Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa

Forma e conteúdo

Fonte: O Estado de S. Paulo
Você sempre passa por eles, mas nunca repara. Muitas vezes, porém, valem mais do que a programação em cartaz

Alex Xavier

São Paulo é uma cidade que misturou diversas tendências arquitetônicas em suas construções. Muitas delas acabam ofuscadas por inúmeros motivos, entre eles, a programação cultural, apresentada a cada semana pelo Divirta-se. Nesta edição, decidimos desviar o olhar do que está acontecendo para o que está sempre ali: elegemos como atração principal a história e o valor dos edifícios que dão forma a seja lá o que estiver em cartaz. Listamos, então, alguns edifícios que, apesar de receberem muitos visitantes atrás de mostras de cinema, exposições, concertos, peças de teatro e até drinques, quase sempre ficam em segundo plano. Da próxima vez, não custa nada dar uma olhada ao redor.

Acima do colarinho

Inaugurado em 1948 pelo alemão Henrique Hillebrecht, o Bar Brahma (Av. São João, 677, Centro, 3333- 0855) foi ponto de encontro de artistas, intelectuais e políticos até entrar em decadência. Reaberto em 2001, teve mudanças na área externa da Avenida São João. Mas o interior foi restaurado e até móveis e objetos - como cadeiras, lustres e os pianos de meia-cauda - foram recuperados, mantendo o clima boêmio antigo.

Quem não sai mais dali é o crooner Cauby Peixoto, que se apresenta na terça (17). Na quarta (18), quem canta é Wando. E na quinta (19), os 'garotos' dos Demônios da Garoa.

A entrada pela Avenida Ipiranga, esconde uma área mais aconchegante, o Brahminha. Um american bar também funciona, às vezes, como espaço cultural informal.

O porquê da boa acústica

Em 1938, o edifício da Estação Júlio Prestes foi erguido para acompanhar o crescimento da cidade. Restaurado, passou a abrigar a Sala São Paulo (Pça. Júlio Prestes, s/nº, Luz , 3223-3966), casa da Orquestra Sinfônica e um dos espaços mais modernos para concertos da América Latina. Construído no estilo Luís 16, tem ornamentos e detalhes sóbrios.

Nenhuma, pois está em recesso desde o início de julho e só voltará em 2 de agosto, com o regente Fabio Mechetti e o solista Asier Polo, no violoncelo.

A restauração - e readaptação - do prédio é modelo. Respeita o patrimônio cultural e, mesmo assim, dá um uso moderno para uma obra tão antiga.

O segredo do banco

Antes uma agência bancária, a sede do Centro Cultural Banco do Brasil (R. Álvares Penteado, 112, Centro, 3113-3651) é tombado pelo patrimônio histórico. São cinco andares em um eclético edifício de esquina. Colunas, luminárias, as portas de latão e o piso de mosaico veneziano foram todos restaurados. Até dois dos cofres foram mantidos. E ainda foi possível implantar novos espaços, como o cinema e o teatro.

Fachada antiga, interior hi-tech

Em 2006, 150 anos depois da inauguração da Estação da Luz, seu belo prédio em estilo bem britânico (já que foi feita pelos ingleses) recebeu o Museu da Língua Portuguesa (Pça. da Luz, Centro, s/nº, 3326-0775).

A intervenção coube ao arqui- teto Paulo Mendes da Rocha, que soube aproveitar os espa- ços antes isolados do projeto original para criar um museu multimídia moderno, sem prejudicar a antiga fachada.

Além dos eventos regulares, o museu abriga a mostra 'Clarice Lispector - A Hora da Estrela' até setembro. Nas férias, ainda há oficinas variadas. E espetáculo grátis. No sábado (14), música e histórias para crianças às 15h e 16h30.

Primeiro, vale a pena circular pela própria Estação, admirando os arcos no teto. No museu, entenda como os corredores do edifício original viraram um extenso túnel, a Grande Galeria que é a principal atração do museu.

