Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa

Adélia Borges faz balanço de gestão

Fonte: O Estado de S. Paulo

Após 4 anos de direção e revitalização do Museu da Casa Brasileira, ela participará de projetos da secretaria municipal da Cultura

Camila Molina

É uma coincidência: Adélia Borges começou sua gestão como diretora do Museu da Casa Brasileira em maio de 2003 e vai deixar o cargo agora, em maio de 2007. Para marcar sua saída, ela inaugura no sábado duas mostras: uma exposição permanente com obras do acervo do museu e ainda Desenho Anônimo, que reúne centenas de criações de imigrantes italianos e alemães, feitas entre os séculos 19 e 20 no Rio Grande do Sul e Santa Catarina (leia abaixo). Mas, muito mais do que isso, sua saída é marcada por uma revitalização do museu dedicado ao design e à arquitetura, duas áreas, por assim dizer, 'marginais' dentro das artes visuais, como diz Adélia. 'O grande desafio foi fazer uma sucessão de exposições e atividades para apresentar o design e a arquitetura para o público da área e para o leigo, mostrá-los muitas vezes dentro do contexto de suas vidas, e não somente seus lados técnicos.' Nesse sentido, uma ação foi apresentar a riqueza do design popular.

O esforço deu certo: já no primeiro ano de sua gestão, Adélia Borges conseguiu uma guinada na visitação do Museu da Casa Brasileira: por exemplo, em fevereiro de 2003 foram contabilizados 24 visitantes; em fevereiro de 2004, 3.973 - enfim, entre 2003 e 2006 a freqüência cresceu 444%. 'Acho que quantidade não é única medida, mas é um indicador se acoplada a uma programação de qualidade', diz Adélia. Jornalista, mineira de Cássia, ela começou a fazer curadoria de exposições de design em 1994 - também é autora de diversos livros sobre o tema. Em 1997, foi convidada a dirigir o Museu Brasileiro da Escultura. 'Mas fiquei apenas três meses porque achei que não seria possível fazer o que estava imaginando para lá', diz. Já em relação ao Museu da Casa Brasileira, órgão da Secretaria de Estado da Cultura, pensou que poderia.

Entre suas primeiras iniciativas estava a de abrir por inteiro os portões de ferro do casarão que pertencia a Fábio da Silva Prado e Renata Crespi, um espaço bem localizado e bonito na Avenida Faria Lima - a construção, datada dos anos 1940, tem jardim interno de 6.600 metros quadrados. Outra, ainda, foi a de implementar um serviço educativo e de pesquisa. 'Quando entrei, havia apenas duas monitoras, que eram também bilheteiras. O serviço educativo foi o primeiro projeto que fiz para Lei Rouanet. Acho essencial, ele é a forma como o visitante vai ter a sua relação com o museu.' Segundo ela, atualmente oito funcionários trabalham nesse setor. 'Eventualmente, dependendo da exposição, conseguimos um quadro extra. Também disponibilizamos, desde 2004, ônibus gratuito para escolas públicas e ONGs da periferia', continua.

Haviam outros problemas, de estrutura interna, entre eles, goteiras e multas relacionadas à calçada. 'Como o museu não era unidade orçamentária da Secretaria de Cultura, tínhamos de negociar caso a caso, então, foram reformas difíceis. Mas conseguimos boas coisas. A mais importante foi ter feito, em parceria com a Fundação Vitae, uma reserva técnica (custou R$ 44,7 mil). O processo começou em 2003, quando entrei, mas foi liberado em 2005', diz Adélia. 'O tempo, no museu, é muito lento', como ela afirma.

No início os recursos destinados à manutenção eram de R$ 15 mil mensais. Em abril de 2006, quando a instituição passou a ser uma Organização Social, o orçamento da secretaria destinado a ela foi de R$ 1,5 milhão para o ano passado - (R$ 45 mil mensais para folha de pagamento). Em setembro houve uma denúncia ao Ministério Público sobre suspeitas de irregularidades nas contas do Museu da Casa Brasileira e do Museu da Imagem e do Som, mas até hoje não houve desdobramento desse episódio. 'O Ministério Público não formalizou nenhuma ação judicial. Por enquanto, tudo está se dando via imprensa. O que posso assegurar é que absolutamente todos os recursos que entraram no museu foram empregados em suas atividades culturais. Estou preparada para demonstrar isso no campo judicial. Esse museu tem uma aparência ostentosa, digamos, chique, mas seus recursos sempre foram exíguos', defende Adélia.

