Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa

Como se fosse interior

Fonte: Jornal da Tarde

Se você não está fazendo as malas para deixar São Paulo no feriado, descubra onde a capital menos se parece com a capital

DÉBORA BERGAMASCO E NATHALIA LAVIGNE

Enquanto você estiver lendo esta reportagem, o trânsito nas marginais e vias de acesso às estradas que levam ao interior ou ao litoral já deve estar bem complicado, por conta do feriado prolongado, de hoje à terça-feira (1º). Para ver noites de céu estrelado ou dormir com a porta de casa destrancada, por exemplo, não tem jeito: é preciso fugir de São Paulo - e, cada vez mais, das praias. Mas se um fim de tarde numa pracinha da capital, o sabor de uma ‘cavaca’ ou o som dedilhado de uma harpa e um violão tocados em um coreto forem suficientes para se imaginar em uma cidade do interior, saiba que esses momentos podem ser aproveitados por aqui mesmo (e olhe, caro leitor, que as autoras das dicas desta reportagem são forasteiras: uma, paulista da encantadora Assis; a outra, carioca do bairro com ares, vá lá, interioranos do Jardim Botânico). Em bairros onde a tranqüilidade ainda dita as regras do dia-a-dia ou focos de sossego perdidos na rotina urbana, visitamos lugares na cidade onde ‘ex-caipiras’ ou quem valoriza esse estilo de vida se refugiam.

Com vista para a ‘urbaníssima’ Marginal Tietê, o Largo da Matriz, na Freguesia do Ó, é um exemplo desse segundo grupo. O bairro que servia de caminho para a região de Campinas ainda preserva as marcas do século 19 em sua arquitetura. Talvez por isso lembre um tempo que parece não ter passado tanto no interior: de Registro a Presidente Prudente, há algo mais comum do que um largo com uma igreja onde a população se encontra para bater papo num banquinho qualquer e esquecer do tempo? Quando tem quermesse na Igreja da Matriz, então, o clima fica completo. E para voltar a São Paulo, aproveite para experimentar a famosa pizza da Bruno (Lgo. da Matriz, 87, Freguesia do Ó, 3932-4676).

Na Praça Antônio Prado, no Centro, não se tem a mesma impressão de calmaria. Se estiver correndo como todos por ali, pode ser que você nem repare no som de harpa e violão vindo do coreto - como aqueles em que os namorados passam as tardes no interior. Mas quem prestar atenção e reconhecer a canção ‘Balada para Adeline’, tocada pela dupla Josenildo e Dirceu, terá a certeza de que viajou para o interior por alguns instantes. As apresentações são de terça a sexta-feira, às 12h e às 17h30, até 29 de junho.

Já no Parque da Água Branca, a ‘música’ que se escuta está mais para o ruído dos carros na Avenida Francisco Matarazzo. Mas a paisagem apreciada será composta de galinhas, gansos, vacas e cavalos, alguns dos animais que podemos encontrar numa caminhada pelo parque. Em um dia mais calmo, é possível até ouvir, ainda que com os carros no fundo, a cantoria dos pássaros que habitam o local.

Já na Vila Mariana, parece mesmo que o sossego reina em diversos lugares do bairro - e o estilo de vida interiorano faz parte da rotina. Onde mais poderia haver uma praça suspensa sobre o reservatório de água da Sabesp, além de no interior, onde os lugares mais inóspitos viram atração turística? A praça da caixa d’água fica na Rua Vergueiro, entre as Ruas Carlos Petit e Conceição Veloso, e é bem freqüentada pelos próprios moradores do bairro. Até os vigias carregam certos melindres que os caipiras têm do paulistano, deixando entrar apenas quem não parecer um tipo suspeito. Se este for (ou parecer) o seu caso, na opinião do funcionário, ainda lhe resta o Bar Veloso (R. Conceição Veloso, 56, V. Mariana, 5572-0254), onde é possível parar o carro na rua sem nenhum flanelinha aparecer.

