Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente

A criança e a cidade!

Aconteceu (Maio 2016)

 O segundo ‘Encontro com as Infâncias’ promoveu uma reflexão sobre a falta de protagonismo das crianças nas cidades e a importância dessa prática para uma boa saúde.

Em parceria com o Mapa da Infância Brasileira, a UMAPAZ realizou o segundo encontro sobre a infância na cidade. Desta vez, além de mostrar a importância de ouvir as crianças, tema do primeiro encontro, o evento falou sobre a necessidade de incluir as crianças no fazer e convidá-las a participar junto dos adultos da ocupação, apropriação e resignificação dos espaços nas cidades: “A criança é considerada um sensível indicador ambiental: se na cidade encontramos crianças que jogam, que passeiam sozinhas, significa que a cidade está sã, se na cidade não vemos crianças, significa que a cidade está doente”, Francesco Tonnuci, educador.

Renata Laurentino, do Instituo Elos, e também mediadora da roda de conversa, iniciou o evento propondo uma reflexão sobre a relação das crianças com a urbanidade e os espaços públicos no passado e nos dias de hoje. Para demonstrar essa diferença, ela leu trechos da infância de cada um dos convidados, que foram: Ana Estela Haddad (São Paulo Carinhosa), Irene Quintáns (Rede Ocara), Raiana Ribeiro (Associação Cidade Escola Aprendiz) e Rodrigo Rubido (Instituto Elos).

“Ela passava o dia brincando nas ruas de pedra de sua cidade, daí surgiu sua paixão por urbanismo e crianças”. Essa é Irene Quintáns, arquiteta urbanista e fundadora da Red OCARA, uma rede latino-americana na qual as crianças são as protagonistas de experiências e projetos sobre cidade, arte, arquitetura e espaço público.

Irene falou sobre as consequências no desenvolvimento da criança de uma educação, principalmente das classes mais ricas, exclusiva, fechada que não leva em conta a apropriação da cidade, “a maioria das crianças fica presa na caixinha casa-carro-escola, e essa busca incessante pela sua segurança pode não trazer tanta segurança assim”.

Pelo contrário, para ela, além desse ciclo incentivar o sedentarismo e com isso trazer muitos outros problemas de saúde, como, por exemplo, a obesidade e diabetes infantil, motiva também problemas psicológicos causados pelo excesso de games violentos e fácil acesso a programas televisivos e conteúdos online inapropriados.

Para Irene, “o remédio é deixar as crianças brincar ao ar livre, não somente dentro do condomínio, mas principalmente em parques, onde há contato com toda a diversidade; e também evitar o carro e incentivar outros meios de transporte como bicicleta ou mesmo a pé (projeto walking bus). O rendimento da criança torna-se muito melhor quando ela faz algum tipo de exercício, sobretudo antes de ir para a escola”.

Além de motivar a empatia, conforme Irene, essa apropriação incentiva a criança a cuidar, amar e habitar o espaço público, pois ela passa a entender como casa também sua rua, seu bairro e sua cidade, “só precisamos tornar as cidades mais convidativas para as crianças e sair dessa caixinha com elas. Elas têm esse direito”.

“Sua infância teve um pezinho no interior, e outro na megalópole de São Paulo”. Essa é Raiana Ribeiro, jornalista, gestora do Programa Cidades Educadoras da Associação Cidade Escola Aprendiz, uma iniciativa que apoia e desenvolve ações estratégicas para o fortalecimento dessa agenda no Brasil, e também editora do Portal Aprendiz, plataforma que produz e dissemina conteúdos relacionados à Educação, Território e Cidadania.

Raiana falou sobre a necessidade de se repensar educação e cidade. Para ela, são dois os graves problemas da educação brasileira: um modelo de ensino ultrapassado, que prioriza aulas expositivas e não contempla os interesses dos alunos; e a grande desigualdade nas horas de aprendizado entre estudantes de baixa renda e aqueles de media e alta.

Para ela, a única saída é agregar uma nova forma de educação integral à cidade educadora, “é necessário propiciar novos tempos, linguagens, espaços e agentes em uma rede articulada no território que pense uma aprendizagem em contexto”.

Em outras palavras, a população precisa trabalhar, junto do poder público, uma educação que dialogue com a ideia de cidade. Assim como educadores pensar novos modelos, o poder público deve assumir como responsabilidade cumprir com o dever de tornar a cidade acessível para as crianças.

“Essa ideia de cidade educadora começou a ser desenvolvida em Barcelona e até agora há muitas cidades associadas à Carta das Cidades Educadoras, 17 delas inclusive no Brasil”, comentou Raiana, “e os quatro grandes objetivos da Carta são: estimular a participação e controle social, entender escolas como agentes de transformação do território, garantir acesso aos bens culturais e ter uma gestão pública intersetorial, que integre diversas áreas”, completou.

“Ele cresceu num lugar onde o medo da rua não existia no coração dos pequenos”. Essa foi a infância de Rodrigo Rubido, arquiteto, cofundador e diretor do Instituto Elos – Brasil, uma organização que mobiliza, forma e estimula pessoas, crianças e comunidades para a ação coletiva orientada pelo propósito de “impulsionar o movimento de fazer acontecer já o mundo que todos sonhamos”.

Rodrigo falou da importância de não ficar esperando iniciativas do poder público, e sim que a própria população pense junto melhorias, “delegamos todas as ações para o Estado, mas também precisamos colocar a mão na massa, buscar recursos da própria sociedade e ganhar autonomia”.

O Instituto incentiva justamente isso, “nossa equipe entra em comunidades e bairros, escuta o que a população precisa, sobretudo o sonho das crianças, pensa no projeto e realiza coletivamente essa vontade comum a partir de talentos e recursos do próprio local”.

Das mais de 300 comunidades visitadas no mundo todo, 99% dos sonhos são relacionados a um futuro melhor para as crianças, como áreas de lazer, creches e escolas, revelou Rodrigo, “mas não é só ouvir, é sonhar, projetar, construir, realizar e celebrar esse sonho com as crianças”.

“Ela ainda sente o sabor da infância pelas ruas que andava quando criança”. Por fim, essa é Ana Estela Haddad, primeira-dama do município de São Paulo e coordenadora da São Paulo Carinhosa, política municipal que promove o desenvolvimento integral da primeira infância (até seis anos idade), desde o período da gestação.

Ana ressaltou a necessidade de uma melhor integração entre a sociedade e o poder público, “desde 2013, essa política municipal tem como objetivo promover o desenvolvimento infantil com um comitê gestor que tem a participação de 14 secretarias do município. Estamos enfrentando esse desafio da integração para que todas as áreas pensem a criança, a família e a educação”.

“Nosso projeto piloto foi a reestruturação de um cortiço da Praça do Glicério, pois ambientes com grandes concentrações, baixa privacidade e longe do olhar do poder público, expõem as crianças a um ambiente insalubre e violento. Cortiços tem a maior taxa de mortalidade infantil, bem como contato com a violência”, contou Ana.

Segundo ela, esse projeto só deu certo graças a articulação entre políticas públicas e a comunidade, “houve todo um trabalho integrador quanto a habitação, desenvolvimento social, saúde, assistência social e desenvolvimento urbano. A ideia agora é ampliar esse projeto para outras áreas da capital”, afirmou.

O terceiro Encontro com as Infâncias acontecerá no sábado, seis de agosto, e falará sobre as Expressões infantis. Não perca!