Vista preservada pelo vão

Quando a Prefeitura cedeu o espaço para o futuro Museu de Arte de São Paulo (Av. Paulista, 1578, 3251-5644) exigiu que a vista para o Centro no vale da Avenida 9 de Julho fosse preservada. Para isso, a arquiteta Lina Bo Bardi criou um edifício único sustentado por quatro pilares com um vão livre de 74 metros. Até a rainha Elizabeth II se impressionou na inauguração, em 1968.

Além de obras do acervo, com peças de Metsys e Toulouse Lautrec, até domingo (15) segue a mostra 'Darwin', sobre as idéias do pai da teoria da evolução.

Mesmo com Picasso e Van Gogh no acervo, o destaque é o vão livre criado por Lina Bo e perfeitamente executado pelo engenheiro José Carlos de Figueiredo Ferraz. Fábrica fashion

Foi o ousado projeto da arquiteta Lina Bo Bardi para o Sesc Pompéia (R. Clélia, 93, 3871-7700) que definiu o modelos dos demais prédios da entidade, também ambiciosos. Utilizando a área de uma antiga fábrica, Lina não só a restaurou como fez intervenções com alma de artista em toda a sua área. Só vacilou nas cadeiras do teatro, folcloricamente desconfortáveis.

Até setembro, a criançada se diverte com a mostra 'Mundo Livro', um galpão inteiro sobre literatura. O sambista João Borba se apresenta no teatro na sexta (13), às 21h.

Olhe para o alto. O conjunto de torres do centro cultural é uma obra de arte modernista. Pontes unem os dois edifícios principais e a torre cilíndrica lembra uma chaminé.

Fora das páginas dos livros

Mais recente loucura arquitetônica da cidade, a Livraria Cultura do Conjunto Nacional (Av. Paulista, 2.073, 3170- 4033) devolveu ao paulistano o espaço do antigo Cine Astor. Já compararam à Ateneu de Buenos Aires, localizada no espaço restaurado de um teatro. Algumas pessoas vão lá para comprar livros. Mas bom mesmo é circular.

As férias escolares estão movimentadas para a garotada. A livraria oferece de shows de mágica a contação de história, quase todos os dias, às 16h.

Vá ao último andar e admire o conjunto do alto tentando lembrar - se for do seu tempo, claro - o que restou do velho cinema. Depois, mate a nostalgia no café. A caixa de música

Inaugurado com polêmica em 2005, o Auditório Ibirapuera (Parque Ibirapuera, Portão 2 , 5908-4299) estava no projeto de Oscar Niemeyer desde 1950. O arquiteto criou um bloco único que parece um triângulo de um lado e um trapézio de outro. Tudo branco, como a vizinha Oca, com o qual integra um conjunto geométrico impressionantemente simples.

Em julho, entrou em recesso. Mas já na semana que vem retorna com três shows dos músicos performáticos do O Teatro Mágico e, no fim do mês, Meninos do Morumbi.

Repare na gigantesca escultura de Tomie Ohtake, nas paredes e no forro do foyer. Toda em gesso, fez com que Niemeyer alterasse a rampa de acesso à platéia.

Interligado

Em 1982, quando o Centro Cultural São Paulo (R. Vergueiro, 1.000, Paraíso, 3383-3402) foi apresentado à população, parecia ridículo querer colocar um edifício de dois andares cravado entre as avenidas Vergueiro e 23 de Maio - e quase despencando na segunda. Mas os arquitetos Eurico Prado e Luís Telles resolveram arriscar. De linhas arrojadas, o prédio tem várias entradas de luz natural e consegue concentrar diversas atividades culturais.

Tem de tudo. O projeto Sintonia do Rock traz bandas de sexta (13) a domingo (14). Na sala Lima Barreto, filmes do comediante italiano Totò. E de teatro, em espaços diferentes, 'No Retrovisor', 'A Sessão da Tarde' e 'Três Paredes e Meia'.

