Em meio às discussões sobre liberação da atividade de mototáxi na cidade de São Paulo, uma pesquisa do Ipea, fundação pública federal do Ministério do Planejamento e Orçamento e que realiza estudos e pesquisas para apoiar a formulação de políticas públicas, aponta que as motos não são apropriadas para realização de serviços de transporte remunerado de passageiros. Veja o estudo completo aqui.
A nota é taxativa ao apresentar alertas sobre os riscos da regulamentação do serviço de mototáxi diante das fragilidades apontadas, associadas com as estatísticas trágicas de mortalidade de motociclistas em geral.
A conclusão tem como base a participação das motos nas mortes por acidentes de trânsito, que passou de 3% no fim dos anos 1990 para quase 40% em 2023. É o que indicam dados do estudo Mortalidade e morbidade das motocicletas e os riscos da implantação do mototáxi no Brasil, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) nesta quarta-feira (26). As motocicletas também concentram aproximadamente 60% das internações por acidentes de transporte terrestre e consumiram, em 2024, mais de R$ 270 milhões das despesas públicas hospitalares.
O dado dialoga diretamente com a preocupação da Prefeitura de São Paulo, que vem alertando para o risco de aumento de acidentes, sobrecarga da rede pública e colapso da capacidade de atendimento caso seja mantida a decisão judicial que autorizou a operação de mototáxis por aplicativo na capital.
Segundo o estudo do Ipea, a combinação entre aumento da frota, uso intensivo do modal para transporte e trabalho, baixa proteção do veículo e exposição prolongada cria um ambiente de risco crescente para motociclistas e para o sistema de saúde. No Brasil, os acidentes com motos são hoje a principal causa de internações por traumas, consumindo leitos, equipes especializadas e recursos das emergências hospitalares. O impacto econômico é igualmente expressivo, com custos médios de tratamento significativamente superiores aos de acidentes com carros e pedestres.
A Prefeitura de São Paulo destaca que a situação tende a ser ainda mais crítica na capital, onde a circulação intensa, o alto volume de entregadores e o adensamento viário ampliam a probabilidade de colisões. Somente nos hospitais municipais de referência, o aumento de atendimentos ligados a traumas de motociclistas já pressiona o funcionamento das unidades, que trabalham no limite da capacidade. Em nota publicada dias atrás, o município alertou que a liberação irrestrita do serviço de mototáxi por aplicativo — sem regulamentação específica, critérios técnicos ou exigências de capacitação — pode elevar de maneira súbita o número de motos nas ruas e, consequentemente, o número de acidentes graves.
O Ipea reforça esse temor ao apontar que o custo social de acidentes envolvendo motos é mais alto e mais prolongado do que o de outros modais. Além do risco de morte, motociclistas vítimas de quedas e colisões frequentemente apresentam sequelas que demandam reabilitação longa, cirurgias múltiplas e ocupação contínua de leitos. Na capital, esse cenário já levou a Prefeitura a pedir a suspensão da decisão judicial até que haja segurança normativa e equilíbrio estrutural para absorver os impactos potenciais.
De acordo com especialistas citados no estudo, cada incremento percentual na frota de motocicletas está associado a um crescimento desproporcional no número de feridos graves. O fenômeno é especialmente sensível em grandes centros urbanos como São Paulo, onde a velocidade média das motos é maior que a dos demais veículos e a disputa por espaço no trânsito acentua comportamentos de risco — situação agravada pela pressão por produtividade no trabalho por aplicativo.