Secretaria Municipal da Saúde
Projeto promove vacinação para as pessoas em situação de rua

Mesmo com medo de agulha, assim que viu a equipe de saúde preparando os materiais de vacinação, Peterson Oliveira dos Santos, 39, aproximou-se junto com seu cachorro, Thor, para receber quatro imunizantes: dupla adulto (dT - Difteria e Tétano), febre amarela, influenza e hepatite B. Ele é catador de recicláveis e está há sete anos em situação de rua, vivendo na região do Jardim Kioto, na zona sul de São Paulo.
Peterson conta que nunca foi até a Unidade Básica de Saúde (UBS). De acordo com a enfermeira Elmalis de Brito Godoi, da Unidade de Vigilância em Saúde (Uvis) Capela do Socorro, esse receio de ir até a UBS é comum, uma vez que as pessoas em situação de rua sentem-se constrangidas por não terem endereço ou por estarem em uma condição que incomoda os outros usuários do serviço.
Vendo como isso dificultava o acesso dessa população à saúde e a deixava em risco de contrair doenças que podem ser evitadas com vacinação, em junho de 2024 Elmalis decidiu levantar os dados vacinais das pessoas em situação de rua da região. Como elas normalmente não permanecem em um mesmo local e há dificuldade no monitoramento, em julho a enfermeira começou o trabalho em dois Centros de Acolhida (CA) da região: o do Grajaú, com 55 pessoas, e o Macedônia, voltado a idosos, com 99 pessoas.
Ela relata que em ambos os centros, nenhum dos acolhidos estavam com o sistema vacinal completo. Mas, após essa constatação e a implementação de estratégias voltadas a esse público, em cerca de seis meses 30% deles tomaram todas as vacinas voltadas a sua faixa etária. Os demais deram início à vacinação, mas ainda aguardam o tempo estipulado para aqueles imunizantes que possuem mais de uma dose.
Entre as estratégias adotadas estava a exigência de vacinação para a permanência no centro de acolhida, a orientação sobre qual Unidade Básica de Saúde (UBS) buscar e o preparo das equipes da unidade para o acolhimento das pessoas em situação de vulnerabilidade.
Com os resultados positivos nos centros de acolhida, Elmalis percebeu que seria hora de dar um passo além, chegando finalmente às pessoas em situação de rua que estão fora dos centros de acolhida. A forma encontrada para viabilizar este objetivo foi por meio do trabalho conjunto com a equipe do Consultório na Rua (CnR) que atua na região e possui 513 pessoas cadastradas para atendimento. E foi assim que Peterson teve acesso à vacinação.
Trabalho reconhecido
Nilza dos Santos, 76, também foi beneficiada pela ação conjunta na região do Jardim Kioto: recebeu três vacinas da equipe. “Eles tratam a gente com carinho. A gente aqui, nessa situação, quer um pouco de atenção”, confessa.
E foi justamente a partir da percepção de que pessoas como Nilza precisam ter visibilidade que Elmalis intitulou o projeto de “Eu existo! Vacinação como instrumento de inclusão em centros de acolhida na zona sul de São Paulo” e inscreveu a iniciativa no 38º Congresso de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo (Cosems/SP), realizado em abril deste ano. Reconhecido, o trabalho também foi selecionado para apresentação no 38º Congresso do Conselho Nacional de Secretários Municipais (Conasems), que acontece de 15 a 18 de junho.
Das pessoas em situação de rua que Elmalis abordou em conjunto com a equipe do Consultório na Rua, que é vinculado à Unidade Básica de Saúde (UBS) Jardim Cliper, apenas sete estavam com a carteira de vacinação em dia. O objetivo, agora, é regularizar a situação vacinal do maior número de pessoas, colocando-as de vez no mapa da saúde. “Vacinar essas pessoas significa também inseri-las em nosso sistema, de forma que possam ser acompanhadas em qualquer região da cidade”, comenta a enfermeira.
Capital mundial da vacina
Em 9 de junho, quando é celebrado o dia Nacional da Imunização, a cidade de São Paulo tem muito o que comemorar, com a elevação da cobertura vacinal em praticamente todos os imunizantes oferecidos dentro do Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde (MS), em um desempenho que reitera seu papel como “Capital Mundial da Vacina”.
Em 2024, os índices de cobertura da vacina que protege contra a pneumonia, por exemplo, chegaram a 92,48%, aproximando-se da meta preconizada pelo MS, que é de 95%. Contra a hepatite A, eles chegaram a 98,50%. Contra a febre amarela, a cobertura passou de 70,17%, em 2021, para 96,92%. Contra a poliomielite, uma das principais vacinas para o público infantil, em 2021 o índice de cobertura vacinal era de 77,99%, chegando a 92,54% em 2024.
Outro imunizante para o público infantil, a tríplice viral (SCR), que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, atingiu 95,25% na segunda dose, ultrapassando a meta de cobertura vacinal preconizada. Outro exemplo é a vacina contra a tuberculose: a BGC, aplicada logo após o nascimento, saltou de 72,71% de cobertura em 2021 para 86,36% em 2024, enquanto a vacina combinada pentavalente, que protege contra cinco diferentes tipos de doenças (difteria, tétano, coqueluche, Haemophilus influenzae tipo B e hepatite B), por sua vez, subiu de 77,77% em 2021 para 92,49% em 2024. A proteção conta a meningite também foi reforçada, passando de 77,69% para 91,57%.
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