Secretaria Municipal da Saúde
Saúde municipal lança linha de cuidados para mulheres na menopausa

A ginecologista Karina Cidrim (de rosa) conversa sobre menopausa com grupo de mulheres atendidas pela UBS Arrastão (Acervo/SMS)
A dona de casa Jacira Lima Franco de Souza, 59, entrou no que chama de um processo de “definhamento” a partir dos 40 anos, com um misto de cansaço, falta de energia e depressão que a atingiu e que afetou todas as áreas de sua vida, do casamento ao trabalho. Foi só há um ano, ao começar a frequentar a Unidade Básica de Saúde (UBS) Jardim Mitsutani, na zona sul da capital, que Jacira, junto com o clínico geral e a ginecologista da unidade, descobriu a raiz dos seus males: ela, como tantas outras mulheres, havia sido “atropelada” pelo climatério e pela menopausa.
“Ninguém, ao longo de todos esses anos, recomendou a terapia hormonal que teria feito tanta diferença na minha qualidade de vida”, lamenta Jacira, que hoje, pelo tempo transcorrido desde que entrou na menopausa, não pode mais usar hormônios e apenas aplica um creme para atenuar o ressecamento e a atrofia vaginal que inclusive dificultou a realização do exame Papanicolau ao longo de anos. “Eu sentia uma dor horrível e sangrava”, conta ela, que resolveu parcialmente as enxaquecas e insônias que a acompanharam ao longo de 15 anos, mas ainda sofre com as ondas de calor, os chamados fogachos.
Da mesma forma que ocorreu com Jacira, que em pouco mais de 30 dias teve acolhimento, atendimento e acesso a exames de rotina na UBS Jardim Mitsutani, mulheres em busca de respostas para os inúmeros sintomas do climatério deverão ser acolhidas de forma integral pelas equipes multi nas unidades de saúde da capital, de acordo com a nova Linha de Cuidados para a Mulher no Climatério, Menopausa e Pós-Menopausa. O documento, elaborado pela Área Técnica de Saúde da Mulher da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), deve ser lançado até o final deste ano.
A linha de cuidados soma-se à revisão do Protocolo de Terapia Hormonal em Mulheres na Pós-Menopausa e/ou Climatério, publicada no primeiro semestre deste ano. “Sabemos que a menopausa é um período fisiológico na vida da mulher, mas isso não significa que não possamos melhorar sua qualidade de vida, uma vez que tanto o climatério quanto o pós-menopausa, que hoje podem durar até um terço da vida, são marcados por uma série de sintomas que podem angustiantes, incômodos e mesmo representar riscos para a saúde”, comenta a coordenadora da Área Técnica de Saúde da Mulher da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), Ligia Santos Mascarenhas, lembrando que só na cidade de São Paulo existem mais de 4 milhões de mulheres na faixa etária dos 40 aos 70 anos.
Ela explica que, mais do que a dispensação de hormônios das farmácias municipais, o objetivo do protocolo e da linha de cuidados é lançar um olhar sensível para esta condição, a chamada síndrome do climatério, o que inclui uma abordagem multidisciplinar e integrada, com a participação de profissionais como médicos, enfermeiros, nutricionistas, farmacêuticos, psicólogos e fisioterapeutas.
Dos ossos até o coração
Afinal, são muitos os sintomas associados ao climatério (transição biológica que marca o fim do período reprodutivo da mulher), que é selado com a menopausa (a última menstruação, diagnosticada após um período de 12 meses sem menstruar), e seguido pela pós-menopausa, que vai até o fim da vida.
Para os ossos, as consequências da baixa de hormônios femininos como o estrogênio e a progesterona incluem a perda da massa óssea, com risco de fraturas; para o sistema cardiovascular, o aumento de riscos de hipertensão, infarto e AVC, devido à queda do estrogênio; entre os sintomas vasomotores estão as intensas ondas de calor conhecidas como fogacho, que afetam cerca de 70% a 80% das mulheres na menopausa.
Já os sintomas cognitivos e emocionais do climatério e menopausa podem incluir irritabilidade, ansiedade, depressão e transtornos de memória; outras consequências são as mudanças metabólicas que levam ao ganho de peso, com aumento de risco para doenças como o diabetes, a redução do colágeno, com o envelhecimento da pele, e o ressecamento das mucosas, que leva à secura vaginal; para completar, também pode haver a perda do desejo sexual.
