Secretaria Municipal da Saúde

Terça-feira, 25 de Outubro de 2016 | Horário: 17:41
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CnRua Pari promove atividade interativa contra a discriminação da população de rua

Intervenções artísticas e educativas apresentam histórias que vão além da rua

 

Por Rosângela Rosendo

Provocar e sensibilizar os usuários e trabalhadores sobre a população em situação de rua na região da AMA/UBS Integrada Pari foram as propostas da Semana da Luta contra a Discriminação da População em Situação de Rua que a equipe do Consultório na Rua da unidade promoveu de 17 a 21 de outubro.

A partir de uma série de intervenções educativas, artísticas e musicais, os organizadores buscaram dialogar com os usuários e trabalhadores na sala de espera da unidade sobre os diversos assuntos que permeiam a realidade e as dificuldades das pessoas que estão em importante situação de vulnerabilidade social e vivem na rua. Temas como violência urbana, discriminação e preconceito, prevenção de doenças como DST/AIDS e tuberculose, entre outros, foram alguns dos destaques da semana.

Quem compareceu à unidade pode conferir o Teatro do Oprimido – Violência contra a população de Rua; Teatro de Fantoches sobre Tuberculose; Sarau e A vida da população de Rua Travesti e Transexual; Teatro sobre discriminação da população em situação de rua, e dinâmica Entra na Roda (para todos os trabalhadores da unidade) – A população em situação de rua e o Consultório na Rua. Durante as atividades participaram toda a equipe do CnRua Pari, usuários tanto do CnRua quanto da unidade e convidados.

Entre outras dinâmicas, a agente social de Saúde do CnRua e ex-moradora em situação de rua, Samira Alves Matos, provocou o público na sala de espera com perguntas sobre o que significa a sigla LGBT (Lésbica, Gay, Bissexual, Travesti e Transexual). Na sequência, a agente destacou a estranheza das pessoas diante daquilo que não conhecem e a importância de respeitar uns aos outros, independente da situação.

 

“Em alguns casos, há pessoas em situação de rua que acabam sofrendo dupla discriminação, seja porque vivem na rua e outra devido à opção sexual. Conheço algumas travestis que estão na rua e acabam morrendo porque não querem ir à unidade fazer atendimento médico, pois têm medo de serem discriminadas. Todo mundo tem direito. O preconceito está tão impregnado na pessoa que ela acha que não tem direito algum”, relatou Samira, que há quatro anos saiu das ruas, refez a vida e hoje estuda Serviço Social. “A reinserção é difícil, mas o acolhimento com humanização é fundamental para ajudar as pessoas”, explicou.

Saudosa Maloca

Além das dinâmicas apresentadas esta semana, a equipe do CnRua Pari montou uma exposição Fotovoice, técnica em que dez moradores de rua atendidos pela equipe foram convidados a fotografar o que lhes representa a fala – como é a minha vida (pergunta). O objetivo foi o de promover a quebra do estigma quanto à pessoa em situação de rua.

A enfermeira da equipe do CnRua Pari, Lidiane Damares Ferreira Barbosa, explicou que a ideia da exposição foi trazer a população para conhecer o mundo das pessoas que vivem em situação de rua e são discriminadas. “Construímos uma espécie de ‘maloca’ na unidade com as fotos dos usuários, onde as pessoas poderiam entrar e perceber que o ‘mundo da maloca’ não é tão marginalizado como todo mundo pensa. Pois qualquer um de nós poderia estar em situação de rua. Poderia ser meu pai, meu irmão... Queríamos mostrar algumas histórias que estão por trás dessa maloca”, disse.

Na exposição foi realizada homenagem ao agente de saúde do CnRua Pari, Edelson José da Silva, que morreu em 7 de outubro. “Edelson superou várias dificuldades, retomou o vínculo com a família, tornou-se um colega de trabalho e era muito querido por toda a equipe. A exposição Fotovoice foi dedicada à memória dele”, enfatizou Lidiane.

Desafio Mais Saúde na Cidade

A enfermeira da equipe do CnRua Pari, Lidiane Damares Ferreira Barbosa, explicou que a iniciativa partiu do projeto Desafio Mais Saúde na Cidade - O Cuidado humanizado às Pessoas em Situação de Rua: Vencendo Desafios. Segundo Lidiane, o projeto quer reforçar e comprovar que o paciente assistido pelo Consultório na Rua necessita de cuidados, mas, sobretudo, de atendimento multidisciplinar e integral.

“Isso porque, na maioria dos casos, os usuários chegam desorientados, sem documentação, sem local para dormir e com fome. E não é só prescrevendo remédio que seu problema será resolvido. Existem muito mais coisas por trás de resgate mesmo do paciente e da assistência à saúde. Daí entra a intervenção de toda a equipe do consultório, do médico que vai avaliar, do enfermeiro que irá acompanhá-lo em algum serviço de saúde, do assistente social pra ver um abrigo ou albergue, do psicólogo”, explicou Lidiane.

A enfermeira destacou que a estratégia e comprometimento da equipe resultaram em ações bem-sucedidas. “Tinha um paciente em situação de rua que já havia abandonado o tratamento de tuberculose sete vezes. Quando veio para o CnRua conseguimos a cura completa. Neste caso, a médica todo dia seguia para a rua medicar esse paciente, o pesava na balança da farmácia do bairro”, contou.

Atualmente, a equipe do CnRua é formada por seis agentes comunitários de saúde, dois agentes sociais, duas médicas (20horas), uma assistente social, um psicólogo, um auxiliar administrativo, dois auxiliares de enfermagem e uma enfermeira.

 

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