Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa

Mistérios da Rua Augusta desvendados por super-heróis

Fonte: O Estado de S. Paulo

Livia Deodato

Era o ano de 2000 e a peça Antiga, escrita por Dionísio Neto, estava no fim de sua temporada. O ator e dramaturgo decidiu voltar para casa caminhando, após breve reunião na casa de Helena Ignez, musa do cinema novo que participava da montagem. Fez da Rua Augusta o seu trajeto para alcançar a Avenida Sumaré, onde morava. Foi quando se deu conta de que era a primeira vez que percorria todo o trecho da via que só não é mais paulista que a avenida. Guardou todos os detalhes e contradições da rua que liga o Centro aos Jardins. “A idéia era criar um espetáculo que desmistificasse essa história de que os Jardins são glamourosos e o Centro é decadente. As duas características se misturam em vários pontos”, opina.

Sete anos depois, a Companhia Satélite, dirigida por Dionísio, teve apoio do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo. O projeto inicial, segundo o dramaturgo, estava orçado em R$ 600 mil, por abranger um documentário, seis edições de um jornal, duas performances e o espetáculo. O Fomento destinou a metade do verba requerida, cerca de R$ 300 mil. “Fizemos um milagre”, sentencia Dionísio. A peça Os Dois Lados da Rua Augusta, que estréia hoje, às 21 horas, na esquina das Ruas Estados Unidos e Augusta, foi realizada em 11 meses (10 deles destinados à pesquisa e 1 aos ensaios) e será apresentada somente quatro vezes.

Por que tão pouco tempo em cartaz? “O custo do espetáculo é muito alto. Tem o aluguel do ônibus onde os atores e o público percorrerão a Rua Augusta, equipamentos tecnológicos (os atores usam microfones sem fios), as autorizações expressas da CET, Detran, das Polícias Civil e Militar. Tudo é muito burocrático”, justifica. Segundo Dionísio, o espetáculo em si custaria apenas R$ 40 mil, sem contar os cachês do elenco e da equipe técnica. No entanto, uma vez que não desistiram da idéia de fazer com que o projeto multimídia saísse do papel, o investimento acabou sendo maior.

Seis atores interpretam personagens muito conhecidos dos paulistanos descolados, como, por exemplo, o oráculo Ibotirama Bologna (Raquel Marinho) ou o augusto Sarajevo Ouro Fino (Pedro Sérgio Noizyman), escritos por Dionísio sob medida para cada ator. Eles são super-heróis que perderam seus poderes e devem encontrar um medalhão enterrado na Rua Augusta. Juntam-se a eles mais 15 atores recrutados em workshops. A peça é gratuita e a reserva com nome e telefone deve ser feita pelo e-mail producao@companhiasatelite.com.