Subprefeitura Santo Amaro

Histórico

As contradições e os séculos de história de Santo Amaro

INÍCIO DO BAIRRO – POVOAMENTO

 O povoamento europeu da região de Santo Amaro/SP remonta ao século XVI quando os portugueses começaram a chegar ao Brasil. Contudo já havia, na localidade, uma comunidade guaianá, liderada pelo cacique Caiubi. 

 A frequente mobilidade dos guaianases levou-os a se aproximarem mais de Piratininga, afastando-se de Santo Amaro.

 Além do rio Pinheiros havia apenas a aldeia de Geribatiba, na margem esquerda desse rio e que tempo depois, ali foi erguida uma capela onde se venerava a imagem de Nossa Senhora de Assunção. Sua existência é atestada por várias passagens da obra de Serafim Leite,

“Geribatiba existia florescente em 1556, assim como Ibirapuera, futura Santo Amaro, “que nesse ano se estabeleceu” 

 Portanto, baseado nesse autor podemos dizer que Santo Amaro nasceu em 1556. Neste ano, os jesuítas da Capitania de São Vicente estavam repartidos entre São Paulo, (Piratininga), Geribatiba e São Vicente. 

 O então irmão, José de Anchieta, em carta de 20/03/1555 afirma: “Até agora sempre tenho estado em Piratininga, que é a primeira aldeia de índios, que está a dez léguas do mar, como em outras cartas tenho escrito”. 

Em 1557 o padre Manuel de Nobrega pede a Martim Afonso de Souza, terra às margens do rio Piratininga, para o sustento do colégio. Em 26/05/1560 o padre Luiz da Grã propõe a troca dessa sesmaria, por duas léguas de terras no caminho de Borda do Campo para Geribatiba.

 A capela de Santo Amaro, feita de taipa de pilão, provavelmente foi fundada em 1560 por Martim Rodrigues Tenório e sua esposa Susana Rodrigues, mãe de Susana Rodrigues que se casou, anos depois, com o viúvo João Paes. Portanto, não foi o casal João Paes e Susana Rodrigues que nessa época, doaram a estátua de Santo Amaro. João Paes até 1615, ano do falecimento de Luiza da Gama, estava casado com sua primeira esposa. 

Santo Amaro, notável por ter sua capela no século XVI, segunda de São Paulo, também se distingue por ter criado o primeiro engenho de ferro do Brasil em 1607, graças à existência de minério de ferro na região.

 Martim Rodrigues Tenório escreveu em seu livro de apontamentos que o engenho começou a moer o ferro (funcionar) no dia 16/08/1607 com o nome de Nossa Senhora da Assunção, cujo dia havia sido comemorado em 15 de agosto.

ELEVAÇÃO DO BAIRRO À FREGUESIA

 Graças aos pedidos dos habitantes da região, que estavam na banda esquerda do rio, o bispo do Rio de Janeiro D. José de Barros Alarcão, elevou a capela de Santo Amaro e várias outras em capela curada, isto é, com um padre (cura).

 A criação da paróquia de Santo Amaro em 1686 resultou na criação da Freguesia de Santo Amaro e em se delimitar o espaço, para se saber quais eram os habitantes que deveriam pertencer àquela paróquia. Esse espaço delimitado, modificado posteriormente, seria o futuro Município de Santo Amaro.

 O texto do Bispo é o seguinte: “Provisão para ser capela Curada e criada de novo a Igreja do Bairro de Santo Amaro, sita em Birapuera distrito desta Vila de São Paulo, Capelão curado dela o Reverendo Padre João de Pontes”.

SUBSTITUIÇÃO E DESLOCAMENTO DA CAPELA

 

 


Figura 1Catedral de Santo Amaro -Google. 

 A capela curada foi substituída, em 1729, por outra do lado direito do rio, onde se encontrava a maior parte da população. Os habitantes, com  autorização diocesana levantaram uma outra igreja de taipa de pilão, de terra crua, como se usava no Planalto, com nave forrada, nas vizinhanças do atual largo 13 de maio, inaugurada em 24/12/1730 por João de Pontes, convidado especial para a ocasião.

Figura 2Pe.João de Pontes - J.Peralta

 O padre João de Pontes, em 26 de agosto de 1731, benzeu o Adro da Igreja para o cemitério, pois ainda não havia cemitério público. Só a partir de 1857 os enterros começaram a ser feitos no cemitério público municipal.