A poucos metros de um acelerado viaduto, está cravada a Cachaçaria Pompéia (Av. Nicolas Boer, 120, Pompéia 3611-1114) . O estilo campesino está presente tanto no cardápio quanto na decoração. Depois de provar da vaca atolada e do jiló preparados no forno a lenha, experimente uma das centenas de cachaças. Enquanto isso, as crianças poderão brincar no galinheiro ou dar uma voltinha em cima de um cavalo.

O restaurante O Compadre (Av. Otto Baumgart, 500, Shopping Lar Center, V. Guilherme, 6222-3131) também é ótima opção para comer delícias da roça. São servidos feijão tropeiro, farofa de pinhão... E, claro, o bolo de fubá com cafezinho, que nunca faltam numa mesa do interior.

Do violeiro caipira ao ‘agroboy’

Quem aprecia o estilo pacato de botecos de bairro, em que os aposentados se reúnem para um dedinho de prosa entre um trago e outro de cachaça, não precisa ir para o bar do falecido Vinicios, em Jaú, por exemplo. Toque o carro para o Cambuci e vá ao bar A Juriti. Aos 50 anos (e em grande forma), o bar serve uma bela porção de calabresa (R$ 14) frita no álcool.

Muito menos calmo, o point dos jovens ‘agroboys’ é o Villa Country. Com decoração mais texana do que sertaneja, a música garante a viagem ao interior. Tem dupla caipira, e lugar para dançar ‘sertanejo moderno’, ao estilo de César Menotti e Fabiano.

(SERVIÇO)A Juriti. R. Amarante, 31 , Cambuci, 3207-3908. 8h/0h (dom., até 16h; fecha 2ª).


Vila Country. Av . Francisco Matarazzo, 774 - Pq. da Água Branca, 3868-5858. 5ª a sáb., 20h/3h (dom. até 2h).

Em busca dos sabores perdidos

As lembranças gastronômicas do interior talvez sejam as que mais deixam saudades em quem vai para a capital. A receita e a ‘mão’ podem ser as mesmas, mas a impressão é a de que falta um forno à lenha ou um certo clima interiorano para os quitutes parecerem os mesmos. Pois na casinha onde a iguapense Dona Elba Santos serve os seus, no Parque da Água Branca, não falta nada disso. Depois de uma caminhada pelo parque, um café fresquinho, um bom bate-papo e uma cavaca (broa de coco) quentinha fazem qualquer um esquecer que está a poucos metros da movimentada Avenida Francisco Matarazzo.

Quem tem tempo para jogar conversa fora , vale até atravessar a cidade para provar o delicioso sorvete da Damp. Desde que não seja no domingo, quando a fama da sorveteria não deixa Dona Dalmira Soares dar a atenção de sempre aos clientes. E a associação com o interior não está apenas nessa prazerosa informalidade. Os sorvetes são produzidos artesanalmente, como os do Rochinha, do litoral, levam três tipos de leite e nenhum aromatizante.

(SERVIÇO)Parque da Água Branca Av. Professor Francisco Matarazzo, 455, 3865-4130


Damp R. Gen. Lecor, 512, Ipiranga, 2274-0746

Veja pelo lado bom

O Teatro Martins Penna não consegue apresentar mais que duas peças por fim de semana. Nem tem condições de oferecer muito conforto - as poltronas ainda têm encosto de madeira. Nem mesmo se pode beber um expresso, pois não tem lanchonete. Mas antes de cada apresentação, dá para ouvir o burburinho da platéia quando vêem os atores chegarem ao teatro horas antes de começar o espetáculo. Muitos espectadores vão de bicicleta ou aparecem por lá com bola de futebol embaixo do braço. Já o Cine Segall tem apenas dois filmes em cartaz. Quase sempre títulos que já saíram dos grandes circuitos. Veja os dois lados bons: se você for do tipo ‘retardatário’, ainda dá para pegar um filme indicado ao Oscar; e dá para estacionar na rua ou por por R$ 1,99.

(SERVIÇO)Teatro Martins Penna. Lgo. do Rosário, 20, Penha, 2293-6630. Em cartaz ‘O Caso da Casa’ (sáb. e dom., 16h, R$ 6) e ‘Qioguem?’ (6ª, sáb. e dom., 20h, R$ 1).