Passado esse assunto, vale dizer outros feitos: a exposição de mais destaque foi a sobre Santos Dumont, no ano passado; houve ampliação para o espaço do jardim do projeto Música no Museu, com apresentações todos os domingos; realização de palestras (118 profissionais falaram com o público); restauro de 53 peças do acervo formado por 319 obras; a aquisição de 18 novos trabalhos do século 20 para a coleção; a intensificação do Prêmio Design MCB (criado em 1986) - 'na minha gestão o aproximamos do setor produtivo e a premiação voltou a atrair grandes nomes do design brasileiro', resume Adélia -; e a criação de um acervo de fotografia sobre o inventário da casa brasileira. Agora ela aceita novo desafio. Convidada pelo secretário municipal da Cultura, Carlos Augusto Calil, vai trabalhar em projetos de formatação da Casa Modernista e do Museu do Folclore.

NÚMEROS

444% de aumento

da freqüência de visitantes no período entre 2003 e 2006

44,7 mil reais
foram usados para a criação da reserva técnica do museu, projeto feito em parceria com a Vitae

1,5 milhão de reais
foi o orçamento dado em 2006 pela Secretaria de Estado

319 peças
formam o acervo tombado do Museu da Casa Brasileira

18 obras
de criadores do século 20 foram incorporadas à coleção nessa gestão

8 funcionários fixos
integram o setor antes inexistente de educação e pesquisa

Duas mostras marcam sua saída da instituição

No sábado, ela inaugura a exposição Desenho Anônimo e um espaço permanente com obras do acervo

Como diz Adélia Borges, o acervo do Museu da Casa Brasileira tem predominância de peças do século 19. 'Então, procurei trazer para a coleção obras significativas do século 20, de momentos importantes do móvel brasileiro', afirma a diretora. Em sua ampliação do acervo, tombado tal como é o de toda instituição estadual, ela trouxe de volta, primeiro, obras que haviam saído do museu e sido mandadas para outros locais, como uma rede do artesanato sorocabano do começo do século 19. Depois, foi atrás da aquisição (por doações) de trabalhos de 'nomes brasileiros obrigatórios' que não figuravam na coleção como Sergio Rodrigues - representado agora pela Poltrona Mole (1957) e Poltrona Diz; Paulo Mendes da Rocha (com sua cadeira Paulistano), Lina Bo Bardi (que assinou com Marcelo Ferraz e Marcelo Suzuki a cadeira Girafa); José Zanine Caldas; e um vaso de Mário Seguso, 'o primeiro designer de vidro do País, um imigrante que vive em Poços de Caldas', diz a diretora.

Essas são algumas das obras que estarão presentes na mostra Coleção Museu da Casa Brasileira, que vai ocupar permanentemente um salão reformado dentro do prédio (uma área da casa antes destinada aos dormitórios e banheiros, que teve suas paredes removidas para ficar contínua), projeto do arquiteto e coordenador de exposições da instituição, Giancarlo Latorraca. 'Será um espaço com exposições sempre renovadas para se ter uma flexibilidade e promover novas leituras do acervo', afirma Adélia.

Ao mesmo tempo será inaugurada a exposição temporária (até 8 de junho) Desenho Anônimo - Legado da Imigração no Sul do Brasil, com peças da grande coleção de Carlos de Azevedo Moura. São objetos do dia-a-dia criados por imigrantes italianos e alemães, entre 1824 e início do século 20, que revelam sua inventividade espontânea e seus costumes. Há portas com os desenhos e cores peculiares de cada estilo dos países; um curioso pilão de três faces desenhado para comportar em cada uma delas um tipo de grão; além de brinquedos; garrafas; e móveis, entre tantos objetos feitos em madeira, ferro, ligas de metais, cerâmica e porcelana.

A mostra, que tem curadoria do colecionador e arquiteto e do artista plástico Alfredo Aquino, apresenta ainda 75 fotografias de época e cartões-postais para traçar esse painel da imigração.

(SERVIÇO)
Desenho Anônimo e Coleção Museu da Casa Brasileira. Museu da Casa Brasileira. Av. Faria Lima, 2.705, 3032-3727. 3.ª a dom., 10 h às 18 h. R$ 4 (dom. grátis). Abertura sábado, 18 h