Prefeitura de São Paulo

A ideia do sarau surgiu do desejo de oferecer um espaço de encontro para que funcionários e usuários pudessem apresentar sua arte

Por William Amorim

Com a arte emanando de cada canto da sala multiuso do CEU Campo Limpo, o CAPS Álcool e Drogas (AD) 3 realizou, no último dia 27 de fevereiro, a quarta edição do Sarautopia.

Diversos tipos de manifestações artísticas foram realizadas simultaneamente. Números musicais que variaram do hip-hop a MPB e poesias foram recitadas de livros e até celulares enquanto eram feitas pintura em tela e desenhos. Em outro espaço, livros de doações ficaram expostos para quem quisesse escolher e levar para a casa sem nenhum custo. A bateria organizada pelo grupo de música da unidade encerrou o encontro.

A ideia do sarau surgiu do desejo de oferecer um espaço de encontro para que funcionários e usuários pudessem apresentar sua arte. “É mais do que uma atividade, é uma encontro de cultura, de arte, de promoção à cidadania. É um espaço onde os pacientes vão poder reconquistar um papel social que com o uso da droga foi se perdendo”, afirma a psicóloga da unidade Beatriz Barone Guida.

Mais do que um recurso terapêutico, um reconstrutor de cidadania

Todas as edições anteriores do Sarautopia tiveram boa aceitação. Tanto que, durante os processos de preparação, os usuários ficam muito comprometidos com o evento e, com isto, houve melhora progressiva no quadro clínico. Daí surgiu a necessidade de expandir o evento, culminando com a realização da ação pela primeira vez fora da unidade.

Uma das responsáveis pelo evento, a terapeuta ocupacional Tânia Canhadas conta que, sendo realizado dentro da unidade, o evento fica muito restrito a usuários e funcionários, mas em locais públicos há a possibilidade de um contato com outras pessoas. “No sarau, usuários podem se encontrar e estar em relação com o mundo e não só entre pacientes. Não queremos oferecer mais do mesmo, mas sim algo que faça diferença na vida deles. Aqui eles não são pacientes dependentes de álcool e drogas, eles são artistas, poetas, pintores, cantores”, afirma Tânia.

“Desconstruindo muros até o sonho aparecer”

Vários grupos estão envolvidos com o evento, como o de música, culinária e o ateliê de experimentações artísticas. Todas as sextas-feiras, o período da tarde é reservado para os participantes do sarau elaborem e ensaiem suas apresentações.

O artista de rua Alexandre Fernandes Alves, usuário do CAPS AD 3 Campo Limpo, participa do grupo de prevenção a recaída, relaxamento, esportes e de todos que envolvem arte, pois acredita que essas atividades colaboram bastante com o tratamento. “Infelizmente eu tive um problema com drogas, usei vários tipos, comecei com o álcool, depois cigarro, maconha, cocaína e me afundei de vez com o crack. Já estou a seis meses sem essa substância, mas ainda tenho compulsão pela bebida. Por isso, frequento o CAPS”, afirma o artista de rua.

Essa foi a primeira vez que ele participou do Sarautopia. “Já fui a outros saraus que não eram do CAPS e eu não participava, ia vender meus quadros do lado de fora, mas rolavam drogas e bebidas. Esse é um sarau, vamos dizer, ‘careta’ (gíria usada para eventos sem álcool e drogas). Aqui estou aprendendo que todos podemos nos divertir sem precisar ficar ‘doidão’”, disse.

Integração

O evento também contou com a participação de funcionários e usuários do CAPS AD 3 Jardim Ângela. Os usuários fizeram apresentações de paródias abordando o tema álcool e drogas, resultado do trabalho realizado no grupo de música da unidade.

Serviço:
CAPS Álcool e Drogas 3 Campo Limpo
Endereço: Rua Domingos Bicudo, 385 - Campo Limpo
Funcionamento: de segunda a sexta das 7h às 19h.