Secretaria Municipal da Saúde

Sexta-feira, 22 de Outubro de 2021 | Horário: 11:28
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Ginecologista, Lígia Mascarenhas atua para melhorar o atendimento à população negra na capital

Superar dificuldades e integrar minorias são bandeiras que a médica leva para a criação de processos e para o trabalho na rede SUS na cidade de São Paulo

Sabe aquele antigo ditado de que mar calmo nunca fez bom marinheiro? Pois é, foi nele que a médica ginecologista Ligia Santos Mascarenhas se inspirou para superar as dificuldades, alcançar o sucesso profissional e se destacar entre as mulheres negras que ajudam a criar as políticas públicas no Sistema Único de Saúde (SUS), na cidade de São Paulo.

Assessora técnica de Saúde da População Negra, da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), tem entre os desafios na área em que atua aumentar a adesão dos cidadãos ao quesito raça/cor no sistema público de saúde, como previsto pela Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN). A declaração feita pelos munícipes em serviços de saúde serve para melhorar e ampliar a assistência aos negros e dessa forma reduzir a desigualdade.

Nascida em Itaquera, zona leste da capital, Ligia precisou desde cedo se dedicar duas vezes mais aos estudos para alcançar seus objetivos. O apoio e a colaboração dos pais, somados ao empenho dela no cursinho, onde era bolsista, fez com que a jovem ingressasse na Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp), em 1999.

Ligia está usando máscara de coruja e camiseta vermelha ao lado da colega. A segunda mulher está usando máscara branca e camisa branca. Ao fundo há várias mesas com computadores.

Ligia está com a colega Raissa Richter, da área de Práticas Integrativas Complementares em Saúde (Pics) da SMS (Foto: Arquivo Pessoal)

“Meus pais sempre colocaram a situação exatamente da forma que ela era, eles não tinham dinheiro para pagar uma faculdade para mim, então, se eu quisesse mesmo, teria de estudar. Eles sempre me explicaram que me dariam todo o apoio que eu precisasse, mas que eu teria que entrar em uma faculdade pública”, conta.

Durante os cinco anos na faculdade, ela foi a única estudante negra da turma, em um campus com no máximo seis negros naquela época, segundo a profissional. E apesar dos avanços sociais conquistados por meio de políticas públicas, ainda são poucos os negros no exercício da medicina no sistema público de saúde. Conforme o mais recente Censo Demográfico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2010, apenas 17,6% dos médicos em funcionalismo público no Brasil eram negros. A estatística é desigual, se comparada ao percentual de negros atendidos pelos serviços de saúde no país, que é de 70%.

Para conectar os profissionais de saúde à população, a médica trabalha junto a colegas de diversas áreas técnicas da SMS, criando processos de capacitação, educação continuada e implementando linhas de cuidado direcionadas aos negros.

“Lá na ponta, nas unidades de saúde, é importante pensar na população negra de uma forma diferente por conta de toda história, pela questão do racismo estrutural, e fazer com que esse serviço fique melhor para essa população que é a maioria dos usuários do SUS”, explica.

Ligia está acompanhada de cinco mulheres da equipe da Casa Ser, em Cidade Tiradentes. Todas estão sorrindo e usando jaleco branco, menos uma que está com uma blusa azul.

Antes da pandemia de Covid-19, Ligia está acompanhada de cinco mulheres da equipe da Casa Ser, em Cidade Tiradentes (Foto: Arquivo Pessoal)

Além de trabalhar no planejamento das ações, a ginecologista também acompanha como elas são executadas, prestando atendimento aos pacientes do Centro de Atenção à Saúde Sexual e Reprodutiva Maria Auxiliadora Barcellos, a Casa Ser, em Cidade Tiradentes, no extremo leste da capital. “Eu trabalho nas duas pontas, na área técnica vejo como o processo é planejado, na Casa Ser como é executado”, explica.

Nesse centro de acolhida, Lígia desenvolve diversos trabalhos, entre eles o acompanhamento a homens e mulheres transexuais no processo de hormonização, de acordo com o protocolo para o atendimento de pessoas transexuais e travestis no município, estabelecido em julho de 2020.

A intervenção de saúde utilizada por esses pacientes, conforme a médica, é tratada dentro de uma estratégia de expressão e reconhecimento por parte da sociedade dentro dos limites do gênero com o qual se identificam ou com o qual preferem ser identificadas.

Trabalhar com esse público mudou sua vida. “A medicina não pode ficar em uma bolha, o objeto de trabalho da gente são pessoas e todos os trabalhadores da saúde precisam saber um pouquinho mais, não só da doença, mas a respeito do ambiente e do contexto cultural de cada paciente.”

Nessa trajetória, a médica foi adquirindo mais sensibilidade, as diferenças a desafiam o tempo todo. “Para mim é algo enriquecedor.”

Ligia está de pé, com um dos punhos erguidos usando uma roupa verde com os cabelos soltos. Ao fundo há um prédio e algumas árvores.

Lígia superou dificuldades para alcançar o sucesso profissional (Foto: Arquivo Pessoal)

Gente.Doc

Você também pode conferir vídeos com os nossos entrevistados. Em razão do agravamento da pandemia de Covid-19, no momento estamos fazendo as gravações remotamente.

A ginecologista Ligia Santos é colunista no canal Papo de Mãe, no YouTube. Há dois anos ela fala sobre assuntos relacionados à gestação prolongada, gravidez de risco, racismo e maternidade para mais de 50 mil inscritos no canal.

O Papo de Mãe é realizado pelas jornalistas Mariana Kotscho e Roberta Manreza, que há 11 anos apresentam o programa com mesmo nome na TV Brasil e na TV Cultura.

Assista e saiba mais sobre Lígia: 

 

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