Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa
Miss Kittin sacode o domingo
DJ, cantora e produtora, ela apresenta seu "déja-vu" esperto dos anos 80 no Skol Beats, das 6h às 8h
Francesa, que prepara novo disco, foi uma das principais responsáveis pelo renascimento do electro no início dos anos 2000
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Por alguma razão que talvez apenas a teoria do caos consiga explicar, entre 2000 e 2001 a música pop foi invadida pelos anos 80. Sintetizadores, vocoders, a new wave, o penteado mullet -praticamente tudo referente àquela década foi resgatado e incorporado no inconsciente coletivo. Muita gente se jogou no furacão, mas poucos saíram ilesos como Miss Kittin.
Na eletrônica, esse revisionismo apareceu dentro do electro, cujas batidas secas e vocais metalizados foram revigorados com tintas oitentistas principalmente pela gravadora alemã International Deejay Gigolo. Produtora, DJ e cantora, a francesa Miss Kittin (ou Caroline Hervé) fez parte dessa turma.
Mas, esperta, imprimia em suas faixas uma ironia refinada. Como na emblemática "1982", em que dizia: "O DJ toca déja-vu/ Como se estivéssemos em 1982". Essa e outras faixas do de seu primeiro disco, "First Album", devem entrar no set que Miss Kittin fará no Skol Beats, festival que acontece em São Paulo na sexta e no sábado.
Miss Kittin não perdeu a verve no álbum seguinte, "I Com" (2004), em que deixou entrar influências até do funk. Pouco antes de desembarcar no Brasil, ela contou por telefone à Folha como deve ser o próximo disco, em preparação.
"Gosto de imaginá-lo como um disco sobre pessoas fortes, que venceram a dor, que lutaram contra seus medos e que estão aqui, para compartilhar suas experiências e fazer do mundo um lugar melhor", filosofa. "Falo de amigas minhas, por exemplo, garotas que passaram por muitas dificuldades, que se tornaram pessoas melhores e que fazem coisas legais. É como um diário do que eu vi nos últimos dois anos."
No Skol Beats, Miss Kittin se apresentará como DJ. Vai tocar em uma das tendas do festival das 6h às 8h de domingo. "Sempre me considerei muito mais DJ [do que cantora ou produtora de música]. Mas, depois de 13 anos tocando em clubes, preciso de novos desafios. Como DJ, atingi um nível que, honestamente, não sei se conseguirei superar, que é tocar e cantar em cima de algumas músicas", diz.
"Estar num estúdio e dar à luz uma canção é algo mágico, puro. Eu não me sinto exposta; estou no controle, concentrada na música, nas palavras, nada mais. Nos clubes, às vezes me sinto desconectada do que está acontecendo, pois não faço parte do estilo "sexo, drogas e rock and roll" que acontece em volta de mim. Não é essa dance music que eu quero defender."
O fato de cantar em cima de algumas canções diferencia Miss Kittin de outros DJs. "Muita gente vai me ver por causa dos vocais. Da mesma forma que outros DJs usam efeitos eletrônicos, os vocais são parte de meu set. Comecei a cantar porque ficava entediada entre uma música e outra."
Dupla transmite energia roqueira ao festival
Canadense MSTRKRFT mostra faixas de seu 1º CD
DA REPORTAGEM LOCAL
Se o electro foi a onda no início dos anos 2000, a dance music de hoje tem seus estrobos voltados para o rock. Dos artistas que promovem essa mistura, o Skol Beats terá dois nomes: os ingleses Simian Mobile Disco e os canadenses MSTRKRFT (ou "masterkraft" sem as vogais).
O MSTRKRFT tem uma curiosa conexão com o Brasil. Porque é formado pela dupla Jesse Keeler e Al-P (Alex Puodziukas). O primeiro fazia parte do finado Death from Above 1979, que está na canção "Let's Make Love and Listen to Death from Above", hit do grupo paulistano Cansei de Ser Sexy.
"Eu conheci o pessoal do CSS na França, tocávamos no mesmo festival. Fui até algumas das meninas da banda e me apresentei. Disse que fiquei emocionado por causa da canção, afinal não são muitas bandas que inspiram canções", contou Keeler à Folha.
Atração do primeiro dia do festival, o MSTRKRFT mostrará, por meio de laptops e CD players, as faixas de seu disco de estréia, "The Looks" (06). E podem ser ouvidos em remixes para Bloc Party e Gossip.
Do álbum, não lançado no Brasil, saiu pelo menos um sucesso, a música "Easy Love". Sobre a apresentação em SP, ele explica: "Dividimos o DJ set em dois. Metade com canções nossas e outra metade com músicas de outras pessoas."
A música do MSTRKRFT possui batidas pesadas, que dão um clima roqueiro à pista. A possibilidade de tocar todo o tipo de música foi o que motivou Keeler a encerrar o Death from Above. "Com o MSTRKRFT, decidimos na hora o que faremos. Com uma banda isso não é possível, você está preso às suas canções."
Para Keeler, a dance music é território mais criativo do que o rock. "Na dance music, um artista pode criar uma faixa realmente nova e ela tornar-se hit. No rock a criatividade não é recompensada. Se você faz uma música original, ela não será tocada. Por exemplo, veja o [grupo australiano] Jet. Eles fazem canções que soam como outras canções velhas, mas o público faz disso um hit..."(TN)
HAND TALK
Clique neste componente para ter acesso as configurações do plugin Hand Talk