Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa

O novo MAC

Fonte: Folha de S. Paulo
 

Projeto de Niemeyer para o prédio do Detran prevê rampa externa e a destruição de dois andares


FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Oscar Niemeyer, 99, autor do projeto do prédio do Detran, de 1954, no parque Ibirapuera, já está desenhando a adaptação do próprio edifício que irá se tornar o Museu de Arte Contemporânea da USP.
Há dez dias, Niemeyer recebeu o governador José Serra e o secretário estadual de Cultura, João Sayad, em seu escritório, no Rio, e lhes entregou o primeiro esboço com as sugestões para o prédio, junto com um texto explicativo sobre a proposta, ambos publicados, com exclusividade, nesta página.
"Será um novo edifício", disse Niemeyer, por telefone, à Folha, na quinta-feira. "O Serra pediu uma idéia, e eu achei que, com novas medidas, é possível transformar o prédio em museu de forma satisfatória".
Basicamente, o arquiteto propõe três mudanças: 1) que a circulação do edifício seja realizada por um bloco externo ao prédio original, com um elevador para subida e uma rampa para descida; 2) que o museu tenha sete andares, em vez de nove -para tanto, dois pavimentos serão quebrados, fazendo com que dois andares tenham pé direito superior a seis metros, mais adequados a exibições contemporâneas; 3) que a fachada, atualmente em vidro, seja tapada, para dar maior condição de abrigar exposições.
Com isso, o parque Ibirapuera torna-se uma região direcionada à cultura, ao reunir o Museu Afro-Brasileiro, a Bienal e o Museu de Arte Moderna, além dos prédios da Oca e Prodam -oferecido ao MAM, mas não aceito, o que faz com que a prefeitura busque outra forma de ocupação.
"Esse foi um achado do Serra, de olhar para o prédio do Detran e pensar o que ele está fazendo aqui", contou Sayad, à Folha. Segundo o secretário de Cultura, a reforma do edifício foi calculada em R$ 30 milhões e será totalmente custeada pelo governo do Estado, enquanto a manutenção do museu continuará a ser feita pela USP.
O novo museu deve ser inaugurado no final do próximo ano, para a comemoração dos 101 anos de Niemeyer. Para tanto, de acordo com Sayad, foi definido que o Detran irá desocupar o edifício até o fim de janeiro de 2008, a um custo de R$ 3,7 milhões. Com essa mudança, o núcleo administrativo irá ter sede na rua Boa Vista e os serviços prestados serão descentralizados pela cidade.
O MAC possui cerca de 8 mil obras, além de manter a guarda da coleção do banqueiro falido Edemar Cid Ferreira, com cerca de 1,5 mil trabalhos.
Com sua atual sede no campus da USP mais o espaço no pavilhão da Bienal, o museu não consegue expor sequer 1% de seu acervo, quando normas internacionais indicam que o mínimo adequado seja 20%. Agora, ao receber quase 20 mil m2 de área expositiva, a instituição pode se aproximar dos padrões sugeridos.
Além do edifício central, o conjunto do Detran possui três prédios anexos, entre eles um auditório, que, segundo Ronaldo Bianchi, secretário-adjunto da Cultura, "serão utilizados como reserva técnica, área administrativa e ateliê".
A reforma será conduzida por José Carlos Süssekind. "Por sua proximidade com Niemeyer, achamos que é a pessoa adequada para cuidar do novo museu", contou Sayad.
Niemeyer, que comemora cem anos em dezembro, prepara ainda a criação de um centro cultural para a Fundação Príncipe de Astúrias, na Espanha. "Eu tenho 60 anos, 100 é sacanagem. Se pensar só nessa idade, eu perco a esperança", filosofa o arquiteto brasileiro com maior prestígio internacional.

Explicação necessária

OSCAR NIEMEYER

Um projeto de arquitetura exige sempre um texto explicativo e, quando se trata de um simples croqui como o que deixei em suas mãos, essa explicação se faz necessária ainda.
Daí este pequeno texto que acredito indispensável para a boa compreensão do meu croqui.
Examinando a idéia de transformar um prédio administrativo com 10 pavimentos num museu, a primeira coisa que ocorre é encontrar as soluções adequadas que um museu exige. Seria inconveniente, praticamente impossível, manter o sistema de circulação existente, com o público a subir e descer de elevador e escada ao visitar o museu. Importante, o fundamental seria criar um sistema de circulação diferente.
Foi o que fiz, prevendo um elevador mais confortável que levasse o público ao último andar do museu. Daí descendo por uma larga rampa intimamente ligada aos salões de exposições, transformando a visita ao museu num simples passeio em que os salões e a rampa se ligassem naturalmente.
E projetei esse bloco de acesso fora do edifício, dando ao antigo um aspecto arquitetônico inteiramente diferente. É claro que outras coisas deveriam ser alteradas, que dois dos pavimentos do prédio teriam de ter o pé direito mais alto, o que nos obrigaria a fazer grandes aberturas nos tetos, assegurando ao andar a imponência desejada.
É claro que para haver mais espaços internos para exposições as janelas da fachada principal seriam fechadas. O ar condicionado seria restaurado e a iluminação dos salões, refeita como um grande teto iluminado. O piso e os detalhes internos modificados, como seria indispensável.
Eis, prezado governador José Serra, o que acho fundamental ao explicar o croqui sobre o projeto em discussão.