Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa
Tombados, prédios se tornam residencial
Apartamentos são vendidos entre R$ 50 mil e R$ 100 mil; construtora é obrigada a preservar traços históricos da fachada original, de 1914
DA REPORTAGEM LOCAL
Do número 300 do calçadão da avenida São João, o arquiteto Roberto Tófoli Simoens tem vista para os edifícios Banespão e Martinelli. A uma quadra dali está o Theatro Municipal e no prédio ao lado, no vale do Anhangabaú, fica o novo centro cultural dos Correios.
Projetados por Ramos de Azevedo em 1914 e 1918, dois prédios que até o ano passado abrigavam os hotéis Britânia e Central, na São João, serão as primeiras construções tombadas pelo patrimônio histórico a virar conjunto residencial no centro velho de São Paulo.
Com inauguração prevista para o fim deste ano, metade dos 26 apartamentos já foi vendida por preços que variam de R$ 50 mil a R$ 100 mil, antes mesmo do lançamento no mercado imobiliário.
Inicialmente, diz Simoens, autor da obra, técnicos deram parecer em cinco páginas com argumentos de que o projeto não atendia a critérios de preservação histórica.
O alvará foi liberado em 2005, depois de dois anos de tramitação nos gabinetes dos órgãos da prefeitura.
Pelo acordo de liberação, a construtora é obrigada a manter e revitalizar a fachada histórica, mas tem liberdade para alterar a estrutura interior. Até agora, cerca de R$ 1 milhão já foi investido na obra.
O projeto integra aspectos históricos do edifício com traços contemporâneos. "A arquitetura já está dada, quem deu foi Ramos de Azevedo. O que fizemos foi revitalizar o edifício", diz Simoens.
Eclético
Em estilo eclético, construído inicialmente por Ramos de Azevedo para ser conjunto residencial, os prédios são tombados pelo Condephaat, o conselho do patrimônio histórico estadual, e pelo Conpresp, da prefeitura de São Paulo.
Os prédios funcionavam como hotéis há 50 anos. Parte dos quartos era ocupada por aposentados e moradores de baixa renda. Alguns foram relocados para hotéis da região.
Em frente aos prédios reformados, batizados de Américo Simões, fica o edifício Seguradoras, de Oscar Niemeyer.
O projeto de revitalização das construções de Ramos de Azevedo chamou a atenção de arquitetos ingleses, que indicaram o obra para participar de um concurso internacional de propostas habitacionais neste ano na Europa.
Segundo Simoens, existe uma vontade política de valorização do centro, que é uma bandeira. Mas os obstáculos, queixa-se, estão vinculados a entraves burocráticos.
"As pessoas dizem que são a favor, mas não fazem grandes esforços para a viabilização do centro", completa.
Desde o fim de 2006, a inauguração de bares e casas noturnas dão o termômetro da volta de moradores ao centro. Com mesas na calçada, o café do Centro Cultural Banco do Brasil se juntou ao Fazenda Café e ao Salve Jorge, que abriram filiais na rua Álvares Penteado.
Já a rua Santa Ifigênia deverá abrigar, a partir de 2008, uma faculdade privada especializada em computadores.
(VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO)
Limpeza ainda precisa melhorar, diz secretário
DA REPORTAGEM LOCAL
Andrea Matarazzo, secretário municipal das Subprefeituras e subprefeito da Sé, reconhece que a limpeza e a iluminação ainda são um problema no centro velho. "É, de fato, preciso melhorar para atrair mais moradores."
Mas, segundo o secretário, há ainda outras questões. "Têm muito bar vagabundo, essas saunas, esses cinemas pornô que são prostíbulos. Temos que fechar tudo isso."
Os catadores de lixo também são alvo de críticas. "É preciso um novo projeto para o recolhimento de lixo reciclável. O padre [Júlio] Lancelotti [militante ligado a cooperativas de catadores] que me desculpe, mas eles são um problema."
"A proposta de revitalização dele é moralista e preconceituosa. É o triunfo da estética sobre a ética", respondeu o padre.
Trazer restaurantes e bares faz parte da estratégia. Se causam dor de cabeça em Moema ou na Vila Madalena, ali até o barulho é bem-vindo, diz Matarazzo. "Bares como o Royal [com ingresso a R$ 80 para homem e R$ 40 para mulher] são importantes para a revitalização. Os moradores é que terão de se adaptar, instalar janelas anti-ruído", afirmou.
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