 A história de Santo Amaro caminhou paralelamente à história da Igreja. Em 30/04/1801 Dom João VI elevou a Igreja de Santo Amaro a Paróquia Colativa. A Fazenda Real passava a pagar o padre.

 As igrejas paroquiais, no período monárquico, tinham função religiosa, social e administrativa. Elas eram responsáveis pelos registros civis, nascimentos, casamentos e mortes, devido à união entre igreja e estado. Muitos enterros foram realizados dentro da igreja.

 Em 1766, o Morgado de Mateus, D. Luís Antônio de Souza, governador da Capitania informava que Santo Amaro tinha 377 fogos, 880 mulheres e 890 homens. 

 Em 1821 a paróquia realizou o recenseamento que revelou a existência de 760 (fogos) lares.

 Alguns anos depois, em 1829, Santo Amaro recebeu várias famílias de colonos estrangeiros, criando-se assim a Colônia Alemã de Santo Amaro. 

ELEVAÇÃO DE SANTO AMARO À VILA

 

 O primeiro passo para a instalação da Vila foi a eleição dos edis. A reunião para a eleição de vereadores da nascente vila de Santo Amaro, criada pela regência, através do Decreto de 16/06/1832, foi realizada na igreja no dia 07/04/1833.

 As sessões da Câmara desde 1833 até 1870 foram realizadas na igreja.

Em 1836 Santo Amaro possuía 5.471 habitantes.

 Com a elevação da Freguesia de Santo Amaro à Município, uma série de investimentos foram feitos, principalmente a partir da segunda metade do século XIX, como o mercado municipal, o cemitério público, a escola pública, o matadouro, o jardim público, o prédio da Prefeitura e Câmara e inauguração da Santa Casa da Misericórdia; deu-se ainda o surgimento do primeiro jornal.

 Um grande acontecimento ocorrido em Santo Amaro foi a visita do casal real, o imperador D. Pedro II e a imperatriz Tereza Cristina em 14/11/1886. Nessa época Santo Amaro contava com 6.259 habitantes; os estrangeiros eram 23 italianos, 11 portugueses, 32 alemães e 15 africanos, 75 filhos de mulher escrava (livres) e 57 escravos. 

 No século XX, em Santo Amaro foi inaugurado o Grupo Escolar, (1910), o novo prédio da Igreja Matriz, (1924) , o Conservatório Musical (1931) e o novo edifício da Prefeitura (1929).

 Para abrilhantar essa nova cidade surgiu o multiplico artesão do pincel, das pedras e concreto, do bronze e do mosaico, Júlio Guerra, que semeou suas obras por Santo Amaro, por São Paulo e pelo mundo.

 O município cresceu, se desenvolveu e viveu independente de São Paulo por mais de cem anos. 

PERDA DA AUTONOMIA DO MUNICÍPIO

 Em 1935 Santo Amaro perdeu sua autonomia tornando-se uma subprefeitura vinculada ao município de São Paulo. 

 Desde 1877 o território do município de Santo Amaro começou a ser reduzido, devido a perda de Itapecerica, elevada a vila nesse ano e a perda de M’Boi (Embu).

Santo Amaro que, como município possuía 640 km2, hoje como subprefeitura, possui 37,5km2 e engloba três distritos: Santo Amaro, Campo Belo e Campo Grande.

 O primeiro subprefeito, nomeado pelo prefeito de São Paulo, Américo de Carvalho Ramos tomou posse em 02/03/1935.

 A primeira sede da subprefeitura de Santo Amaro foi no prédio da extinta prefeitura de Santo Amaro, “casa amarela”, atual Paço Cultural Júlio Guerra.

 Após 1935, o antigo município de Santo Amaro passou por várias denominações administrativas: inicialmente subprefeitura, a partir de 1973, administração regional, em 2002 subprefeitura novamente, em 2017 prefeitura regional e atualmente subprefeitura. 

ALGUMAS DATAS SIGNIFICATIVAS PARA SANTO AMARO

 

  • 1500

Chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil

  • 1530

Chegada de Martim Afonso de Souza em São Vicente

  • 1554

Fundação da cidade de São Paulo

  • 1556 

Estabelecimento de Ibirapuera, segundo Serafim Leite

  • 1560

12/08 – Pe. Luiz da Grã tomou posse da sesmaria de Geribatiba ?

  • 1607

16/08 – Criação do Engenho de Ferro de Geribatiba

  • 1686

14/01 – A pequena Capela é alçada a Capela Curada, nomeado oprimeiro padre, João de Pontes e o bairro elevado a Freguesia, pelo bispo Dom José de Barros Alarcão.

