Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa

Segunda-feira, 17 de Novembro de 2025 | Horário: 13:00
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Biblioteca Mário de Andrade inaugura Polo Gastronômico focado em comida afro-brasileira

O Kitanda Café, comandado pela chef, pesquisadora e autora, Priscila Novaes, fica no saguão da Biblioteca e traz em seu menu opções para café e pratos executivos
Chef Priscila Novaes no Kitanda Café, dentro da Biblioteca Mário de Andrade. (Foto: Reprodução/Enzo Sapio)

São Paulo, novembro de 2025 - A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa e da Secretaria Executiva de Desestatização e Parcerias da Secretaria de Governo Municipal, dá continuidade ao programa Cultura +Gastronomia, inaugurando o terceiro pólo gastronômico em equipamentos culturais. Após a inauguração de restaurantes nos centros culturais Penha e Tendal da Lapa, ambos na zona leste, foi a vez do Centro Histórico paulista ser atendido pela iniciativa, dentro da centenária Biblioteca Mário de Andrade, na República. O pólo traz cardápios de comida afro-brasileira, atendendo todos os dias no saguão da biblioteca.

Inaugurado no último sábado (8), o Kitanda Café ocupa o saguão da Biblioteca Mário de Andrade, que integra o projeto Kitanda das Minas, da chef e autora do livro “Ajeum - O Sabor das Deusas”, Priscila Novaes. O restaurante, antigamente sediado na Casa PretaHub, oferece pratos afro-brasileiros, como acarajé, dadinho de tapioca e moqueca baiana, englobando a gastronomia brasileira e africana, pouco vista e estudada/disseminada. Inclusive, foi a partir dessa dificuldade de não enxergar as origens e o trato da culinária preta que incentivou Priscilla a pesquisar desde as baianas do acarajé, como as mulheres de tabuleiro e quitandeiras, para montar e oferecer seu cardápio afrodiaspórico, utilizando ingredientes orgânicos.

Porta de acesso ao Kitanda Café, no Saguão da Biblioteca. (Foto: Reprodução/Enzo Sapio)

O menu, por enquanto, inclui opções de café e lanche, como um pão de queijo tradicional e “da chef” – recheado com queijo minas artesanal –, tomate assado, quiches de alho poró e queijo, tortas, pão na chapa convencional e de fermentação natural, sanduíche de pernil, tapiocas – de carne seca com coalho e melaço de cana e de cogumelos com espinafre – e, como destaques, o pão delícia, uma iguaria muito tradicional e popular em Salvador, bolinho de estudante e o caçar, doce afro muito visto em terreiros de candomblé. Tudo é oferecido em gamelas, vasilha de madeira ou de barro cujo utensílio ancestral representa uma forte ressignificação e mensagem, ainda durante os tempos da escravidão.

Ainda este ano, o Kitanda Café trará pratos para almoço e jantar, tais como o arroz de alça, arroz de Iof, bobó de camarão e jambalaya. Um desses pratos que podemos aguardar no cardápio é o Bombocado de Mário de Andrade, surgido a partir de pesquisas da chef feitas em anotações do próprio autor em um de seus livros: “Eu comecei essa pesquisa por entender quem é Mário de Andrade e como eu poderia me conectar com o espaço. Eu encontrei algumas receitas do Mário e entre elas estava o bombocado, que é um doce que remete muito às nossas famílias e às famílias negras - e trouxe definitivamente ao cardápio”, esclarece Priscila Novaes.

 

Kitanda Café e seu “orgulho” por levar a identidade e os saberes ancestrais

Chef Priscila Novaes é autora de livros e lidera um grupo de formação gastronômica em culinária afro-brasileira. (Foto: Reprodução/Enzo Sapio)

Mais do que unir a partir de seus pratos, salgados e cafés o aroma, o sabor e a memória, o Kitanda Café, pertencente ao Kitanda Minas idealizado pela chef Priscila Novaes, assume um compromisso de levar a seriedade da gastronomia preta e formar mulheres negras na culinária: “Nosso negócio é de impacto social e voltado para a inclusão de mulheres negras no mercado gastronômico. E essa inclusão é de maneira qualificada, então, como visamos essas mulheres a ocupar um lugar de prestígio e um lugar de visibilidade”, disse a chef Priscila à redação da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, que se torna o primeiro pólo gastronômico em equipamentos municipais de São Paulo gerido por uma mulher negra.

O programa de formação é nomeado de “Afro Chef” e está entre os objetivos futuros de Priscila a utilização do espaço do pólo para experiências práticas complementares destas alunas: “A Kitanda atua como um círculo perfeito, onde a gente desenvolve os talentos, partindo primeiramente em sua identificação no mercado gastronômico, seja admitido por saberes acadêmicos, tradicionais, familiares e ancestrais, e lapidando-los para que estes talentos consigam atender as exigências do segmento e colocar essa mulher vivenciando a função na prática”, comenta a chef. As alunas, passando pelo treinamento, conseguem tocar um negócio particular, espalhando a comida afro-brasileira para mais regiões, ou se juntam à equipe do Kitandas nos serviços, ora no pólo ou em eventos de catering e buffet.

