Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa
Segunda mesa de debate da Semana de Valorização do Patrimônio discute a Preservação de Edificações ligadas à Saúde e a Ciência
Na última terça-feira, dia 17 de agosto, a Secretaria Municipal de Cultura, por meio do Departamento do Patrimônio Histórico, realizou a segunda mesa de debate entre os eventos da Semana de Valorização do Patrimônio, que teve início na última segunda-feira, 16. O projeto acontece entre os dias 16 e 20 de agosto e conta com a temática “Dinâmicas de Preservação”.
O segundo encontro, “Patrimônio da Saúde e da Ciência”, mediado por Walter Pires, membro do DPH, se propôs a discutir as vicissitudes da preservação de edificações protegidas como patrimônios culturais, nas quais funcionam importantes instituições relacionadas ao tema da saúde e da ciência, considerando a relevância do tema na atualidade.
O debate trouxe entre os convidados a dupla formada pela historiadora Amanda Caporrino e pela arquiteta Adda Ungaretti, ambas atuantes na Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo (UPPH) e especialistas no tema da Rede Paulista de Profilaxia da Hanseníase. Além delas, também estiveram presentes o arquiteto e pesquisador Anderson Félix de Sá, mestre em História pela USP, cuja pesquisa investigou a Preservação do Patrimônio Arquitetônico no Instituto Butantan; e o tecnologista sênior e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, Renato Gama-Rosa Costa.
Do passado ao presente: reflexões sobre o patrimônio relacionado à hanseníase no contexto da pandemia de Covid-19
A mesa abriu com a palestra “Do passado ao presente: reflexões sobre o patrimônio relacionado à hanseníase no contexto da pandemia de Covid-19”, apresentada por Caporrino e Ungaretti, que trouxeram um estudo temático referente às instituições ligadas ao tratamento da hanseníase, a partir de um panorama sobre a doença que incluiu discussões sobre as causas e as tentativas de tratamento da infecção conhecida como “lepra”. Adda relacionou essas tentativas às medidas tomadas frente à pandemia de COVID-19, destacando a insistência no uso de medicamentos como ivermectina e da hidroxicloroquina. A partir de paralelos como esse, as pesquisadoras mostraram como o patrimônio ligado à hanseníase poderia ajudar a compreender melhor o momento atual, pensando, ainda, numa compreensão da História da Saúde Pública dentro do Estado de São Paulo.
Caporrino retomou a dimensão histórica e social envolvida no contexto da hanseníase, doença que carregou um estigma moral e religioso desde a Idade Média e que, no início do século XX, teve alarmante presença no Estado de São Paulo, levando à criação de hospitais e leprosários. A historiadora destacou que a doença só passa a ser combatida de fato a partir de uma ação coordenada caracterizada pela criação de Políticas Públicas, iniciadas pela instituição do DPN (Departamento Nacional de Saúde), em 1920, e pela desconstrução progressiva de ideais eugenistas e sanitaristas em detrimento do avanço científico e do tratamento humanitário.
Além disso, as atuantes destacaram a arquitetura dos emblemáticos Asilos Colônia, como o Asilo Colônia Pirapitingui, em Itu, destinados ao tratamento da hanseníase – e mostraram como elas se relacionam diretamente com o posicionamento dirigido ao paciente, caracterizado pelo isolamento social, moral e até familiar. “Hoje em dia, nos EUA, esses hospitais são dedicados ao tratamento da COVID por quem não acredita na eficácia da vacina” disse Adda.
Por fim, foram levantadas questões sociais ligadas aos estigmas e preconceitos relacionados à hanseníase e ao desenvolvimento da ciência no século XX, que possibilitou uma visão mais coerente e humana em relação à infecção. Caporrino questiona, no contexto da COVID-19, até que ponto a crescente tendência ao negacionismo no Brasil traz a “perda” desse olhar e do valor desses avanços.
Patrimônio arquitetônico no Instituto Butantan
Anderson Félix de Sá trouxe uma apresentação focada na História do Instituto Butantan, que está completando 120 anos, a partir do “espaço construído e o patrimônio arquitetônico como fios condutores, dialogando com seus aspectos históricos, políticos, administrativos e científicos”.
O recorte escolhido aborda desde a Fundação do Instituto até os anos 50, momento em que já está consolidado o núcleo histórico da instituição, quando parte de seu terreno é desmembrado em função da construção da Cidade Universitária.
De acordo com Anderson, a escolha do bairro da Zona Oeste de São Paulo para o núcleo não vem por acaso, mas reflete as condições e a visão acerca da ciência no Brasil da época de sua construção, em 1901, chamada de “miasmática”. Essa proposição, que entendia a transmissão de doenças por vapores e miasmas, deu origem a todo o pensamento acerca do sanitarismo e do urbanismo que privilegia a ventilação e a insolação, e também favoreceu o desenvolvimento da microbiologia.
A partir dessa reflexão, Anderson trouxe fotografias e dados históricos que evidenciam a mudança arquitetônica do espaço, que inicialmente é pensado enquanto cocheira-enfermaria, seguindo uma arquitetura conhecida como “linha higiênica”, com poucos ornamentos, que sustentam a proposta racionalista e moderna. Essa preocupação, marcada pela simetria e ventilação, guia as primeiras intervenções no projeto, que tinha o nome de “Instituto Serumtherapico de S. Paulo”, voltado à criação de vacinas e soros. No final da década de 1910, o Instituto passa a ser planejado, também, como instituição voltada à formação de cientistas.
As transformações que marcam o Instituto, portanto, como demonstrou o arquiteto, são indissociáveis de novas funcionalidades ou de novos desdobramentos de suas funções originais, sem nunca perder o norte racionalista e moderno que guia sua construção desde o início, preservando, assim, seu viés científico e inovador. Segundo ele, atualmente, tem-se a preocupação de mostrar elementos estéticos e arquitetônicos que fizeram parte da história do Instituto Butantan, como algumas técnicas de construção, que mostra seu duplo movimento de inovação científica e importância histórica e cultural.
Ações de Conservação em Patrimônio Institucional: a experiência do DPH da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz
Por fim, Renato Gama-Rosa Costa trouxe um panorama da preservação da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, fundada em 1900 e tombada em 1981, e que recentemente ganhou o título de Patrimônio Nacional da Saúde Pública. Costa ressaltou a importância da entidade nos campos arquitetônico, urbanístico, ambiental, artístico e arqueológico e descreveu as diversas ações tomadas ao longo desses anos no sentido de garantir a preservação desse patrimônio.
A Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz é uma unidade da Fundação Oswaldo Cruz dedicada à pesquisa, ao ensino e ao registro da história da saúde pública e das ciências biomédicas no Brasil. Em seu acervo, ela guarda fotografias, filmes, documentos, peças museológicas e depoimentos orais que compõem um retrato da evolução do trabalho de sanitaristas no país desde o século XIX.
16a Semana de Valorização do Patrimônio:
Mesa 2 - Patrimônio da saúde e da ciência
Convidados:
Adda Ungaretti e Amanda Caporrino | Do passado ao presente: reflexões sobre o patrimônio relacionado à hanseníase no contexto da pandemia de Covid-19
Anderson Félix de Sá | Patrimônio arquitetônico no Instituto Butantan
Renato Gama-Rosa Costa | Ações de Conservação em Patrimônio Institucional: a experiência do DPH da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz
Mediação: Walter Pires (SMC/DPH)
Serviço: https://youtu.be/c_S_fdhPD7o
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