  • 1730

A igreja foi benzida em 24/12 pelo padre convidado João de Pontes

  • 1737

A Ordem regia nº 212 faz registro de um mandado dos oficiais da Câmara para fazer um caminho de São Paulo a Santo Amaro.

  • 1801

Dom João VI elevou a Igreja de Santo Amaro à Paróquia Colativa. A Fazenda Real passava a pagar o sustento do padre.

  • 1829

Chegaram os colonos estrangeiros em Santo Amaro. Foi criada a primeira colônia estrangeira no Brasil.

  • 1832

Santo Amaro passou a ser um Município independente pelo Decreto da Regência de 10/07/1832.

  • 1833

No dia 06/05/1833 ocorreu a primeira sessão da Câmara Municipal de Santo Amaro, reunida, em uma sala da Igreja, com a presença de 7 vereadores e os suplentes.

  • 1835

Foi criado o cargo de Prefeito pela Lei de 11/04/1835, e os Corpos Militares da Guarda Nacional.

  • 1835

04/05 – foi nomeado o primeiro prefeito – capitão Manoel José de Moraes – Empossado em 13/10/1835.

  • 1838

O cargo de prefeito foi extinto.

  • 1842

Inauguração da escola pública de Santo Amaro

  • 1857

05/01/1857 – Inauguração do Cemitério Público de Santo Amaro.

  • 1868

Publicação do primeiro jornal – “O Jornal de Santo Amaro”.

  • 1885

Inauguração da iluminação a querosene, em 1907 a iluminação das ruas passou a ser a gás acetileno.

  • 1886

16/11/1886 – Santo Amaro recebe a visita de D. Pedro II e Dona Tereza Cristina.

  • 1894

Inauguração do mercado – atual Casa de Cultura Manoel Mendonça

  • 1896

Inauguração do Jardim Público – Praça Floriano Peixoto.

  • 1899

Inauguração da Santa Casa de Misericórdia – 8/12/1899

  • 1910

Inauguração do prédio do Grupo Escolar de Santo Amaro, posteriormente denominado Grupo Escolar Paulo Eiró.

  • 1924

reinauguração da Matriz reformada e ampliada.

  • 1924

Fundação do jornal “O Pharol”.

  • 1931

Fundação do Conservatório Musical de Santo Amaro

  • 1935

Pelo Decreto 6983, de 22 de fevereiro, o município de Santo Amaro foi anexado à cidade de São Paulo

 

Transcrição do Decreto no 6.983 de 22 de fevereiro de 1935 que extingue o município de Santo Amaro, cujo território passa a fazer parte do município da Capital.

  O Doutor Armando de Salles Oliveira, Interventor Federal no Estado de São Paulo, usando das atribuições que lhe são conferidas pelo decreto federal nº 19398 de 11 de novembro de 1930;

Considerado que, dentro do plano geral de urbanismo da cidade de São Paulo, o município de Santo Amaro está destinado a constituir um dos seus mais atraentes centros de recreio;

Considerando que para a organização desse plano, o Estado tem que auxiliar, diretamente ou por ato da Prefeitura, as finanças de Santo Amaro, tanto que desde já declara extinta sua responsabilidade para com o Tesouro do Estado, proveniente do contrato de 18 de julho de 1931, e que muito onera o seu orçamento e dificulta a sua expansão econômica e cultural; 

Considerando que, liquidada essa dívida, todas as suas rendas poderão ser aplicadas no seu próprio desenvolvimento;

Considerando, ainda, que o Estado de São Paulo não só dispõe a incrementar, em Santo Amaro, a construção de hotéis e estabelecimentos balneários que permitam o funcionamento de cassinos, como também já destinou verba para melhorar as estradas de rodagem que servem àquela localidade, facilitando-lhe todos os meios de comunicação, rápida e eficiente com o centro urbano;

Decreta:

  • Art. 1º - Fica extinto o município de Santo Amaro, cujo território passará a fazer parte do município da Capital, constituindo uma subprefeitura, diretamente subordinada à Prefeitura de São Paulo.
  • Art. 2º - O subprefeito será nomeado pelo Prefeito da Capital com os vencimentos anuais de 24.000$000 (vinte e quatro contos de réis);
  • Art. 3º - Serão mantidos os direitos dos atuais funcionários da Prefeitura de Santo Amaro, que poderão servir na subprefeitura ora criada, ou ser

aproveitados na Prefeitura da Capital;

  • Art. 4º - Fica o Tesouro no Estado autorizado a cancelar o adiantamento de 500.000$000 (quinhentos contos de réis); atualmente acrescidos dos juros de 124:658$600, e que foi feito ao município de Santo Amaro em virtude do contrato de 18 de julho de 1931, abrindo-se para esse fim o necessário crédito.
  • Art. 5º - Este decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

Palácio do Governo do Estado de São Paulo, aos 22 de fevereiro de 1935.

