunidade da Água Branca. O prefeito Regional da Lapa, Carlos Fernandes, destaca a arte de rua como uma forma de recuperar a autoestima da população. “Você recupera, revitaliza, faz com que as pessoas voltem a ter orgulho e vontade de cuidar do local. Acredito muito na arte de rua como uma forma de ocupação saudável da cidade”, conclui.

Mulheres grafiteiras pintam muro ao lado do Condomíno Central Park Lapa


Grafiteira colore muro na Rua Heliodoro Ébano Pereira com sua arte

Ao todo, mais de 100 mulheres participaram do evento, que fez parte da Virada Sustentável 2018

Além do grafite das mulheres, evento também teve outras atrações, como shows musicais

Barracas de artesanato e de comida de rua atraiu público, que mesmo num dia nublado, compareceu em bom número