Secretaria Municipal da Saúde

Terça-feira, 30 de Setembro de 2025 | Horário: 17:00
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SUS 35 anos: São Paulo oferece 221 equipamentos exclusivos para tratamento de doenças mentais e dependência do uso de álcool e drogas

Equipes multidisciplinares elaboram projetos terapêuticos individuais para a reabilitação, prevenção e reinserção dos pacientes na sociedade
A imagem mostra um grupo de pessoas sentadas ao redor de uma mesa retangular branca, participando de uma oficina de artesanato com fios coloridos. Sobre a mesa estão espalhados novelos de lã de várias cores (rosa, azul, laranja, marrom), além de materiais de apoio como tesoura, papéis, caixas organizadoras e garrafa. Cada participante segura linhas ou agulhas de crochê, concentrado na atividade. O ambiente é simples e claro, com paredes brancas e algumas pequenas decorações fixadas nelas. A cena transmite um clima de aprendizado coletivo, foco e troca de experiências manuais.

O tratamento da saúde mental em São Paulo passou por profundas transformações ao longo dos 35 anos do Serviço Único de Saúde (SUS). A rede municipal de saúde dispõe de uma estrutura articulada com ampla variedade de equipamentos e serviços para o atendimento de pessoas com sofrimento ou transtorno mental e/ou com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, de acordo com as diretrizes da Rede de Atenção Psicossocial (Raps) do SUS.

“A Raps tem o conceito de atuação integrada de equipamentos e serviços para garantir que a pessoa tenha o atendimento correto e no lugar correto, de acordo com a necessidade e o grau de complexidade de cada caso”, explica Claudia Ruggiero Longhi, diretora da divisão de saúde mental da Secretaria Municipal da Saúde (SMS). “A estratégia de rede articulada para cuidar da saúde mental só tem no SUS. Nenhum convênio ou atendimento privado oferece essa gama de serviços conectados. E é por isso que a maior parte dos tratamentos em saúde mental é feita na rede pública, que atende a toda a população”.

Cada equipamento que compõe a Raps tem sua própria estratégia de funcionamento. Eles contam com equipes multidisciplinares, compostas por psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas, que desenvolvem projetos terapêuticos individuais voltados à reabilitação, prevenção e reinserção dos pacientes na sociedade.

Equipamentos exclusivos para doenças mentais e dependência de álcool e drogas:
103 Centros de Atenção Psicossocial (Caps)
74 Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT)
23 Centros de Convivência e Cooperativa (Cecco)
16 Unidades de Acolhimento (UA)
3 Serviços Integrado de Acolhida Terapêutica III (Siat III)
2 Serviços de Cuidados Prolongados (SCP)

Mudança de paradigma
O ponto de virada no tratamento de doenças mentais foi a Reforma Psiquiátrica, movimento liderado por profissionais de saúde em meados da década de 1970, que defendia a desinstitucionalização, isto é, a substituição dos manicômios por uma rede de serviços de atenção psicossocial, com atendimento integral, humanizado e em liberdade.

Até então, os pacientes eram levados para os manicômios contra a sua vontade e sem autorização para sair, com tratamentos que priorizavam o uso de medicamentos. “Os pacientes ficavam em quartos coletivos gigantescos nos hospitais psiquiátricos, sem contato com o mundo exterior, com tratamentos focados apenas no atendimento médico e sem o olhar para o indivíduo. E os profissionais de saúde perceberam que esses tratamentos não promoviam a reabilitação dos pacientes”, conta Cláudia.

Em São Paulo, a rede municipal de saúde não tem mais hospitais psiquiátricos.

“A Reforma Psiquiátrica |representou uma mudança de paradigma para o tratamento da saúde mental. Ela provocou um novo olhar para o cuidado integral e a autonomia do paciente, bem como a sua reintegração social com a família, o trabalho e a comunidade”, destaca Cláudia. 

Atendimento e reabilitação
A porta de entrada para o atendimento em saúde mental são as Unidades Básicas de Saúde (UBS) e os Centros de Atenção Psicossocial (Caps). A partir deles, o paciente pode ser encaminhado a outros equipamentos, conforme cada caso. Vale destacar que a adesão aos tratamentos e a permanência nos equipamentos são voluntárias.