ARMANDO DE SALLES OLIVEIRA

Valdomiro Silveira

Francisco Machado de Campos

Publicado na Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça, em 22 de fevereiro de 1935.

EIXO HISTÓRICO DE SANTO AMARO, PRAÇA FLORIANO PEIXOTO

 Largo do Rosário; Largo Nossa Senhora do Rosário; Largo da Cadeia; Largo Municipal e finalmente, Praça Floriano Peixoto foram os nomes que identificaram um dos locais de maior importância para a população da antiga Vila de Santo Amaro, depois Cidade de Santo Amaro e atual bairro de Santo Amaro. Ela abrigou a Cadeia Pública, a Câmara Municipal, o Coreto com as apresentações da Banda Musical de Santo Amaro e, é claro, o footing do fim de semana.

 Em 1837, a Câmara Municipal aprovou um imposto de quinhentos réis ao ano para a construção da cadeia pública, que estava em um prédio alugado e em péssimas condições, quase em ruínas. Nesse período o local era conhecido como o largo da cadeia. Em 9 de julho de 1888, o Largo da Cadeia muda de nome para o Largo Municipal, cinco anos após a Proclamação da República, no dia 26 de maio de 1894, em sessão pública, o Largo Municipal passa a se chamar Praça Floriano Peixoto, em homenagem ao Marechal Floriano Peixoto, por sua atuação durante a Revolta da Armada e restabelecimento da ordem pública no Rio Grande do Sul, ambos os episódios resolvidos com as mãos de ferro. Já em 1986 ocorre a remodelação da Praça Floriano Peixoto, como jardim público do Tenente Coronel Carlos da Silva Araújo, presidente da Câmara Municipal de Santo Amaro, ficando o ajardinamento muito parecido com o que temos hoje, exceção aos trabalhos em topiaria (modelagem de arbustos), prática muito comum na época.

LARGO 13 DE MAIO

 

 No centro do bairro, privilegiado por abrigar a Igreja Matriz, o Largo 13 de Maio está presente na história do bairro com diferentes denominações desde a sua fundação. O “Largo do Jogo da Bola”, que ficava logo atrás da Igreja, correspondia aproximadamente ao espaço que se chamou de Largo 13 de Maio.

 Neste período, Santo Amaro era a Vila de Santo Amaro, elevada a município em 1832. Em 21 de fevereiro de 1885, a Câmara da cidade mudou a denominação de Largo da Bola para Largo Tenente Adolpho, devido à antiga localização da loja do seu Adolpho.

 Referimo-nos ao Adolpho Pinheiro, que dá nome à Avenida, o qual residiu em Santo Amaro, desde 1841, até o seu falecimento, em 1880. Promulgada a lei que abolia a escravatura (Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel em (13 de maio de 1888), após festividade no município, a Câmara aprova a mudança da denominação do largo para “Largo 13 de Maio”, no dia de 9 de junho de 1888. 

 Ao completar o centenário do Município de Santo Amaro (1932), o “Largo 13 de Maio” já se delineava como centro comercial e ponto obrigatório de passagem para outras localidades.

ANTIGO MERCADO VELHO DE SANTO AMARO – Hoje Casa de Cultura Manoel Cardoso de Mendonça

 Figura 3 Antigo Mercado Velho - J.Peralta

 

 Logo após a elevação da Freguesia de Santo Amaro a Vila (1832), na oitava Sessão da Câmara Municipal foi pedido para se edificar a cadeia, casa da Câmara, cemitério, curral, açougues e casinhas. Essas casinhas, que na forma primitiva de edificações substituíram o Mercado, não chegaram a existir, ou não foram encontradas referências à sua construção. A economia da Vila de Santo Amaro, conforme menciona Azevedo Marques, era caracterizada pela lavoura de cereais e outros produtos: “a lavoura deste Município é de cereais com que abastece o Município da Capital, assim como exporta madeira, carvão, pedra de cantaria e fabrica algum vinho”. Essas atividades justificaram a instalação de uma linha de trem a vapor, em 1886. Há também a necessidade de regularizar e controlar a venda destes gêneros e, em 1890, fica registrada a necessidade de construir um mercado logo que os recursos financeiros permitam.