Visto por quem circula na 23 de Maio já é interessante. Mas dê uma chegada à cobertura, que parece uma praça suspensa com boa vista para a região. Repare também no jardim onde estão preservadas duas araucárias. Rococó por justa causa

Com o incêndio do Teatro São José na Praça João Mendes, em 1898, a cidade precisou de um novo espaço cultural. Este foi o Theatro Municipal (Pça. Ramos de Azevedo, s/nº, centro, 3222-8698), ousado projeto de Ramos de Azevedo, com forte influência da Ópera de Paris, com arquitetura de traços renascentistas barrocos do século XVII. Inúmeras obras de arte compõem a decoração, como mosaicos, vitrais, mármores, cristais e paredes decoradas.

Na quinta (19), às 21h, o teatro sai do recesso com a apresentação do Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo, lembrando os 110 anos da morte do compositor alemão Johannes Brahms.

Estão espelhadas por toda parte. São obras de arte como bustos, medalhões, paredes decoradas, cristais, colunas neoclássicas, vitrais, bronzes e mosaicos para espectadores atentos. De volta à Era de Ouro

Primeiro cinema da cidade especialmente para filmes sonoros, em 1929, o Paramount viveu uma Era de Ouro, recebendo disputados bailes de carnaval e festivais de música até ser parcialmente destruído por um incêndio em 1969. Agora, como o Teatro Abril (Av. Brig. Luís Antônio, 411, 6846-6000) virou a casa dos musicais grandiosos, mas preservando muitos detalhes da obra original.

Desde que abriu, o teatro destina seu palco a montagens de musicais da Broadway, com elenco nacional e traduzidos para o português. Acaba de abrir temporada de 'Miss Saigon', com sete sessões por semana.

Os detalhes. Veja as colunas do hall de entrada, com capitéis decorados por carrancas, ou o lustre do salão. A fachada é adornada com cinco portas de ferro trabalhado e outros enfeites. Pós-arcos

O edifício onde hoje está instalada a Pinacoteca do Estado (Pça. da Luz, 2, Luz, 3229-9844) foi projetado por Ramos de Azevedo em 1897 para abrigar o Liceu de Artes e Ofícios. Já foi sede de várias repartições públicas e até um quartel. Em 1998, Paulo Mendes da Rocha realizou sua reforma, com a intenção de levar para o Centro, área desvalorizada, um pouco de cultura. Acabou ganhando pelo trabalho o Prêmio Mies van der Rohe, de Barcelona, em 2000.

O museu recebe, até agosto, a exposição 'Imagens do Soberano', sobre a família real francesa, do acervo do Palácio de Versalhes.

O prédio é considerado uma obra inacabada, já que os tijolinhos à mostra, que dão um charme todo especial, não eram para ficar assim no projeto. Linhas clássicas

Depois de várias reformas, o Theatro São Pedro (R. Barra Funda, 171, 3667-0499) perdeu muitas das características que tinha quando foi construído, em 1917, pelo imigrante português Manoel Fernandes Lopes. Mas quem vai até lá pode apreciar as linhas de estilo neoclássico do prédio, os vitrais franceses e os lustres tchecos, ainda preservados.

Ainda que a casa receba mais concertos e operetas do que peças de teatro, esta semana a atração é a montagem espanhola 'Medea - La Extranjera'. A estréia é na 5ª (19), às 20h30. Vai até 22/7.

As colunas revestidas por cortinas de veludo vermelhas e verdes são clara alusão à Portugal, pátria do antigo proprietário, Manoel Fernandes Lopes. Repare na inspiração art nouveau da casa.

Tijolo à vista

Fois só em 1992 que ocorreu a mudança da sede da Cinemateca (Lgo. Sen. Raul Cardoso, 207, V. Mariana, 5084-2177) para o espaço do antigo Matadouro Municipal, cedido

pela Prefeitura, com sua construção de tijolos aparentes. Inaugurado no século XIX, foi tombado

pelo Condephaat e restaurado pela entidade. Surgida a partir da criação do Clube de Cinema de São Paulo, em 1940,

foi fundada por estudantes de Filosofia da USP.

O crítico Ismail Xavier é homenageado com uma seleção de filmes a partir de terça (17). Até domingo (15), há também uma mostra sobre Versalhes.

Fica escondida. São os cerca de 200 mil rolos de filmes do acervo, além do material de pesquisa que pode ser consultado com agendamento prévio.