Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa

Terça-feira, 10 de Novembro de 2015 | Horário: 15:27
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Documentário de Rodrigo Siqueira estreia no Cine Olido

Com sessões a partir de 18 de novembro, “Orestes” adapta tragédia grega de Ésquilo para o Brasil atual

Procurador do estado de São Paulo, Maurício Antônio Ribeiro Lopes 
faz papel da acusação em juri simulado

Por Gabriel Fabri

Escrita por Ésquilo em 458 a.C., a tragédia grega “Oréstia” trazia o julgamento de Orestes, o primeiro tribunal do júri do qual se há registros. Diretor do documentário “Orestes”, Rodrigo Siqueira explica que essa peça traz uma representação do avanço da democracia ateniense – pela primeira vez, um homem era julgado por um de seus semelhantes, e não por um deus. Pensando nessa questão da construção da democracia, o cineasta resolveu adaptar o texto de Ésquilo para o Brasil atual. “Eu escolhi essa peça porque eu queria entender como essa construção poderia ocorrer hoje no Brasil. Ela foi encenada há quase 2500 anos, e agora é história recente”, afirma. “O filme tem várias camadas que permitem ao espectador refletir sobre a realidade brasileira, sobre essa construção que estamos empenhando”. A preço popular de um real, o documentário chega ao Cine Olido no dia 18 de novembro, integrando o projeto Em Cartaz no Cine Olido.

Para realizar o longa-metragem, Siqueira escreveu uma peça jurídica descrevendo um caso fictício de assassinato, inspirado no personagem de Orestes, que na tragédia de Ésquilo matou a própria mãe para vingar a morte do pai. Na adaptação do cineasta, há uma inversão: Orestes mata o pai, um torturador anistiado em 1979, para vingar a morte da mãe. O documento, escrito também com base em relatórios de militantes mortos pela ditadura militar, foi entregue a Maurício Antônio Ribeiro Lopes, hoje procurador do Estado de São Paulo, e a José Carlos Dias, ex-Ministro da Justiça e membro da Comissão Nacional da Verdade. O primeiro ficou responsável pela acusação e o segundo pela defesa de Orestes em um júri simulado que ocorreu na Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo) e que é registrado no filme.

Além do julgamento, o documentarista organizou também sessões de psicodrama que envolviam pessoas cujas vidas foram marcadas pela ditadura militar ou pela violência do Estado brasileiro atual, trazendo famílias de jovens mortos pela polícia militar e um ex-policial, por exemplo. Entre os participantes, destaca-se uma senhora que trabalha em um grupo de apoio a vítimas de violência, defensora da pena de morte.  

Tanto o júri simulado quanto o psicodrama têm em sua essência um caráter teatral. “Se você for ao Fórum Criminal da Barra Funda assistir a um julgamento, você vai perceber muito desse jogo de cena. Ali, a oratória tem uma importância muito grande, a ação de quem fala, o corpo, também. E tem o público, formado por jurados”, explica o cineasta. Já o psicodrama usa o teatro como uma forma de terapia, para externar sentimentos coletivamente.  Siqueira afirma que busca trabalhar com a questão da teatralidade do real, desde o seu filme de estreia, “Terra deu, terra come”, que mostra um contador de histórias atuando para as câmeras.  “Me interessava essa aproximação do real com o dramático, no sentindo de representação dramática”, afirma. “E eu pude juntar esses dois elementos para construir esse documentário que também é uma adaptação de uma peça de teatro”.

Entre as muitas histórias relatadas no longa-metragem, destaca-se o caso de Nasaindy Barret, cuja mãe Soledad Barret, ex-guerrilheira, foi assassinada em 1973, após ser delatada por um ex-companheiro, o militar conhecido como Cabo Anselmo. 

Serviço: Cine Olido. Av. São João, 473. Próximo das estações República, Anhangabaú e São Bento do metrô. Centro.| tel. 3331-8399 e 3397-0171.  Dias 18, 20 e 25, 19h.  Dias 19, 20 e 22/11 e 3, 4 e 5/12, 17h. De 20 a 22 e de 24 a 29/11, 15h. R$1. 

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