 Em 1893, Carlos da Silva Araújo na sessão de sua posse na Câmara Municipal afirma que a falta de mercado nesta Vila torna-se vexatória aos seus habitantes, mormente a classe menos favorecida da fortuna. Considerando que desta falta resulta o monopólio dos gêneros de primeira necessidade, que são vendidos pelos produtores aos comerciantes, por atacado, com grave prejuízo ao varejo franco ao povo, insiste na construção de um Mercado Popular na Vila de Santo Amaro. Não sendo possível a construção imediata desse mercado, foi criado o Mercado Provisório, que passou a funcionar em um barracão, no Largo Municipal, regulamentando assim as tabelas de preços e impostos sobre os gêneros. 

 Entre a criação do mercado provisório e a construção do mercado oficial passaram 3 anos, período em que a região sofreu o decrescimento da população devido ao surto de varíola e a diminuição de impostos sobre a indústria. Felizmente os impostos do mercado continuam crescendo, tornando o mercado uma verdadeira renda municipal. O mercado passa a ser um entreposto de vendas, sediando encontros de tropeiros que realizam a troca de produtos agrícolas com os manufaturados. Conforme consta de um recibo de 23/05/1897, a inauguração do Mercado de Santo Amaro deu-se nesta data com grande foguetório. “Havia no centro do quadro interior um pátio coberto para receber as águas (...) todo cimentado” com um poço ao centro e um corredor em toda a volta do pátio”. 

 Com a reforma realizada no edifício, em 1903, ergue-se mais uma cúpula e dois puxados laterais, os quais darão a forma oitavada atual do prédio.

Em 1954, foi firmado contrato para a construção de um novo mercado em Santo Amaro. Localizado na Rua General Ozório (atual Rua Ministro José G.R. Alckmin) com a Rua Padre José de Anchieta, o novo mercado foi inaugurado em 13 de novembro de 1958. Após ter passado por uma reforma total, devido ao incêndio sofrido pelo prédio, o novo mercado permanece funcionando até nossos dias.

ALGUMAS FIGURAS ILUSTRES

 

PAULO EIRÓ

 

Figura 4. Busto Paulo Eiró - Júlio Guerra - ft.J.Peralta

  Paulo Francisco Emílio de Salles, o poeta Paulo Eiró, era filho de Francisco Antonio das Chagas, professor e primeiro Presidente da Câmara de Santo Amaro e de Maria Angélica.

 Aos 11 anos Paulo Eiró se apaixonou pela prima Cherubina Angélica de Salles, que foi sua musa por toda a vida. Paulo já lia em francês e aos 12 anos escreveu junto com o pai: Taboas Chronológicas.

 Aos 19 anos formou-se pela Escola Normal de São Paulo e foi nomeado professor em Santo Amaro, exercendo o magistério por oito anos, com intervalos.

 Nos primeiros anos de magistério a vida de Paulo Eiró foi tomada de uma verdadeira febre pela poesia. Não conseguia disfarçar a paixão que sentia pela prima, mas a esperança de conquistá-la acabou, pois a moça estava de casamento marcado. Ele começou a ficar absorto nas aulas e, à noite, os santamarenses viam-no a caminhar pela Vila, o olhar perdido no chão. Começaram, então, os passeios pelos lugares próximos nos quais gastava o dia inteiro, sem se alimentar. Apesar da preocupação da mãe, ele sentia o enfadamento de tudo, somente uma esperança o animava: entrar na Faculdade de Direito. Entrou para faculdade, licenciando-se na Escola Primária da Vila e transferindo sua residência para São Paulo.

 Ficou conhecido como um poeta admirável e até algumas das suas poesias eram faladas nas arcadas acadêmicas da atual São Francisco. As esquisitices anteriores da época da Vila, que haviam desaparecido no início do período da faculdade, retornavam de uma hora para outra. Queria sempre ir para casa, se fechava no quarto e não se alimentava. Às vezes seguiam-se dias de entusiasmo e bastante estudo até a próxima crise. A família, preocupada, trouxe-o para Santo Amaro. Dessa vez a próxima esquisitice foi mística. Inflamou-se no desejo de matricular-se no seminário e não aceitava conselhos para remover tal ideia.