Terapia hormonal pode ser prescrita por médico generalista
“Existem múltiplas abordagens disponíveis no SUS para tratar estes sintomas, como medicamentos fitoterápicos, práticas integrativas e complementares como acupuntura, auriculoterapia e yoga, acompanhamento nutricional e psicológico, realização de atividades físicas, entre outros”, exemplifica Ligia, acrescentando que a elas soma-se a terapia de reposição hormonal, que pode ser prescrita pelo clínico geral, médico da família ou ginecologista a partir do relato dos sintomas pela paciente e, muito importante, da avaliação de possíveis contraindicações. Entre as contraindicações absolutas para a terapia hormonal estão câncer de mama, do endométrio, trombose venosa profunda, doenças coronarianas e hepáticas.
As terapias hormonais disponíveis nas farmácias municipais também levam em conta se a pessoa tem útero ou não (ou seja, se passou por histerectomia). A terapia estrogênica para uso oral ou vaginal é indicada para pacientes que passaram por histerectomia, enquanto a terapia combinada, com estrogênio e progesterona, é indicada para pacientes com útero.
“Desde que não haja contraindicações a terapia hormonal é bastante segura e traz ganhos em qualidade de vida e na redução dos sintomas, mas cada caso deve ser avaliado individualmente, com a tomada de decisão sendo compartilhada por médico e paciente”, ressalta a coordenadora da AT da Saúde da Mulher, enfatizando que um dos objetivos da linha de cuidado e do protocolo é justamente trazer o assunto para o dia a dia das unidades, de forma que os profissionais possam auxiliar as mulheres em suas dúvidas e anseios.
Espaço de acolhimento
Afinada às diretrizes da linha de cuidado, a ginecologista Karina Cidrim, que atendeu Jacira na UBS Jardim Mitsutani e também atua nas UBS Arrastão, ambas geridas pela organização social de saúde Einstein Hospital Israelita, vem trabalhando o tema da menopausa de forma totalmente integrada à equipe multi das unidades; na Mitsutani ela atende em consultas, enquanto na Arrastão mantém parte das manhãs de terça-feira dedicadas ao atendimento por livre demanda das pacientes, além de circular pelo território para conversar, tirar dúvidas e, sempre que necessário, direcionar aquelas com necessidades mais específicas para consulta ou atendimento de outros profissionais.
Na última terça-feira de setembro, a médica encontrou um grupo de pacientes da UBS Arrastão em um espaço de uso coletivo cedido às agentes comunitárias de saúde Maria Odenia e Liciana Milani. O tema do encontro foi saúde da mulher, com foco na menopausa, e ao longo de quase duas horas Karina tirou dúvidas e conversou com cerca de 10 mulheres, com idades variando dos 40 aos 80 anos. Entre outros tópicos, enfatizou que, além dos calorões, sintoma bem conhecido por tantas, o climatério e pós-menopausa também afetam a saúde mental, na medida que a queda hormonal pode desencadear um quadro depressivo.
Do grupo, apenas Vera Lúcia Souza da Silva faz reposição hormonal e relata uma grande melhora na qualidade de vida. Ela elogia a iniciativa da UBS: “Existe muito mito, muito receio de falar na menopausa, e temos que quebrar esse tabu, o que felizmente vem ocorrendo com o auxílio das equipes nas UBSs, porque há muito que pode ser feito para que a menopausa deixe de ser sofrimento, um bicho de sete cabeças”, comenta a moradora, que participava do grupo de saúde pela primeira vez.
“As pacientes no climatério e menopausa trazem muitas questões, e essa abordagem feita por uma equipe multidisciplinar, com psicóloga, nutricionista e outros profissionais, é sempre mais rica e mais atenta; nos grupos conseguimos identificar as mulheres que precisam de um cuidado individual, mas mesmo para as que não precisam, estar em comunidade e acessar informação e troca de experiências é sempre um ganho”, comenta a ginecologista.
Caso tenha sintomas relacionados à menopausa ou outros, busque a sua Unidade Básica de Saúde de referência.
Os endereços de todos os equipamentos de saúde da capital podem ser consultados na plataforma Busca Saúde.
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