Todos os Caps trabalham em regime de porta aberta, isto é, sem necessidade de agendamento ou encaminhamento. Os 103 Caps são divididos conforme a sua especificidade: 34 infantojuvenis, 34 adultos, e 35 álcool e drogas. Desse total, 46 funcionam como Caps III e um como Caps AD IV, que oferecem vagas de acolhimento integral, nas quais os pacientes podem permanecer para tratamento durante os estados mais agudos da doença por até 15 dias.

As Unidades de Acolhimento (UA) são serviços residenciais de caráter transitório (com tempo de permanência determinado), nas modalidades adulto e infantojuvenil, que atendem pessoas com necessidades e/ou uso de álcool e drogas, que apresentem vulnerabilidade social e/ou familiar e precisam de acompanhamento terapêutico e proteção temporária.

Já as pessoas com grave dependência de álcool e drogas, em situação de vulnerabilidade e/ou risco social, são encaminhadas para os Serviços de Cuidados Prolongados (SCP), onde permanecem por até 90 dias e posterior seguimento do cuidado.

Os equipamentos do Serviço Integrado de Acolhida Terapêutica (Siat III) oferecem tratamentos para pessoas em situação de rua decorrentes do uso de álcool e drogas. Com permanência de até dois anos, esses espaços oferecem projetos de qualificação profissional e inserção no mercado de trabalho.

Os pacientes com transtornos mentais crônicos, oriundos de internações de longa permanência em hospitais psiquiátricos ou de custódia que precisam de cuidados e apresentem vulnerabilidade, são acolhidos nos Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT).

Todos os equipamentos da rede municipal oferecem terapias individuais e em grupo, dependendo de cada caso. “Acredito que a terapia em grupo é sempre mais potente que o atendimento individualizado porque propicia a troca entre pares. Ela é muito rica porque possibilita que o paciente identifique na fala do outro, certas questões que ele precisa trabalhar consigo mesmo”, avalia Cláudia.

Os espaços também contam com grupos de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (Pics), que propõem abordagens terapêuticas preventivas para auxiliar no tratamento, como arteterapia, musicoterapia, meditação e artesanato.

As Pics são, aliás, o foco dos Centro de Convivência e Cooperativa (Ceccos), que promovem diversas atividades voltadas à saúde (ioga e tai chi chuan), oficinas de artes plásticas (desenho, cerâmica, pintura em tecido, telas), e manualidades (tricô, crochê, tear, bijuteriais). “As práticas artesanais têm uma dupla função: são formas de reabilitação terapêutica, no sentido de desenvolver novas técnicas e habilidades, como também podem estimular a capacitação e se tornar formas de trabalho e geração de renda”, diz Cláudia.

Vale destacar que a cidade também oferece tratamento psicológico regular nas UBSs, além de atendimentos de urgência e emergência nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e nos Prontos-Socorros.

Recomeço
Há quatro meses, E.L.G. C, de 61 anos, começou o tratamento de transtorno bipolar, ansiedade e síndrome do pânico no Caps Adulto III Paraisópolis, unidade gerenciada pelo Einstein Hospital Israelita. “Passei por muitas perdas neste ano. Minha mãe, avó e tios faleceram. Também tive perdas financeiras porque fui afastada do trabalho e meu padrão de vida diminuiu. E ainda tem as questões de saúde porque sou diabética, hipertensa, cardiopata e descobri que tenho fibromialgia”, conta. 

Ela frequenta o Caps de segunda a sexta-feira, das 8 horas às 17 horas, onde faz o tratamento com o psiquiatra e participa de vários grupos, como terapia, culinária, artesanato e atividades físicas. “No grupo de mulheres, falamos sobre vários temas e cada uma conta as suas vivências. Também aprendi técnicas de pintura e macramê no grupo de artesanato que pretendo usar no futuro para empreender. Todos os grupos são terapêuticos”, diz. 

Elma conta que já percebe a sua melhora. “Eu sinto que estou melhorando. Meus familiares também percebem isso. Meu irmão até me falou que eu estou me encontrando no Caps. E só tenho a agradecer porque sou atendida com muita atenção e cuidado por todos os profissionais”.

Imagens de apoio: https://we.tl/t-khDdJWXL8q

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