 O pai, que já tinha outro filho ordenado padre, até que não achou má ideia, e acompanhou-o ao Seminário Episcopal no Bairro da Luz. Paulo Eiró, contava com 23 anos e era considerado pelos colegas do seminário como velho. Com o seu humor novamente em crise, andava pelo quarto ou então espalhava pelo Seminário suas poesias tristes e abolicionistas, motivo pelo qual foi aconselhado a voltar a Santo Amaro e a seu pai foi sugerido que destruísse os cadernos com suas poesias, o que foi feito pelo professor Francisco das Chagas.

 Sua próxima esquisitice foi a viagem a Mariana/MG. Da viagem, a família pouco teve notícia, exceto que, pelo caminho, pernoitou na casa de parentes e amigos. Mas sabe-se que ele não conseguiu chegar a Mariana. Como a viagem foi feita a pé, durante meses não se teve notícias dele. Vamos reencontrá-lo, voltando sem a bagagem, tendo no bolso apenas um livro gasto de anotações. Ao entrar em São Paulo, sente uma movimentação nas proximidades da Praça da Sé, então resolve ir até lá. Com aguda curiosidade entra na igreja. Era um casamento. Ao reconhecer a noiva, vê que é sua musa. A mulher que ele tanto amou agora casava-se e estava perdida para sempre. Novamente se põe a pé a caminho para voltar para Santo Amaro, quando compõe a poesia:

Fatalidade

Que vista! O sangue se afervora e escalda! Por impulso fatal fui hoje à igreja?

Quer meu destino que, ao entrar, lá veja

Noiva gentil de Cândia grinalda.

Nos olhos sem iguais, cor de esmeralda,

Lume de estrelas, plácido lampeja:

Seu branco seio de ventura arqueja;

Louros os cabelos rolam-lhe da espalda.

Hora de perdição! Sim adorei-a;

Não tive horror, não tive sequer medo

De cobiçar uma mulher alheia.

Unem as mãos, o órgão reboa ledo;

Em alvas espirai, o incenso ondeia...

E eu só, longe do altar, choro em segredo!

 

 Voltando a morar na Chácara, Paulo Eiró, se dedica a escrever e faz também viagens a Tatuí, Sorocaba e proximidades. Passa o tempo e encontra-se envolvido numa viagem ao Rio de Janeiro através do Porto de Santos, onde chegou a pé. Da viagem à Corte, sem dinheiro, novamente não ficaram registros, mas sabe-se que a convivência intelectual era pura emoção. Naquela época, pelo Rio de Janeiro, circulavam Machado de Assis, Bernardo Guimarães, José de Alencar, entre outros. Na volta para a Chácara, dedicando-se à poesia, foi convidado pela Comissão dos Festejos pelos 36 anos de S. M. Imperial D. Pedro II, para ceder os originais do drama Sangue Limpo que seria representado em São Paulo. Paulo Eiró participou da montagem e marcação das cenas, entusiasmado nos ensaios em São Paulo, sua alegria era tamanha. Novamente Paulo Eiró estampava no rosto a felicidade e junto ao grupo de artistas renomados da época ele reencontra a lucidez.

 O dia 2 de dezembro de 1861(dia das comemorações) começou com paradas militares, missa na igreja da Sé e, à noite, no teatro São Paulo, localizado no Pátio do Colégio, foi encenado o espetáculo com a presença dos figurões do Governo, estudantes e muitos moradores de São Paulo. 

 Apesar da emoção presente em Paulo Eiró, as críticas dos jornais não foram favoráveis. Ao lê-las com decepção, novamente retornaram suas crises. Nos dois anos seguintes Paulo Eiró, dedica-se, em meio a crises, a dar aulas na escola primária em Santo Amaro, mas as alternâncias de sua demência obrigaram os familiares a pedirem seu afastamento. As viagens ficavam cada vez mais frequentes, ele ia a São Paulo e ao Rio de Janeiro. Havia períodos em que não se tinha notícias dele. Sem noção do tempo, retornava à Chácara. Sua saúde estava cada vez mais precária e a família criou o hábito de deixar o portão fechado, para que não fugisse. Mas um domingo pela manhã, ele encontrou o portão aberto, atravessou a Vila e entrou na Igreja de Santo Amaro. Era hora da missa e todos estavam presentes. Sem que sua família notasse, começou a interferir no que o padre falava. Todos ficam pasmos ao ver sua ousadia de falar durante a Santa Missa. Seu pai leva-o de volta para casa, mas só toma consciência que era hora de interná-lo quando ele quebra um crucifixo. Em maio de 1866, Paulo Eiró, aos 31 anos, foi internado no Hospício dos Alienados que se localizava na Várzea do Carmo, na rua Tabatinguera em São Paulo. Durante 5 anos ele definha, entre crises de demência e lucidez. Mas sua família também foi se acabando. Seu pai morreu, em 1867 e sua escrava Ana, em 1869. No dia 27 de junho de 1871, faleceu Paulo Emílio de Salles, o poeta Paulo Eiró, no Hospício dos Alienados, de meningite, aos 36 anos de idade.