Permitir ser a diferença, é o que move e orgulha Priscila. A chef relata que a falta de referências de mulheres pretas em altos cargos de liderança na cozinha profissional e a ausência de estudo sobre a culinária afro-brasileira foram empecilhos que quase desincentivaram-a:

“A gente aprende que os nossos utensílios não são próprios para serem utilizados de maneira profissional, que a nossa gastronomia não tem técnica, que é feita através de uma resistência, e aquilo automaticamente fazia com que eu não sentisse gosto por estar ali. Quais eram as mulheres pretas de referência dentro da cozinha? Eram merendeiras, mulheres que cozinham em escolas de samba, em terreiros, em ocupações – e nenhuma dessas carreiras e dessas histórias são valorizadas, prestigiadas ou reconhecidas financeiramente. Mas a gente carrega um mesmo saber ancestral, uma voz que sempre fica ecoando na nossa cabeça, e isso me aguçou por essa busca. Foi aí que mudou a minha chave, que eu falei ‘é esse o legado que eu vou seguir’”, se abre a idealizadora do Kitanda Café.

Priscila conduziu uma pesquisa autônoma, que culminaria no livro "Ajeum: o sabor das deusas", que explora a gastronomia de terreiro, do candomblé de Nação Efon, como chave para pesquisar a gastronomia afro-brasileira atual. Para ela, a pesquisa foi um “divisor de águas” que permitiu não só apenas ser um equipamento que lhe direcionou à especialização da gastronomia africana/afrobrasileira, mas também enriquecer e trazer uma nova identidade ao seu negócio, “para que eu honrasse essas mulheres, esses saberes”, complementa. “A criação do livro também foi um tapa na cara que eu ganhei de mim mesma, porque a sociedade não vê uma mulher cozinheira como uma produtora de conhecimento. Eu queria exatamente mostrar pra mim  que eu poderia produzir outros feitos fora da cozinha”.

Sendo esta referência e chegando para fidelizar mais o espaço da Biblioteca  e trazer maior conforto, Priscila Novaes comemora a oportunidade de ocupar o centenário espaço de cultura e leitura com o Kitanda Café. A chef analisa como um “importante ato político” a difusão da culinária preta na Biblioteca Mário de Andrade: “Nada melhor do que estarmos dentro da segunda maior biblioteca do país. Então só de estar aqui já é um ato político”.

A entrada do Kitanda Café fica na Av. São Luís, 235. O Pólo Gastronômico da Biblioteca Mário de Andrade funciona todos os dias: de segunda a sexta, das 9h às 20h, e aos sábados, domingos e feriados, das 9h às 18h.

“É importante entender a integração entre cultura e gastronomia em nossos equipamentos culturais municipais, uma vez que este projeto proporciona maior conforto e comodidade aos frequentadores, incentivando a permanência dos munícipes nos espaços culturais e fortalecendo a economia criativa, ampliando as oportunidades para empreendedores locais”, cita Totó Parente, Secretário de Cultura e Economia Criativa da Cidade de São Paulo.

O Kitanda Café, da chef Priscila Novaes na Biblioteca Mário de Andrade, estreia o projeto dos Pólos Gastronômicos dentro dos equipamentos culturais do Centro Histórico de São Paulo. Há previsão ainda da inauguração dos pólos na Biblioteca Monteiro Lobato, no Museu Chácara Lane e no Arquivo Histórico Municipal. Confira o resultado do edital para espaços gastronômicos aqui.

 

Cultura + Gastronomia

A iniciativa faz parte de um plano mais amplo que inclui a publicação do edital de licitação para a instalação de 29 pólos gastronômicos em 24 equipamentos culturais do município. A proposta prevê a concessão de espaços para operação e manutenção de restaurantes, cafés e lanchonetes, criando novas oportunidades para microempreendedores e impulsionando a geração de empregos. Este é o terceiro polo inaugurado: o primeiro foi no Centro Cultural Penha e o segundo aconteceu no Centro Cultural Tendal da Lapa.

Os termos de permissão de uso terão duração de 5 ou 10 anos e serão destinados a empresas e pessoas físicas regularizadas no âmbito fiscal e trabalhista, com experiência comprovada no setor gastronômico. O critério de seleção é a oferta do maior valor mensal de outorga à Prefeitura. O principal objetivo do projeto é garantir melhorias na experiência do público que frequenta teatros, centros culturais, museus e casas de cultura, tornando esses espaços mais atrativos e completos.

 

Escrito por: Enzo Sapio

 

Serviço:

Polo Gastronômico na Biblioteca Mário de Andrade

Funcionamento: 2ª a 6ª, das 9h às 20h | Sábados, domingos e feriados, das 9h às 18h

Local: Biblioteca Mário de Andrade - Entrada pela Av. São Luís, 235.
Instagram do Polo:
@kitandadasminas

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