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Na região de Ermelino Matarazzo, zona leste, os futuros pais também fazem pré-natal. Preocupadas em envolver os homens no processo de gestação e nascimento, as equipes de saúde da área oferecem exames, acompanhamento e orientações, com o objetivo de estreitar os laços de paternidade e de prevenir os bebês de doenças como sífilis e HIV.

A exemplo do atendimento de pré-natal realizado em toda rede municipal de saúde, após o teste positivo de gravidez, a gestanteatendida em uma das 12 unidades básicas de saúde (UBSs) de Ermelino Matarazzo é cadastrada, realiza exames laboratoriais e de imagem, recebe orientações e passa por consultas médicas, mas com uma novidade: as unidades oferecem um convite especial para que o pai participe ativamente dos cuidados com a gestação.

No pré-natal do pai, são realizados exames de sangue de sorologia para HIV, sífilis, hepatite B e C e também avaliação da saúde bucal. Os homens participam de aconselhamento individual e das atividades de orientação sobre o processo de gravidez e sobre os cuidados com o recém-nascido. Outra iniciativa é que são convidados a acompanhar as consultas de rotina da gestante.

Para cuidar da própria saúde, os futuros pais têm acesso a vacinas e exames, como por exemplo para medição das taxas de colesterol e triglicérides. “É uma porta de entrada. Eles se sentem mais à vontade para acompanhar a mulher, sentem que têm um papel e que fazem parte da gestação. É uma experiência positiva, eles participam bastante e têm curiosidade”, disse a médica Dora Patrícia Ramires Angarita, que atua no projeto na UBS Pedro de Souza Campos, uma das unidades de Ermelino Matarazzo que desenvolve o projeto. Para a médica, um dos efeitos é criar um compartilhamento de responsabilidades. “A responsabilidade não fica só para a mãe, porque o bebê é dos dois. Ele vê que pode ajudar a cuidar e até na hora de amamentar”, afirmou.

Na região de Ermelino Matarazzo, cerca de 30% dos companheiros de gestantes aderiram ao programa. No ano passado 452 futuros papais realizaram os exames indicados pelo projeto. Segundo as equipes de saúde, há duas questões culturais envolvidas: em geral, os homens não procuram as unidades por não se considerarem vulneráveis a doenças e, além disso, há o medo de realizar as sorologias para detecção de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs).

O trabalho de convencimento envolve todos os profissionais da unidade. “Tem algumas dificuldades, o marido trabalha, não tem tempo. Eles ficam apreensivos no começo. Mas a gente facilita o agendamento e a coleta do exame. Temos registrado na ficha da gestante se os exames do pai já foram feitos e vamos insistindo para que ele participe. A mulher quer que ele venha, então também ajuda a convencer”, afirmou a enfermeira Eliete Bergamo.

Um dos benefícios dos exames de pré-natal do homem é a prevenção da transmissão de DSTs do pai para a mãe, e desta para o bebê, com a redução do contágio do vírus HIV e de casos de sífilis congênita. Quando o casal não é tratado corretamente, a sífilis pode provocar aborto, má formação do feto, morte ao nascer e sequelas como cegueira, surdez e deficiência mental. De acordo com as características de cada casal e das condições de saúde do bebê, ocorre o encaminhamento a uma unidade especializada em DST/ Aids, inclusive após o nascimento.

Laços

Além da prevenção de doenças, as atividades de orientação e a possibilidade de acompanhar o atendimento de pré-natal da mulher ajudam a desenvolver laços afetivos mais intensos do pai com o bebê, o que pode reduzir situações como abandono e violência doméstica. “Um dos momentos de mais emoção é quando eles vão à consulta e escutam o coração do bebê. Muitos até choram. É uma oportunidade importante de contato com a criança”, explica a gestora da UBS Pedro de Souza Campos, Cristiane Pereira Raimundo.

Na unidade, os encontros para orientação acontecem mensalmente e têm duração de cerca de duas horas. Neles, as gestantes e os parceiros aprendem mais sobre o processo da gravidez, sobre o pré-natal e os cuidados de saúde necessários. Entre os temas estão nutrição, meio ambiente, saúde bucal, amamentação e higiene do bebê. Ao final das atividades, é sorteado um presente: uma cesta com fraldas, sabonete, xampu e outros produtos infantis.

“Eu achei bacana, principalmente para quem é mãe de primeira viagem. Quando o exame de gravidez deu positivo, já fizeram todos os pedidos de exames, o cadastro no Mãe Paulistana, marcaram a consulta e o ultrassom. Mas não sabia que ele tinha que também que fazer os exames. Surpreendeu”, disse Aline Novaes de Santana, 24 anos, que está na sexta semana de gravidez. Ela e o marido, Wagner Novaes de Santana, 21 anos, participaram nesta segunda-feira (3) com outros três casais e duas gestantes do primeiro encontro para orientações.

Para Aline, poder convidar o marido para acompanhar é uma chance de aproximar ele da vivência da gravidez. “Para eles é complicado entender o que está acontecendo, então tem bastante informação, coisas que eu também não sabia”. O futuro papai aprovou o pré-natal masculino. “Achei legal. Os homens têm que ter consciência de como funciona a gravidez, de saber como agir. Por exemplo, o humor dela muda, aí o meu acaba mudando também. Quero estar ao lado dela, vou acompanhar nos exames e nas consultas”, disse Wagner.

Implantação

O projeto começou a ser implantado em 2010, como um piloto na UBS Jd. Três Marias. Nasceu de um envolvimento das equipes de saúde da região na prevenção da transmissão de doenças sexualmente transmissíveis, principalmente Aids. A partir das experiências desenvolvidas no bairro, está em fase de implementação nas outras regiões da Capital. A adoção do pré-natal do pai é também uma recomendação da Política Nacional de Saúde do Homem, do Ministério da Saúde.

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Crédito: César Ogata / SECOM

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