BORBA GATO: 


 

Figura 5 Estátua Borba Gato - J.Peralta

 

 Manoel de Borba Gato, filho da brasileira Sebastiana Rodrigues Paes e do açoriano João de Borba Gato, nasceu em Santo Amaro em 1649.

Sua avó materna Susana Rodrigues, brasileira, casada com João Paes, nasceu em 1597/8. Sua bisavó Susana Rodrigues foi casada com Martim Rodrigues Tenório (Aguilar). Portanto Manoel de Borba Gato é brasileiro. Casou-se com Maria Leite, filha de Fernão Dias Paes. Teve 03 filhas: Mariana Leite, Maria Leite e Joana Leite de Borba. Em 1674, ainda jovem, deixou a esposa e as filhas e partiu com seu sogro, em bandeira, com destino a Sabarabuçú– região mítica de prata, esmeraldas e ouro. Era a primeira vez que Borba Gato se aventurava, com centenas de outras pessoas, parentes, amigos, índios, mamelucos e vários foragidos da lei, sob a liderança de Fernão Dias.

 O gigantesco contingente partiu em 3 etapas: o primeiro grupo deixou Santo Amaro em 1673, o segundo no início de 1674 e o terceiro em 21 de julho de 1674. Este último sob a chefia de Fernão Dias. A primeira parada da bandeira foi no atual bairro da Penha de França. Na igreja oraram pedindo a proteção de Nossa Sra. Da Penha. Depois seguiram em frente durante muitos dias, cerca de 70 dias.

 Ao longo do caminho percorrido pela bandeira surgiram bairros, vilas e futuras cidades. No decorrer dos dias o número de componentes da bandeira diminuía cada vez mais. Muitos morriam, outros debandavam e voltavam para São Paulo. O governador das esmeraldas não retrocedeu nem com a desistência de chefes importantes. Ficou praticamente sozinho, continuaram com ele seu filho Garcia Rodrigues, Borba Gato, seus índios e alguns familiares.

 Fernão Dias montou um arraial próximo a serra de Sabarabuçú. Enviou Borba Gato para Guacuí, origem da cidade de Sabará. 

 Em 1681 morreu Fernão Dias vitimado pelas febres palustres (malária) próximo ao rio Jequitinhonha. Estava praticamente só. Muitos tinham desistido, inclusive um outro genro. O filho, Garcia Rodrigues, após a morte de Fernão Dias, cuidou dos restos mortais do pai e deixou o restante da bandeira. Foi encontrar-se com um enviado do Rei de Portugal e entregou a ele os bens e os alimentos que pertenciam à bandeira.

 Borba Gato não concordou com o pedido de D. Rodrigo de Castel Blanco, não lhe entregando os alimentos e demais bens, enfrentando-o com alguns membros da restante bandeira que haviam ficado sob sua chefia.   Houve alguns tiros, ninguém sabe quantos. Uns dizem que foram três, inclusive citam o nome dos pajens de Borba (Códice Costa Matoso, fl.23, p.187), o fato ocorreu em 28 de agosto de 1682. 

 O governador do Rio de Janeiro, em carta de 25/11/1682 conta ao rei de     Portugal que em 28/0/1682 mataram a D. Rodrigo de Castel Blanco, administrador das Minas, indo marchando por uma estrada lhe deram três tiros do mato, e logo caíra morto e que ainda não se sabia quem eram os matadores. (13)

 Borba Gato e os membros restantes da bandeira refugiaram-se nas matas por alguns anos, posteriormente, Borba Gato se encontra com o governador que o perdoa e o indica para algumas atividades.

 Em 15/10/1698 Artur de Sá e Menezes nomeia Borba Gato Tenente General da Jornada de Sabarabuçú, em 1700 Guarda Mór da Repartição do Rio das Velhas, 1702 superintendente das Minas do Distrito de Rio das Velhas. Em 1700 Borba Gato vindo a São Paulo entrega algum ouro para o governador, volta depois levando sua esposa, e os genros Francisco de Arruda e Sá e Jerônimo Tavares de Arruda, maridos de Mariana e de Maria. Ambos os genros e as filhas de Borba Gato foram para Portugal. A filha, Joana, morreu em Minas Gerais, mas seu marido Francisco Duarte Meirelles levou seus filhos e filhas para Portugal.

 Em Sabará, Borba Gato foi Juiz Ordinário da Vila Real de Sabará. Ocupou ainda outros cargos. Borba Gato é considerado o primeiro povoador e minerador do Rio das Velhas. O fato é confirmado pela carta de sesmaria passada à irmandade de Santo Antônio do Bom Retiro, da matriz de Roça Grande, por Antonio Coelho de Carvalho, em 07/02/1711.

 Não se sabe ao certo onde Borba Gato foi enterrado. Várias são as hipóteses. Faleceu, segundo o historiador em 1734 “... de idade de 90 anos para cima, no ano de 1734”.

 A historiadora MOURÃO, 2008, p.78 apud PERALTA, 2025, p.67 afirma que Borba Gato faleceu entre 1734 e 1738.

 Em Santo Amaro, o escultor Júlio Guerra construiu uma grande estátua de Borba Gato, situada na avenida Santo Amaro. Em Sabará também existe uma escultura de Borba Gato, na entrada da cidade.

 

JÚLIO GUERRA:


 Figura 6 Júlio Guerra - Google

 O gênio dos pincéis, dos cinzéis, do barro, das pedras, do bronze e do concreto, o santamarense Júlio Guerra é um personagem que engrandece Santo Amaro. Nascido em 21/01/1912 e falecido em 21/01/2001, com 89 anos enriqueceu praças, ruas e o cemitério de Santo Amaro com suas preciosas obras. 

 Filho de Narciso Guerra e Maria Fenucci Guerra, residiu na Rua Palha, atual Paulo Eiró e na Av. João Dias, nº 750/754, casa essa tombada em 2014 pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico (CONPRESP)

 Desde jovem, frequentando o bar de seu pai, começou a trabalhar o barro, material disponível nas margens do rio Jurubatuba.

Casou-se com Benedita Hessel em 19 de maio de 1938. Viajou para a Europa e retornou ao Brasil. 

 É autor de centenas de obras espalhadas por São Paulo, outros estados e vários países. No Museu de Arte Contemporânea de Figueira da Foz/Portugal, existe uma escultura denominada “Mulher com Criança".

 Em Santo Amaro, no Centro Cultural, há uma das mais belas obras de Júlio, escultura de uma mulher, em bronze patinado, denominada Iguatinga, datada de 1949. Inicialmente estava na Praça Floriano Peixoto, num espelho d´água, próximo de uma coluna.

 Outras obras de Júlio: o Barbeiro Anédes, um painel feito de concreto armado e revestido por pedras cortadas e polidas a mão datada de 1960. Outros murais policromados feitos por Guerra: os romeiros de Pirapora e o grande Mural às Artes, homenagem a Paulo Eiró. 

 A grande escultura de Guerra é, sem dúvida, o monumento à Borba Gato. 

A estrutura da escultura, que pesa 20 toneladas, foi realizada com uma forma de gesso. Está sustentada por trilhos de ferro de trem. O gesso foi revestido com cimento e sobre ele foram colocadas pedras de mármore e granito, polidas a mão, de 5 a 6 centímetros. As pedras vieram de vários lugares: de Congonhas do Campo e Ouro Preto; de Portugal; de São Carlos e do estado do Paraná. Iniciada em 1957, só foi inaugurada em 1963.

Júlio Guerra também esculpiu esculturas funerárias para duas famílias de Santo Amaro, colocadas nos túmulos dos Schmidt e Lameira. A primeira “Jesus e Maria Madalena” data de 1937 e a segunda “Nossa Senhora e Jesus Cristo” data da década de 1950. Ambas foram esculpidas em bronze.

 O centro de São Paulo, Largo do Paissandu, também foi agraciado com uma escultura em bronze de uma mãe amamentando uma criança, denominada Mãe Preta.

 Além de outras obras, Júlio Guerra esculpiu em bronze e granito uma herma, com pedestal e busto do tenente Carlos da Silva Araújo, que se encontra na praça Floriano Peixoto.

 Deixou-nos ainda um pequeno livro, cujo título é Don Anédes Nemendes de Aragóia Y Navaja. Trata-se de uma crítica social. Na capa do livro Júlio escreveu “um livro igual a estátua de Borba Gato: também diferente”, consta ainda a data 1932.

Profª. Inez Garbuio Peralta (inezgperalta@gmail.com).